Felipe Miranda: no país das maravilhas, bolsa, juro e câmbio para 1 milhão de pessoas
Por Felipe Miranda, CEO da Empiricus Research
“Antes do café da manhã, eu sempre penso em seis coisas impossíveis:
1- Existe uma poção que faz você encolher;
2- Um bolo que faz você crescer;
3- Animais sabem falar;
4- Gatos podem desaparecer;
5-O País das Maravilhas existe;
6- E eu posso matar o Jaguadart.”
Apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco e sem amigos importantes, sou sujeito mais modesto. Penso em só três coisas impossíveis:
1 – Cinco milhões de CPFs na Bolsa – o Edemir não estava errado; era só um homem à frente do seu tempo. Errou sua estimativa de cinco milhões de CPFs na Bolsa só nuns 15 aninhos. De novo citando Alice no País das Maravilhas: dizem que o tempo resolve tudo. A questão é: Quanto tempo? Nesse mercado, uma ideia supostamente boa na hora errada é apenas uma ideia errada.
2 – No dólar abaixo de 3,50 reais – aliás, o câmbio é uma delícia. Como ninguém sabe absolutamente nada sobre ele, estamos todos autorizados a falar. Entram todas as opiniões democraticamente com o mesmo peso, porque nenhuma delas vale nada. O câmbio é o instrumento feito para fazer os economistas passarem vergonha e dar alguma autoridade relativa aos meteorologistas. É falando muita caca que a agenda aduba a vida (com o palavrão no lugar de “caca” fica melhor, mas vamos evitar o cacófato). “Eu só queria saber que caminho tomar”, pergunta Alice. “Isso depende do lugar para onde quer ir “, responde o Gato. “Realmente não importa”, rebate Alice. “Então, qualquer caminho serve”, encerra o assunto o Gato. O certo, claro, seria ficar calado e assumir logo nossa ignorância e nosso niilismo diante do que é aleatório e randômico por natureza. Mas somos verborrágicos e incapazes de superar nosso desejo de controle. Mais fácil acreditar que podemos ver o futuro, que ele é bem-comportado e previsível. Imagina admitir que estamos meio soltos na vida, caminhando vagamente por aí e a qualquer momento podemos ser atingidos por algo que pode mudar tudo. Estou fora. Prefiro jogar tudo para baixo do tapete, acreditar na supressão da volatilidade e fingir que está tudo bem. Ah, que delícia. Estar (ainda que falsamente) no controle é um deleite.
3 – A Selic a 5,5 por cento – ao que me parece, o juro neutro brasileiro mudou; e vai mudar ainda mais com a aprovação da reforma da Previdência. Isso se deveu tanto a fatores locais (basta ver o bom comportamento da inflação e a parca atividade econômica), quanto a elementos externos, com a taxa de juro livre de risco, que baliza todas as demais, também caindo mundo afora (vai ficar mais claro abaixo).
Carteira Money Times: O Consenso do Mercado na sua Mão
Você é louco? Sim, louquinho. Mas vou lhe contar um segredo: as melhores pessoas são assim! O Gato, ele uma vez mais.
Com o Ibovespa em recorde histórico e na marca de 99 mil pontos, talvez os quatro leitores suspeitassem que eu penso também nos fatídicos 100 mil pontos. Lamento a frustração, mas eu mentiria se respondesse positivamente. Hoje, essa marca não atrai minha atenção, não. Isso porque nela pensei há mais três anos — aí, sim, ela era interessante, porque implicava fortes lucros para quem acreditasse nela. Agora, sinceramente, perdeu a atratividade, virou carne de vaca.
Não retomo o discurso do final de 2015 para uma recomposição histórica. Tampouco pretendo vangloriar-me de supostos acertos do passado. Muito menos ainda por arrogância – sou o primeiro a dizer o quanto a sorte nos ajudou e ajuda desde 2014, no Fim do Brasil (nada contra, continue conosco, querida!); o quanto qualquer track record pode desmanchar-se no ar à primeira surpresa e ao primeiro erro. Por fim, deixo claro que morro de medo de essa sorte acabar subitamente e que erro, erro e erro, todos os dias.
