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Felipe Miranda: Qual é o limite para o bitcoin? E para as ações que você carrega em carteira?

07 maio 2018, 23:06 - atualizado em 07 maio 2018, 23:06

Por Felipe Miranda e Equipe, da Empiricus Research

Alerta: este texto pode conter spoilers.

Não sou crítico nem historiador de arte. Aliás, passo bem longe disso. Sou um simples curioso. Portanto, peço desculpas antecipadas por eventuais imprecisões (muito prováveis) nas linhas a seguir. Importa obviamente a mensagem.

Quando Marcel Duchamp deu a um simples mictório o nome de “A fonte” e o expôs como obra de arte na exposição de 1917 da Associação de Artistas Independentes de Nova York, gerou uma bela polêmica. De imediato, encontrou hesitação do conselho curador, que praticamente escondeu a obra numa salinha sem nenhum destaque. Superada a resistência inicial, “A fonte” marcaria uma revolução na produção cultural, sendo um dos grandes marcos da arte contemporânea.

A partir dali, os limites da arte, supostamente delimitados pelos “especialistas”, teriam de ser alargados.

Philippe Dussaert levou a ideia às últimas consequências. Era um copista de muito talento, tendo passado anos e anos simplesmente reproduzindo obras clássicas. Uma doença grave acabaria mudando o rumo das coisas. Já enfermo, o pintor teve uma ideia: produziu a coleção “Ao fundo”, em que partia de quadros clássicos, retirava as pessoas ali retratadas e refazia a imagem sem suas personagens humanas.

Retirando, por exemplo, Monalisa do quadro, o que resta? O fundo, que vira o objeto de pintura de Dussaert.

Madame D’Argenson, renomada galerista e crítica de arte, possivelmente a melhor amiga de Dussaert, via no pintor um crítico feroz da vaidade humana e, por isso, todo o esforço e a vontade de apagar as pessoas das figuras.

“Ao fundo” fez um sucesso tremendo. Das 18 produções, 17 foram arrematadas – a exceção se deu apenas porque o próprio Philippe Dussaert fez questão de manter para si um dos quadros.

Estimulado pelo processo e sugado para dentro daquela paixão vocacional sem capacidade de resistir, Dussaert deu um passo adicional na mesma direção com o anúncio de uma nova exposição: “No fundo”. E, então, criou-se um dos maiores escândalos da arte contemporânea.

Depois de retirar as pessoas do quadro, resta o fundo. Mas e se retirássemos também o fundo? O que estaria ao fundo do fundo? Atrás da paisagem do segundo ou terceiro plano de um quadro, o que estaria retratado?

O pintor chega ao limite do conceito: retirado também o fundo, não sobra nada, nem mesmo a tela ou a moldura. Era isto que estava retratado na sua mais nova exposição: o nada.

Desperta-se um grande frenesi em torno de “No fundo”. Em leilão disputadíssimo, a obra é originalmente arrematada pelo MoMA de Nova York por 8 milhões de francos (na época, ainda não tínhamos o euro). Alegando preempção, o Estado francês intervém no leilão e compra “No fundo” para si – fico imaginando as dificuldades de se armazenar isso.

Eis a grande polêmica: poderia o Estado francês dispor de 8 milhões de francos para comprar “o nada”? Não seria um grande desperdício?

Paris está dividida. De um lado, há aqueles que consideram um ato de genialidade e brilhantismo manter na França “o nada”, que representa uma ideia, um discurso, um conceito, uma transgressão brilhante diante de ideias tão repetitivas e pasteurizadas. De outro, estão os críticos, para quem “o nada” é apenas nada.

Quais os limites da arte? Se há algum, quem os define?

Ora, se vamos limitar a arte, dependemos de alguém para marcar as linhas, não é mesmo? Quem será o responsável por dizer o que pode e o que não pode? Não precisamos inventar um novo nome para isso. A profissão já existe, de forma consagrada, e se chama “censurador”.

Os argumentos estão muito mais bem estruturados na peça “O Escândalo Philippe Dussaert”, com o estupendo Marcos Caruso. Eu a assisti há um tempão e fui lembrar disso por conta da celebração da Instrução 598 da CVM, que regula a atividade de análise de valores mobiliários.

Se o ato de analisar ações é arte, tal como demonstrado aqui, ele não pode conter limites. Em se cerceando a liberdade do analista se expressar, estamos diante de censura – tão simples quanto isso. Não há outro nome.

Vejo o que acontece agora com as criptomoedas . Com Warren Buffett e Charlie Munger condenando o bitcoin no evento anual da Berkshire Hathaway, os defensores da moral e dos bons costumes recorrem ao argumento de autoridade e proclamam o autoelogio: “Eu não disse? Isso é uma bolha, pirâmide, Ponzi, vai explodir”.

Do outro lado, estão os defensores das moedas digitais, apontando a recuperação dos preços no último mês e o momentum interessante.

