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Felipe Paletta: Impeachment, e daí?

03 maio 2020, 17:01 - atualizado em 03 maio 2020, 17:08
Sergio Moro
Segundo o colunista, as chances de um processo de impeachment contra Jair Bolsonaro seriam muito grandes – se as denúncias de Moro forem verídicas (Imagem: Agência Brasil/Marcelo Camargo)

Caro leitor,

Há exatamente uma semana, imagino que você deva ter ouvido o discurso do agora ex-Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, olhado o painel de cotações do home broker, o valor de seus investimentos e pensado: “E agora?”

Pois é, recebi muitos e-mails de leitores me perguntando se era hora de comprar mais ativos de risco para aproveitar a queda vigente, que chegou a ser superior a 9% naquela manhã…

Ou, na outra ponta, se era hora de vender tudo, já que as chances de um processo de impeachment contra Jair Bolsonaro seriam muito grandes – se as denúncias de Moro forem verídicas, claro.

Não importa se você é de esquerda, de direita, do centro ou se concorda ou não com as pautas de costume do presidente Jair Bolsonaro, suas declarações públicas ou forma de condução do pais, o que vale é: a reflexão quanto aos riscos relacionados a um processo de impeachment, as chances disso acontecer e as possíveis implicações para o seu bolso.

Tendo feito esse exercício, vamos refletir juntos como avaliar os riscos no seu portfólio.

Com a ajuda do Antonyo, que é um de meus braços direitos aqui na Inversa, construímos esse gráfico a seguir para nos ajudar a pensar quanto às probabilidades de vermos um processo de impeachment se materializar:

Calma, vou explicar.

Repare o seguinte: a maior parte de seu eleitorado, seja em termos absolutos ou relativos, se encontra especialmente nas regiões Sul e Sudeste e, coincidência ou não, são locais com os menores dados de distanciamento social em meio à quarentena.

Não estou tecendo nenhuma crítica aqui, que fique bem claro. O que eu penso apenas é que Bolsonaro pode ter um eleitorado realmente fiel.

“E por que isso importa?”, você pode estar se perguntando.

Em um primeiro momento, a escalada da pressão popular tende a ser pequena mesmo, já que as pessoas não podem tomar as ruas para protestar (Imagem: Reuters/Ueslei Marcelino)

Bom, se esse público é realmente fiel e se as pesquisas (Datafolha) recentes estiverem corretas – quase metade da população (48%) é contra a saída do presidente – acho muito difícil que um processo de retirada do presidente se materialize.

É fato: impeachment é um ato político, mas não acontece sem apoio popular.

Em contrapartida, neste caso, há um “porém”.

Em um primeiro momento, a escalada da pressão popular tende a ser pequena mesmo, já que as pessoas não podem tomar as ruas para protestar.

Desta forma, o que ocorre à frente, com o fim da quarentena e apuração dos processos em investigação no STF, pode com certeza trazer muito mais estresse ao cenário político doméstico.

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E daí, se rolar mesmo um impeachment de Jair Bolsonaro?

Pensando estritamente no curto prazo, acredito que a última sexta-feira (24) foi um excelente exemplo do que ainda podemos enfrentar nos próximos meses. No entanto, quero chamar a sua atenção para este gráfico:

Além da representação dos 12 presidentes e 2 regimes políticos (ditadura e República) desde 1968, mostrando o quão “antifrágil” o país pode ser a todos os eventos domésticos, quero destacar aqui os seguintes pontos:

Os impeachments de Fernando Collor de Mello (1992) e de Dilma Rousseff (2016) – até mesmo os de FHC, Lula e Temer, que não foram adiante – nos ajudam a esclarecer que processos como estes são muito lentos;

Refletem, indiscutivelmente, o desempenho econômico do país. Como exemplo, Dilma Rousseff responde pela maior recessão brasileira deste século e Collor representa uma sequência de planos anti-inflacionários frustrados, além de outros escândalos;

O caso de Dilma e seu alinhamento com o “centrão” evidenciou a importância nestas horas do posicionamento do vice e, pelo menos até agora, Mourão parece se mostrar alinhado ao governo;

Talvez o mais importante para o seu bolso: olhando para os biênios 1992-1993 e 2016-2017, que marcam a transição pós-impeachment, o comportamento do Ibovespa nos anos que se seguem (aqui mensurado em dólar para isolar os efeitos do câmbio e as diferentes moedas), foram muito positivos: +111% em 1993 e +25% em 2017.

Ou seja, mesmo que isso aconteça – e me parece difícil, por ora –, não necessariamente é ruim para bolsa, no médio e longo prazos.

O grande risco aqui, na minha opinião, são os possíveis reflexos de sua saída, tais como estes dois: novo alinhamento ideológico pela possibilidade (agora mais remota) de saída de Paulo Guedes e a paralização de reformas estruturantes, fundamentais para a trajetória fiscal.

Diante deste cenário, gosto da dobradinha de bolsa (agora mais cauteloso do que nos 60 mil pontos do Ibovespa em março) e dólar norte-americano (este em menor proporção com, no máximo, 10% do patrimônio).

“E como dolarizar a carteira?”

Uma sugestão é dolarizar seu portfólio via fundos de investimento (por exemplo, temos o BTG Pactual Digital Dólar FI Cambial como boa opção e baixa taxa de administração, indicado entre minhas sugestões na série Fundos Expert) ou adicionar à carteira de ações empresas com alta parte de seu faturamento em dólar, como Suzano (SUZB3) – a maior empresa do mundo de papel e celulose –, e que vem ganhando espaço na série Seleção Inversa.