Não sei – mesmo -– o que vai rolar daqui para a frente. Pode ser que eu estrague tudo – sou mestre em fazer isso. Mas o cenário desenhado ali ao final de 2015, quando o Ibovespa rondava os 40 mil pontos, aconteceu. Ponto final. Ninguém nos tira isso. Ou melhor: ninguém tira isso de nossos assinantes, que acreditaram na tese, nos deram confiança (e eu agradeço de coração a vocês, alimenta minha alma e me faz acordar todos os dias com disposição) e puderam multiplicar seu capital por 2,5 vezes nesse intervalo de tempo.
Sim, está documentado. E quem bate esquece, mas quem apanha, não. À época, um dito jornalista escreveu assim: “Empiricus já fatura 200 milhões de reais com marketing vale-tudo – Qual a diferença entre investir e apostar?”. Ao lado da manchete, vinha uma imagem extraída de um de nossos copys: “Ibovespa a 100 mil pontos! Se você não comprar ações AGORA, não comprará nunca mais na vida”. Breve parêntese: copy vem de copywriting e é o nome dado à carta de venda no mercado de marketing digital, uma técnica adotada mundialmente por toda a indústria; a Empiricus não inventou isso, apenas seguiu e copiou essa ferramenta feita no mundo todo, com as devidas adaptações feitas sob a liderança e coordenação do mais brilhante copywriter do mundo, Roberto Altenhofen – sim, essa é minha opinião verdadeira; talvez não seja isenta e não enviesada, mas é verdadeira. A terra natal do copywriting, como você deve imaginar, é os EUA, onde a prática é amplamente difundida, estabelecida e consagrada.
Retomo o fio de Ariadne.
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Pelo que pude interpretar, o “jornalista” sugere que assinar a Empiricus e seguir suas orientações teria alguma conotação (pejorativa, é claro) de aposta. Por paralelismo, imagino, claro, que dispensar horas lendo maravilhas como essas publicadas pelo cidadão seria considerado “investimento”. Sobre a semântica da coisa, dou de ombros. A rosa teria o mesmo cheiro se tivesse outro nome. Aliás, nem tenho nada contra apostas – se elas oferecem Valor Presente Líquido positivo, podem ser muito atraentes; nada diferente (e técnico) de um modelo binomial, muito adotado em Opções Reais, por exemplo. Assimetria positiva repetida à exaustão leva a enormes retornos de longo prazo. Mas o ponto é outro: quem, impactado pelo “marketing vale tudo”, seguiu a “aposta” multiplicou seu capital por 2,5 vezes.
O que aconteceu com quem seguiu o “jornalista”? Saindo do caso particular, fica a lição geral: o que acontece com os jornalistas que escrevem atrocidades? Qual seu skin in the game? Não deveriam também eles arcar, mesmo que em pequena medida, com as consequências do que falam ou escrevem?
Agora permita-me voltar para o começo e falar das três coisas lá de cima. Bolsa, câmbio e juro, rapidão.
Li no Money Times , do competentíssimo Gustavo Kahil, que a Bolsa está muito perto de chegar a 1 milhão de investidores. Fico muito feliz com a marca, embora considere ser apenas o começo de um longo processo. Entendo estarmos num longo e estrutural bull market (querendo ou não, nada atrai mais investidor para a Bolsa do que a alta do Ibovespa e as manchetes do Jornal Nacional anunciando novos recordes de pontuação; se é certo ou errado, sei lá, é o que é); o juro baixo veio pra ficar (isso aumenta a atratividade relativa das ações); o investidor tem muito mais conhecimento hoje (agora, conversa-se na rua sobre investimentos; até na blitz do bafômetro a policial veio me perguntar onde aplicar seu dinheiro – ela pediu foto e tudo mais, Gabi é testemunha); a tecnologia ajuda muito e há acesso muito mais fácil. Sobre esse último ponto, preciso registrar a contribuição absurda da XP – muito provavelmente, isso não seria possível sem o conceito de plataforma aberta e toda a democratização de investimentos que isso ensejou.
