Felipe Paletta: o mercado financeiro pode agir como vulcões, cuidado para não se queimar
Redescoberta entre os séculos 17 e 18, as cidades italianas de Pompéia e Herculano passaram quase 1.700 anos soterradas por uma das mais agressivas erupções vulcânicas já registradas, a do Vesúvio, no ano 79 d.C.
Andar por estas cidades, a 20 km do porto napolitano, é como ler visualmente um livro de história sem as narrativas e paixões inerente ao homem.
Nas ruas, ainda é possível visualizar as marcas das carroças sob as pedras, assim como os pedaços elevados de rocha que eram usados como faixa de pedestre – sim, as faixas listradas como conhecemos hoje remontam a esse período.
É realmente impressionante.
Mas não há nada mais marcante, para mim, do que os vestígios de cachorros, crianças e adultos petrificados:
O entendimento dos especialistas é de que a erupção do Vesúvio não projetou lava sob as cidades litorâneas, mas sim, fumaça, areia, pedras e um calor superior a 250 ºC, matando instantaneamente mais de 10% da população, que não conseguiu escapar a tempo.
O soterramento e posterior decomposição dos corpos permitiu que os arqueólogos injetassem gesso nas cavidades escavadas e trouxessem à vida, como você viu, o último suspiro dessas pessoas.
Mas a erupção do Vesúvio não aconteceu de repente.
No ano de 62 d.C., ambas as cidades foram assoladas por um forte abalo sísmico e ainda se reconstruíam quando o pesadelo de 79 veio à tona.
Lembrar dessa história me faz pensar, instintivamente, na pandemia que todos nós estamos enfrentando e nas marcas que ela deixará.
Está cada vez mais claro que o Corona veio para catalisar uma série de processos que já estavam em curso.
Os shoppings centers, por exemplo, já vinham passando por grandes transformações, com a prestação de serviços (restaurantes, cabeleireiros, cinemas, espaço de diversão etc.) ganhando cada vez mais representatividade no faturamento.
As grandes varejistas, como Magazine Luiza, Lojas Americanas e Via Varejo (dona das marcas Casas Bahia e Pontofrio) já vinham digitalizando seus negócios e transformando as megastores em grandes hubs de distribuição local.
Os hábitos mudam e quem fica parado assume mais risco pelo mesmo nível de retorno potencial.
Assim como o abalo de 62 d.C. prenunciava o inevitável, os alertas estão aí há muito tempo.
Criada em 1997, oferecendo serviço de entrega de DVD pelos correios, o Netflix entendeu os sinais no começo do século e avançou sobre o streaming enquanto Blockbuster e outras tantas acabaram soterradas pelos avanços tecnológicos.
Na Bolsa, a mesma regra é válida.
Quem for teimoso e insistir nos mesmos ativos financeiros que foram vitoriosos no passado, corre o risco de ser “surpreendido” como foram as pessoas que resistiram ao êxodo de Pompéia e Herculano.
Minha sugestão? Invista em companhias que já estavam olhando para o futuro que agora nos parece mais óbvio e nas empresas que estarão em seu entorno.
Se o varejo online crescer mesmo nessa proporção, já imaginou o tamanho da importância que ganharão os fundos imobiliários de galpões logísticos?
Pois é, isso já tem refletido nas cotas desses fundos, mas para quem está disposto a investir por 2, 3 ou mais anos, ainda vejo ótimas oportunidades. Meus favoritos na série Fundos Expert são: LVBI11 (VBI Logístico) e XPLG11 (XP Log).
É, se depois de 2 mil anos ainda consigamos ver as marcas de uma sociedade em meio ao caos, a tecnologia dos dias de hoje talvez permita que daqui a milênios pessoas vejam fotos de VHS, lojas de departamento e muitas outras coisas que nem sonhamos que irão desaparecer.
Como deixou registrado o filósofo Romano, Plínio (o Velho), antes de morrer soterrado pelo vulcão:
“O homem é o único animal que não aprende nada sem ser ensinado: não sabe falar, nem caminhar, nem comer, enfim, não sabe fazer nada no estado natural, a não ser chorar.”
A vida é dinâmica, caro(a) leitor(a). Experimente ficar parado(a)…
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Um abraço e até a próxima!