Felipe Sant’Ana: aumente o valor de seus bitcoins — a diferença entre investimento de risco e filantropia especulativa
Não é pegadinha: existe uma fórmula certeira para aumentar o valor dos seus bitcoins. Não envolve enviá-los pra ninguém. Não exige conhecimento técnico. Não precisa de termos gringos pra explicar.
Entender a fórmula só requer que você dê um passo atrás e veja de onde vem o valor dos seus bitcoins.
? Big Bang monetário
Seus bitcoins não valeriam nada se não fosse por Laszlo Hanyecz, e pelas duas pizzas que ele comprou pela internet.
O personagem húngaro entrou pra História com a 1ª transação de um bem consumível por BTC. É frequentemente zombado pela quantia que gastou (10 mil BTC — algumas dezenas de milhões de dólares, a valores atuais), mas pouco celebrado pelo sacrifício.
Não fosse ele — pelo menos até que outro aventureiro fizesse algo parecido —, o bitcoin não teria sofrido o “peteleco metafórico” que o empurrou ladeira abaixo na rota da monetização.
Boa parte dos gráficos de preço do bitcoin que você acompanha usam como ponto inicial o preço estipulado neste dia fatídico de maio de 2010.
? O “mais difícil” já foi
Estudiosos da história monetária nadam em teorias sobre o problema do ovo-e-da-galinha, no que tange formas de dinheiro. Uma moeda só ganha valor quando passa a ser aceita por muitas pessoas. Ela só tem apelo para ser aceita por muitas pessoas conforme carrega valor.
O paradoxo, para muitos, é tido como insuperável na ausência de uma imposição governamental. No caso do bitcoin, em um passe de mágica — num pedido de pizzas — foi ultrapassado (quem sabe não foi até Satoshi que orquestrou aquele delivery?).
De certa forma, é um milagre que o bitcoin funcione, não tanto em termos técnicos quanto em termos sociais. Você pode jogar isso na cara de qualquer esnobe que ainda se dá ao luxo de postular que “o bitcoin não tem como ser dinheiro”: ele já é.
A moeda eletrônica sem fronteiras existe como ideia há vinte, trinta ou quarenta anos. Como fenômeno econômico (dinheiro), o bitcoin existe há pouco menos de dez anos.
O que veio depois é História.
? Só uma em cada doze gerações…
…vive pra ver uma mudança na moeda tida como reserva de valor global.
Uma espiada no (clássico) gráfico a seguir ajuda a visualizar a raridade do evento:
O difícil não é exatamente criar proponentes ao topo do pódio, e sim esses proponentes sobreviverem!
MagicBucks, NexusCash e TackyTokens foram só alguns dos experimentos pré-bitcoin lançados nos anos 1990 (se hoje ainda é cedo, na época era cedo demais).
As ideias por trás da distribuição destes lançam luz sobre alguns dos principais desafios que o bitcoin já superou.
Oferecia-se as criptomoedas em troca de trabalho. Usavam-nas para apostar sobre eventos de longuíssimo prazo. Algumas funcionavam meramente como símbolo de reputação. Hoje, com o bitcoin, é possível fazer tudo isso e muito mais. Ou “se assiste” ao desenrolar da História de fora do campo.
Como Ralph Merkle já diria (se referindo mais à ciência como um todo): “a questão não é se você espera que dê certo ou errado. A questão é se você prefere fazer parte do experimento… ou somente do grupo de controle”.
“A estratégia correta do empreendedorismo bitcoiner” (Krawisz, 2014)
O crescimento de qualquer negócio que dependa do Bitcoin é limitado ultimamente pelo crescimento do próprio Bitcoin. Uma vez entendida a natureza da escassez digital, é de se esperar que pouquíssimos empreendimentos sejam capazes de gerar retornos maiores que os da própria moeda, com o decorrer do tempo. Ademais, se o bitcoin falha, o negócio vai junto — a moeda carrega menos risco que qualquer empreendimento “dependente de si”, por definição.
Portanto, empreendedores bitcoiners deveriam estar menos interessados em fazer dinheiro do que em fazer, do bitcoin, dinheiro.
É isso mesmo: o máximo que você pode fazer para ajudar o bitcoin a seguir seu caminho natural é aceitá-lo como dinheiro!
Acontece que “fazer, do bitcoin, dinheiro” é uma tarefa monumental.
? Tutorial para aumentar o valor dos seus bitcoins
O texto do Nakamoto Institute conclui com o prognóstico de que o empreendedorismo bitcoiner deve se inclinar menos para o venture capital (capital de risco) e mais para a filantropia especulativa.
Menos extrativismo, mais prova de trabalho.
A construção de uma infraestrutura financeira para rivalizar a que hoje opera sobre moedas governamentais exige um trabalho transgeracional.
Mas, na base desse esforço hercúleo, estão três princípios bem simples: aceite bitcoin, pague em bitcoin, poupe bitcoin.
A proporção “certa” na qual exercer cada um dos três é objeto de debate acalorado. Faça como lhe convir (e não confie cegamente em nenhuma proposta “extrema” – como invariavelmente poupar 100% ou gastar 100% do que tem).
Se tiver compreendido a ideia de que o Bitcoin já virou dinheiro – independentemente do que você faça ou deixe de fazer -, já é um primeiro passo. Se conseguir, em 2020, plantar a semente dessa ideia na cabeça de mais alguém, já é um segundo passo. O resto é consequência.
Você já fez muito mais do que a maioria das pessoas faz para aumentar o valor dos seus bitcoin.
GIF mostrando estabelecimentos que aceitam bitcoin, ao longo do anos.
Felipe Sant’Ana Pereira é sócio-gestor da Paradigma Capital. Já palestrou em edições passadas do DWeb Summit (Internet Archive), Web3 Summit (Web3 Foundation), Proxxima (Grupo Meio & Mensagem), Distributed SF (BTC Inc) e eventos da comunidade da Ethereum. Recentemente, começou um projeto novo, o Paradigma Education, que visa educar e prover informação, em português, para o mercado local.