Felipe Miranda: O que estamos fazendo aqui?
Por Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus
“But listen to the colour of your dreams
It is not leaving, it is not leaving”
Quando John Lennon rebobinou em sua casa a fita de uma gravação que haviam feito antes em estúdio, não fazia ideia do que viria a acontecer. Ele estava diante de uma sonoridade única, descoberta assim ao acaso. Sem que ninguém soubesse, aquilo viria a influenciar a cultura pop por décadas à frente.
O som psicodélico e original seria levado no dia seguinte para somar-se à gravação de baixo, bateria e voz sobre a fita rebobinada. A composição deu origem a “Tomorrow Never Knows”, a mais lisérgica música dos Beatles até então, a última do incrível álbum “Revolver”, de 1966.
Era uma revolução no som da própria banda e em tudo que se ouvia até então. Pela primeira vez, elementos da avant-garde, mais precisamente do compositor Karlheinz Stockhausen, seriam trazidos do universo da arte experimental, restrito a um ambiente elitizado, provocador e de aparente difícil compreensão, para serem ouvidos por muitos milhões de pessoas.
O que antes estava aprisionado a um ambiente particular foi ampliado ao cidadão comum, que, por sua vez, passou a ser influenciado por aquilo de uma maneira que bem ele próprio poderia imaginar a princípio.
Claro que a aceitação não foi total e instantânea. Muita gente se voltou contra, parte da imprensa inclusive. Os Beatles deixavam de ser certinhos e amados por todo mundo. Abandonavam o discurso politicamente correto dos reis do Iê-iê-iê, ao perceberem que haviam se distanciado do que importava de verdade: a música. Era mais showbiz do que qualquer outra coisa.
Foi na época da famigerada entrevista de Lennon à revista Datebook dizendo que os Beatles eram maiores que Cristo. Daí a coisa azedou de vez.
A declaração nem tinha essa conotação toda. Ela estava inserida numa explicação sobre a perda de fiéis das igrejas, enquanto os Beatles cresciam. O próprio John Lennon estava curioso com o fenômeno e, na verdade, declarou aquilo como uma surpresa: “Veja, neste momento, somos maiores que Jesus”.
Não importava. Ninguém quis entender e saiu descendo o pau.
Agora, veja bem, se não fosse a ousadia de “Tomorrow Never Knows” e de tudo que dela decorreu, ainda estaríamos ouvindo “Love Me Do”, “I Want To Hold Your Hand” e “She Loves You”. Ok, é legal, mas não se compara à sonoridade de “Lucy In The Sky With Diamonds”, “With a Little Help from My Friends” e coisas assim.
Foi esse movimento que trouxe às pessoas comuns uma sonoridade única e aparentemente difícil, antes circunscrita a um escopo muito restrito de pessoas.
Juntando ao número de composições esplêndidas, esse, pra mim, foi o maior mérito dos Beatles. Elite e povão, pretos e brancos… todos ouviam o mesmo som. E amavam aquilo.
Hoje quero falar de propósito. Mais especificamente, do que estou fazendo aqui. A que se presta tudo isso?
Deixo claro de cara: não, não estou me comparando aos Beatles. Tenho senso de ridículo. Sei da minha insignificância. Faço o paralelo só para dizer o que realmente me motiva, atina minha alma, o que pretendo, de fato, com essa coisa.
Preciso voltar a novembro de 2009, quando a Empiricus começou. E como você deve imaginar, se começamos as operações em novembro de 2009, o plano para o início dos trabalhos veio de alguns meses antes.
Estávamos exatamente no calor das mazelas do estouro da crise subprime nos EUA. Quando o Lehman Brothers caiu, em setembro de 2008 (e lá se vão dez anos!), parecia que o mundo ia acabar.
Observando daqui, víamos a podridão da indústria financeira dos EUA. Analistas financeiros trocavam entre si comentários depravados sobre a péssima qualidade de determinados ativos, faziam piada e riam entre si. Poucos minutos depois, esse clubinho soltava aos clientes recomendações indicando a compra dos mesmos produtos que acabava de criticar internamente.
Era vergonhoso. Ninguém estava preocupado com a qualidade do investimento para o cliente, com o quanto ele poderia perder com aquilo. Havia uma única preocupação: gerar lucros para Wall Street.
Não à toa, ciente dos conflitos da indústria, a SEC, a CVM norte-americana, passou a fomentar o segmento de research independente nos EUA, cobrando taxas dos bancões para que pudesse haver pesquisa de investimento desprovida de agenda escondida. Pouco tempo depois, todos os rankings de melhores recomendações, aqueles de WSJ, NYT, Financial Times e afins, passaram a ser dominados por pesquisadores independentes.
Deixe-me dizer uma coisa: acertar no mercado financeiro já é difícil pra caramba. Aqui, a gente rala, rala, rala e erra, erra, erra. Tem sido assim, será assim no futuro.
