Coluna do Felipe Miranda

Felipe Miranda: Vamos falar de investimentos com quem realmente importa?

02 maio 2022, 13:20 - atualizado em 02 maio 2022, 13:20

 

Felipe Miranda
“O governo é sempre o culpado. Nunca a população que elegeu esse mesmo governo”, questiona Felipe Miranda

Por Felipe Miranda

“O inferno são os outros.” O existencialismo tem uma série de coisas legais, mas essa frase do Sartre resume algo particularmente atraente: a responsabilidade pessoal no processo.

O governo é sempre o culpado. Nunca a população que elegeu esse mesmo governo. Vamos lá criticar o radicalismo e a polarização das eleições, esquecendo-nos de que fomos nós mesmos que trouxemos a situação até aqui. 

O chefe não valoriza suas qualidades, embora você mesmo não procure demonstrá-las no dia a dia. O seu filho não socializa na escola, porque, claro, as outras crianças são incapazes de demonstrar empatia — sem considerarmos que a sua prole morde mais os coleguinhas do que o atacante Luis Suárez.

Poderia ser filosofia, psicologia ou finanças comportamentais — há mesmo diferença? Já virou um tanto clichê falarmos do “overconfidence”, o excesso de confiança autoatribuído — cerca de 90% dos motoristas se acham mais competentes do que a média para guiar automóveis, uma distorção estatística, no mínimo, curiosa. Ou apelarmos para o efeito Dunning-Kruger, a incapacidade de reconhecermos as próprias deficiências e traçarmos autoavaliações generosas.

O que nós — cada um de nós — pode fazer para melhorar as coisas um pouquinho ao nosso redor?

Está na moda falar em legado. O sujeito acumula 5 mil seguidores no TikTok e já está falando em salvar o planeta, mudar o mundo, deixar uma marca para várias e várias gerações. Talvez seja coisa dos jovens — “aquele garoto, que ia mudar o mundo, agora assiste a tudo em cima do muro”. Meus heróis morreram de overdose.

A verdade, porém, é que, de fato, todos nós deixamos um legado por aqui, sendo o mais imediato e tangível deles os nossos filhos. Mesmo se você preferir um pet a uma criança (eu juro que respeito, mas você não sabe o que está perdendo!), ainda assim terá deixado uma marca no seu entorno, em seu pequeno microcosmo.

Se somos uma insignificância cósmica e a vida é um pequeno suspiro diante do curso da história e da eternidade, o curto intervalo de tempo que passamos por aqui se torna muito mais importante se contemplarmos o que deixaremos para as gerações subsequentes.

É por isso que resolvi escrever para os meus filhos. E, falando com eles, percebi que talvez pudesse registrar o pouco que aprendi e gostaria de lhes transmitir num livro, para que outros pudessem entrar em contato com essas palavras, princípios e valores. 

“O Filho Rico”, meu segundo livro em parceria com o gênio Ricardo Mioto, já está em pré-venda na Amazon.

Não poderia ser diferente, claro. É um livro sobre finanças, investimentos e trajetória empresarial. Mas é também um pouco mais do que isso, focado em parentalidade. Gostaria de dividir uma espécie de bastidores do livro neste Day One.

De algum modo, “O Filho Rico” é uma continuação do livro anterior “Princípios do Estrategista”. Sim, assumo a cópia. O “Princípios” de Ray Dalio havia sido uma inspiração para o nosso. Como ele mesmo, na sequência, fez uma versão para jovens e crianças, aqui também seguimos os passos. “O Filho Rico” conversa com crianças, jovens, adolescentes e com os pais de todos eles numa tentativa de transmitir valores e princípios de vida, trabalho e investimentos.

Tenho uma crença muito forte de que só poderemos mudar uma sociedade a partir da educação e será fundamental que essa educação passe pelo conhecimento de finanças, economia e empreendedorismo — afinal, o valor de uma sociedade é gerado, em essência, justamente pela atividade empreendedora, não pelo Estado.

O que pensa Felipe Miranda?

O momento não poderia ser melhor. 

Enquanto cresce a defesa em prol do “great resignation”, adotam-se mesas de pebolim e piscinas de bolinha nos escritórios e os home offices ficam cada vez mais populares, coincidentemente às segundas e sextas em especial, vamos nos afastando da ética do trabalho. 

Estamos cada vez mais próximos dos nossos cachorros e gatos e cada vez mais distantes dos nossos filhos — isso quando temos filhos. Vamos jantar e cada um está com seu instrumento devidamente conectado. Você se enfia no close friends, enquanto as crianças se atolam no TikTok. Mesas de cinco pessoas, cada uma jantando sozinha em seu metaverso particular.

O livro é uma tentativa de resgate desta conexão visceral com os filhos, a partir de uma conversa descontraída sobre coisas que aprendi (da pior forma e, quem sabe, eles possam evitar essa caminhada tão dura a partir da observação alheia) sobre trabalho, empreendedorismo, economia e investimentos. Coração aberto para dividir discussões, ensinamentos e conquistas de tanta gente e tantas situações que pude encontrar ao longo da caminhada.

E é também, embora possa não parecer à primeira vista, um grito contra o populismo, uma campanha pessoal contra o desconhecimento em economia e investimento, que nos leva a escolher pelo personalista gastador, mesmo desgostando de inflação. Ora, se você não gosta de inflação (como todos dizem não gostar nas pesquisas), haveria também de não gostar da expansão fiscal, porque o gasto excessivo hoje é a inflação de amanhã.

Não haverá caminho fora da educação de base. E todos nós podemos tentar oferecer o pouco que cabe a cada um de nós. 

Alinhado aos princípios e valores do livro, as palavras são escritas com muita humildade, sem a pretensão e a arrogância de achar que conseguirei mudar o mundo. Tenho plena convicção de que vou errar. Como nos lembra Freud, há três funções impossíveis no mundo: governar, analisar (no sentido psicanalítico) e educar. Ainda assim, havemos de tentar.

Neste link, divido com você as duas cartas iniciais e um dos capítulos do livro, na esperança de estimulá-lo à leitura completa. 

Espero que goste da leitura. E que possa ser útil de algum modo na relação com os seus filhos, netos ou sobrinhos. Sempre seremos os seus principais professores. Investimento a longo prazo. Ah, mas os benefícios são simplesmente incomparáveis, não é mesmo?

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