Agora posso falar de câmbio e juro, essa dupla que sempre monopolizou o debate de política econômica no Brasil. Aliás, isso é bastante curioso. Os desenvolvimentistas brasileiros sempre cobraram desvalorização cambial e juro baixo para bombar a indústria e, por conseguinte, trazer crescimento econômico. O câmbio foi pra 4 e o juro foi para 6,5 e a economia continua parada. O que essa turma tem a dizer? Uso o termo desenvolvimentista na ausência de algo melhor, porque suas sugestões em nada levariam ao real desenvolvimento (levaram à maior crise da história brasileira quando implementadas) e porque ainda me parece mais preciso do que “keynesiano” – a política macroeconômica iniciada em 2006 com a saída do ministro Antonio Palocci e de seus secretários Murilo Portugal, Marcos Lisboa e Joaquim Levy nada teve de keynesiana (exceção feita ao período imediatamente subsequente à crise de 2008, com a quebra da Lehman, que na verdade serviu apenas de desculpa para justificar um desejado aumento de gasto público), pois foi fundamentalmente pró-cíclica.
Tenho dois comentários rápidos sobre o câmbio, fora tudo que já escrevi: mercado me parece subestimar o aumento da oferta de dólares que pode vir via captações corporativas, licitações, concessões e afins. Petrobras acaba de captar 3 bilhões de dólares lá fora, com demanda para 10 bilhões – Petro vai na frente e testa mercado, outras vão na esteira. Olha a taxa de Rumo agora, recorde absoluto. Banco do Brasil levantou mais do que queria, surpreso com as taxas atraentes. Já há dez interessados no leilão de três blocos de aeroportos amanhã. E a PetroRio pretende levantar 400 milhões de dólares lá fora (cara, é a PetroRio, saca? Isso era HRT, do Márcio Mello; mudou e tal, ok, mas voltamos a dar dinheiro para financiar campanha de junior oil, isso é sintomático). Se aprovar Previdência então, pode vir lote de dólar (pouco para o mundo, claro, mas muito para o Brasil – o mercado é um teatro grande com uma porta pequena; se todos quiserem entrar ao mesmo tempo, dá chabu).
Em paralelo, há perspectiva de dólar mais fraco no mundo. Temor de recessão nos EUA cresce, o Fed já mudou de postura para recados bem mais brandos sobre o juro, o CPI e o PPI últimos vieram abaixo do esperado. Para completar, discute-se importante mudança metodológica na política monetária norte-americana, como muito bem descrito na última carta da Verde Asset. Antecipando e resumindo as conclusões: dólar mais fraco no mundo, aumento da inclinação da curva de juros e convivência com taxas reais de juro mais baixas nos EUA, com consequências claras para o mundo todo – se a taxa livre de risco cai, todas as demais, por arbitragem, precisam cair também. Isso nos leva ao último ponto: ao juro por aqui.
Minha ideia é de que a taxa de juro neutra pode ter caído no Brasil. Primeiro acompanhando o mundo, pelo fator acima descrito e também por demografia e tecnologia. E pelas evidências sucessivas de baixa inflação (serviços muito bem no último IPCA) e atividade morta (olha produção industrial recente). Apesar de o Banco Central ainda não ter ido pro discurso mais aberto de chances de corte da Selic, meu entendimento é de que ele acabará sendo vencido pelos dados, em especial se Previdência avançar (como acho que será). Mercado e economistas tendem a ir na frente, autorizando Banco Central a também seguir o caminho sem transmitir ideia de falta de compromisso com a inflação – note que isso já vem acontecendo e é crescente o número de apostas (ah, eu adoro este termo!) numa queda da Selic.