Agora, imagine ter de acertar ao mesmo tempo em que se atende a uma agenda oculta, em que os participantes de Wall Street precisam bater as metas impostas pelas instituições em que trabalhavam.
Fizemos um paralelo com o Brasil. Os conflitos eram os mesmos. Claro, não podia ser diferente. Falamos da natureza humana. E da mesma estrutura de incentivos desenhada pela indústria financeira.
Colocam-se metas agressivas e vendem-se sonhos para gerentes de bancos e agentes autônomos, que são obrigados a atuar como raposas no galinheiro, empurrando sorrateiramente a seus clientes produtos que não necessariamente geram o maior benefício para o investidor, mas, de certo, trazem bom lucro para o banco e a corretora.
E como as taxas cobradas pelas instituições financeiras nem sempre são transparentes, o investidor vê aquilo como natural. O lado feio fica sob o tapete. Mostramos Dr. Jekyll enquanto escondemos Mr. Hyde.
Por aqui, alguns absurdos eram gritantes. Agrenco, Laep, Brasil Ecodiesel, InPar – e tantos outros. Cito aqui só os mais espalhafatosos.
A Empiricus era uma reação orgânica a tudo isso. Criamos a Companhia com um único propósito. E é exatamente ele que ainda nos guia até hoje, 24×7. Queremos levar à pessoa física, ao dentista de Macapá, ao dono de pousada em Pipa, ao comerciante da Serra do Cipó, ao gerente da loja no Sueste, em Fernando de Noronha, à massagista da Vila Cobé, em Japaratinga (sim, alguns exemplos são reais) ideias de investimento tão boas ou até mesmo melhores do que aquelas obtidas pelos profissionais da Faria Lima e do Leblon. Tudo isso feito de forma absolutamente não conflitada, sem agenda oculta, sem taxa por trás, sem meta de colocação para bater.
Aceleramos nove anos no tempo. De volta para o futuro, estamos em 4 de setembro de 2018.
Batemos todos nossos recordes em agosto. E eu preciso agradecer-lhe de coração por isso.
Fico feliz com os números, claro. Mas confesso que não é pelo dinheiro – embora, sim, eu goste dele também. Entre ser rico e saudável ou pobre e doente, ainda prefiro a primeira condição. Agora, na boa, não é tanto por isso.
O que me motiva a bater recorde atrás de recorde na Empiricus é saber que, por trás daquela receita e daquele número de assinantes, há um significado concreto: existe uma quantidade maior de famílias sendo educadas financeiramente, recebendo indicações de investimentos sem conflito de interesses, e que vão usar o dinheiro de suas aplicações financeiras para realizar seus sonhos e para superar percalços que virão pelo caminho.
É também estimulante converter recordes financeiros para alimentar a maior e melhor equipe de especialistas em finanças. Jamais conseguiríamos levar, de fato, as melhores sugestões de investimento para as pessoas se não tivéssemos uma equipe grande, altamente técnica e bem remunerada. Não nos enganemos. Por mais competente que sejam uma, duas ou cinco pessoas, elas não vão dar conta de cobrir o mercado inteiro. Ter uma equipe grande faz, sim, diferença. Esse é – e deveria ser – um modelo de “winner takes it all”, em que “o vencedor leva tudo”, porque há vantagens claras na escala. Ser grande como empresa permite pagar essa equipe, além de dar acesso a toda uma rede de contatos hoje interessada em falar com a gente.
Não que eu ache que toda essa rede goste da Empiricus. Tenho certeza de que não. Não somos, nem queremos ser unanimidade. Alguns deles nos detestam inclusive, seja porque, de fato, cometemos erros graves (sim, eles acontecem aos montes ainda) ou porque sofrem de um dos mais elementares sentimentos humanos: a inveja.
Mas mesmo aqueles que torcem o nariz reconhecem o impacto de nossas publicações e, por isso, se dispõem a falar conosco. Já vi gente escrever mal da gente e, poucas semanas depois, vir aqui implorar à Luciana Seabra para compor a relação dos Melhores Fundos de Investimento.
Eu não ligo, juro. Fico até feliz. Como sempre fui, sigo apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes. Valorizo toda essa interlocução, porque sei que também ela é importante para levar as melhores ideias de investimentos a nossos assinantes.
O que eu faço nessa estrutura toda até hoje? Não faço nada, não. Mas sou muito bom no que faço.
Agora, ouço umas coisas por aí. E se tivesse de dar uma dessas indicações não conflitadas de investimento para agora, colaria a ideia do Daniel Malheiros: BC Fund (BRCR11). Há cheiro de algo quente no forno.
Se você quer uma outra mais abaixo do radar e de potencial de multiplicação, Alexandre Mastrocinque traz algo valioso na série Empiricus Insider.