Colunista Empiricus

Felipe Miranda: Morreu e foi pro paraíso (do CDI)

06 dez 2021, 16:27 - atualizado em 06 dez 2021, 16:27

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A alocação patrimonial em diversas classes de ativos se faz a partir do próprio conhecimento de perfil e respectiva associação a exposições estruturais, sobre as quais se estabelecem bandas táticas de aumento ou redução de posição conforme o cenário.”

“As notícias sobre minha morte são manifestamente exageradas.” A frase atribuída a Mark Twain poderia muito bem servir ao mercado de capitais brasileiro.

Os mais crescidinhos, que frequentavam as mesas de operações entre os anos 1980 e 1990, talvez se lembrem de conversas, permeadas por aquele sotaque carioca carregado (esclareço: nada contra; acho charmoso), do tipo: “Nada bate o dólar, nada bate o CDI”. De fato, tínhamos uma jabuticaba curiosa: um produto de alto retorno, baixo risco e liquidez diária, capaz de desafiar a literatura clássica das Finanças Modernas. Vivíamos no paraíso do CDI. Pelos corredores, ouvia-se insistentemente: “Esse é o nosso único bom produto em nível global” — a rigor, o histórico aponta o juro real como o efetivo bom produto brasileiro, mas nuances técnicas podem ser sublimadas numa manhã de segunda-feira.

Então, vieram vários avanços institucionais, a tal estagnação secular, juros mais baixos lá fora e uma pandemia. Teríamos juros civilizados e o “financial deepening” levaria a uma migração estrutural e ininterrupta das aplicações convencionais e muito conservadoras às ações, aos maiores durations e à diversificação internacional.

Era a morte da renda fixa. Mas aí tivemos a volta da pandemia e a inflação voltou com tudo. Foi então que a B3 morreu também. Então, quando parecia que a solução estava nas moedas digitais, as criptos também se juntaram ao plano espiritual com seu falecimento neste fim de semana. Até quem nunca morreu está morrendo…

“Prefiro o paraíso pelo clima e o inferno pela companhia”, recorrendo mais uma vez a Mark Twain. Ao menos o inferno deve estar mais agitado agora.

Por que essa necessidade maniqueísta de caracterizar os investimentos entre vivos e mortos? Em muitas situações — aliás, na maioria delas —, não há essa dicotomia entre classes de ativos sobre serem boas ou ruins. Analistas pensam (ou deveriam pensar) sob rigor científico, ponderando distribuições de probabilidades e cenários plausíveis à frente.

Um pequeno anedótico real para ilustrar o ponto. Noutro dia, minha mãe foi ao médico, que, sabendo que ela era minha mãe, lhe perguntou: “Lúcia, recebi uma liquidez agora e estou querendo ter uma nova fonte de renda. Veja com o Felipe se é melhor comprar alguns imóveis ou montar uma carteira de dividendos. Imóveis são uma boa? E ações pagadoras de dividendos?”. Ofereci a única resposta possível: “Mãe, eu não sei. Fala pra ele que depende. Quais imóveis? Em que região, qual estado de conservação, quanto ele está pagando? E de quais ações exatamente ele estava falando? Também precisaria saber um pouco o horizonte temporal dele e sua disposição a risco…”. Obviamente, o Doutor, que era um leitor assíduo e voraz, passou a me achar um idiota, no que concordo com ele, mas por outros motivos.

A renda fixa nunca morreu, como as ações também não estão mortas agora. Talvez até o contrário. Quando surge esse papo, você pode acreditar numa espécie de ressurreição ao terceiro dia. Neste momento em que os fundos de investimento em ações enfrentam resgates e é pseudodescolado falar nas redes sociais que “a B3 morreu; agora o que pega é Bolsa gringa e cripto”, deveria ser a hora de comprar Bolsa brasileira barata. Mas é difícil convencer o ser humano de seus próprios vieses cognitivos. Todos preferem vender barato e comprar caro depois, quando já subiu, desafiando a lição elementar de finanças.