Quem está certo? Não faço a menor ideia. Importa que os dois lados possam falar, da maneira e na altura que quiserem. A única intolerância permitida é contra os intolerantes, conforme enuncia o Paradoxo de Karl Popper.

Minha opinião pessoal sobre as criptos, que não importa muito, é que não deveria ser surpreendente algo que subiu 10.000 por cento cair 70 por cento, e depois subir mais 40 por cento. Para o bitcoin, está tudo dentro da sua normalidade, que nada tem a ver com distribuição Normal ou linearidade. E é, para mim, só isso que faz dele interessante. Seu comportamento não é linear. Ele é convexo, igualzinho àquela curva exponencial que você estudou na 8ª série.

Podem falar o que quiserem, mas a pessoa que comprou um pouquinho de bitcoin há cinco anos ficou rica. Não é elucubração, hipótese, opinião. Aconteceu. Ponto final. Um tiquinho de dinheiro virou um tantão.

Daí vem a ideia de que você pode, sim, ter um pouquinho da sua grana em criptomoedas. Para mim, não mais do que 1 por cento de seu capital. Se for mesmo uma bolha, você vai perder esse 1 por cento. Acho que podemos lidar com isso, né? E se for uma verdadeira revolução monetária, esse 1 por cento pode se multiplicar por, sei lá, 20x.

Digam o que quiserem das moedas digitais, mas elas são hoje talvez o mercado do mundo com o perfil convexo mais óbvio – o risco é alto, obviamente, mas se trata de um segmento em que, se você estiver certo (não estou dizendo que está e, sim, que pode estar), pode multiplicar seu capital por um fator muito alto.

Outro nicho com rigorosamente o mesmo perfil de retornos potenciais é o de empresas de maconha nos EUA, as chamadas “pot stocks”.  Esse é um mercado em ebulição e sua matriz de payoff também oferece dinâmica semelhante (pode-se perder 100 por cento do capital investidor, mas também pode-se multiplicar por 5x, 10x, 20x). Para quem não sabe nada sobre o futuro (eu sou um daqueles que se enquadra nessa rara categoria das pessoas que não dispõem de bola de cristal), faz sentido colocar um dinheiro aqui, entende? Pouca coisa, que se você perder não vai morrer, e se ganhar será explosivo.

Se você diversifica entre um monte de ativos de alto risco mas com perfil convexo, igual a esses supracitados, bastará que apenas um deles dê certo para que você se depare com uma super multiplicação capaz de pagar a conta toda.

Para a arte, a análise de ações e curvas exponenciais (convexas), não pode haver limite.

Algumas considerações rápidas, vapt-vupt, antes de partirmos para as frivolidades cotidianas:

1 – Alta do dólar pode afetar a inflação e consequentemente a política monetária? Certamente, vai pegar um pouco a inflação, mas, ao menos por ora, muito na margem, e principalmente neste ano, quando a variação dos preços segue bem abaixo do centro da meta. Inflação e atividade seguem vindo abaixo do esperado, de tal sorte que deve vir mesmo nova queda da Selic – e não me surpreenderia com novos cortes mais para a frente, embora não seja essa a intenção do BC neste momento.

2 – Crise do peso preocupa? Não é agradável, mas há uma diferenciação clara entre Brasil e Argentina – uma coisa é um mercado totalmente de fronteira e pequeno, que já não vinha sendo muito destino do capital internacional. Também aqui impactos parecem comedidos. Preocupação está mais em emergentes como um todo, que poderiam sofrer com uma disparada mais vigorosa dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA – veja, porém, que nem mesmo Bill Gross, um anterior defensor ferrenho desse processo, espera novas altas marcantes para os yields.

3 – Há uma matéria no “Valor” hoje falando da preferência por ativos de crédito frente a fundos multimercados, pois isso representaria uma combinação de retorno e risco melhor. Discordo totalmente. Risco aqui é medido por volatilidade, o que obviamente vai resultar em vantagem para os ativos de crédito. Nem precisaria fazer a conta. Crédito não tem volatilidade. Muita coisa você vai marcando na curva, sem volatilidade alguma. Daí chega lá na frente, na hora do vencimento, e você recebe uma cartinha surpresa. Risco não é volatilidade, principalmente se você está falando do mercado de crédito.

4 – A imprensa tentou emplacar a tese de “nova onda de IPOs e espaço para o flip”, a partir do sucesso das ofertas de Hapvida e NotreDame Intermédica. Muita calma nessa hora. Foram duas empresas boas, num setor muito quente. Algo muito mais específico do que geral. Os IPOs, olhados como um todo, ainda têm sido problemáticos e demandam muita seletividade. As janelas abrem-se e fecham-se caprichosamente para operações desse tipo e não podemos tomar o resultado de duas operações como tendência. Dois pontos são suficientes para formar uma reta, mas não compõem uma amostra estatisticamente significativa.

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