A alocação patrimonial em diversas classes de ativos se faz a partir do próprio conhecimento de perfil e respectiva associação a exposições estruturais, sobre as quais se estabelecem bandas táticas de aumento ou redução de posição conforme o cenário. É nesse contexto que a renda fixa volta a ser tática e particularmente atrativa.

“A renda fixa nunca morreu, como as ações também não estão mortas agora”, disse o colunista (Imagem: Pixabay)

Temos defendido uma posição importante em renda fixa, combinada, sim, a uma boa exposição em ações, para permitir que o investidor atravesse esse período de grande incerteza macroeconômica e eleitoral brasileiro, alojando-se em papéis de baixo risco com retorno, em especial real, atraente. 

O foco em “juro real” é importante. Um dos grandes erros do investidor neste momento seria, por estar pessimista com a evolução da economia brasileira, esconder-se num prefixado, “para garantir uma boa taxa de juro num período de incerteza”. Se você está pessimista com o Brasil e com medo da inflação, o prefixado oferece um risco enorme, porque os retornos nominais podem ser corroídos pela alta dos preços. Esclarecimento: até gostamos dos prefixados neste momento, porque as taxas de juros das atuais cotações já nos parecem contemplar excessivo prêmio de risco, como se o Brasil tivesse perdido por completo sua capacidade de fazer política monetária e domar a inflação. O ponto é que essa posição não pode ser vista como defensiva, tampouco representar uma parte grande do portfólio.

Para o investidor pessoa física, gostamos particularmente das NTN-Bs (Tesouro IPCA+) de prazo médio e longo, e de títulos isentos indexados à inflação.

Nesta semana, o Copom atualiza a taxa Selic, com expectativa ampla de mais um aumento de 1,5 ponto no juro básico, combinado a sinalização de novos incrementos à frente. Caminhamos para os dois dígitos novamente e o investidor, claro, não pode se furtar a esse cenário de juros mais altos.

Como forma de nos adaptarmos a esse ambiente e oferecer a nossos assinantes uma orientação tão robusta quanto eles merecem, estamos trazendo uma novidade bacana, uma espécie de retribuição, aos clientes da Empiricus: a partir desta semana, nossas recomendações focadas em renda fixa passarão a ser gratuitas para todos os assinantes de alguma série da Casa.

Será um relatório semanal por e-mail, chamado “Super Renda Fixa”, focado em oportunidades atrativas disponíveis nas mais variadas plataformas de investimentos, para que o investidor possa aproveitar títulos interessantes e apurar rendimentos diferenciados. Nas próximas duas semanas, esse material será excepcionalmente divulgado como Day One como forma de apresentar o conteúdo a todos os leitores. Caso pinte alguma coisa nova fora deste calendário formal, também enviaremos alertas extraordinários. 

Ele será capitaneado pela Laís Helena, que faz parte do exército de intellectual navy seals da Empiricus — sim, é a mais pura verdade. A Laís é engenheira eletricista com passagem pela University of Tennessee, pelo MIT e especialização em finanças pela Columbia University. Iniciou a carreira no mercado financeiro com foco no mercado de bonds nos EUA. Após uma experiência na Itaú Asset em NY, ela esteve por três anos no time de Global Macro Strategy da XP Inc. também em NY, cobrindo mercados emergentes asiáticos e Brasil com foco em criação de ideias de investimento de renda fixa para clientes institucionais. Desde maio deste ano, Laís é responsável pela alocação e seleção de fundos globais do time dos Melhores Fundos de Investimento.

Como forma de prestigiar os assinantes do Empiricus High Yield, esses, além de continuar recebendo normalmente o “Super Renda Fixa”, terão um crédito adicional de R$ 50 para gastar como quiserem em nossa loja virtual.

Ficamos felizes em poder dar esse passo neste momento e permitir que o investidor atravesse o período de mais volatilidade dos mercados locais e de maior atratividade dos títulos brasileiros devidamente orientado pelas nossas indicações de renda fixa. Amanhã mesmo teremos a primeira edição. Fique ligado. A combinação de bons títulos de renda fixa com ações de companhias de qualidade a preços muito descontados nunca esteve tão viva.

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