Felipe Miranda: Há um ano, você imaginaria que chegaríamos onde chegamos?
Por Felipe Miranda, CIO da Empiricus Research
Ontem, completamos um ano da eleição do presidente Jair Bolsonaro.
Sejamos sinceros aqui: se, há um ano, eu perguntasse onde estaríamos em 29 de outubro de 2019, você arriscaria algo minimamente semelhante ao que temos hoje, de fato?
De forma concreta, aprovamos uma reforma da Previdência muito superior à expectativa de qualquer “especialista” — com possibilidades adicionais sobre as regras para militares e a inclusão de Estados e municípios — e uma lei de liberdade econômica.
Na cara do gol, existem uma reforma administrativa que pode, no limite, ser tão grande e profunda quanto a previdenciária e a tributária, além de um amplo programa de privatizações, concessões e afins. Assinamos formalmente o acordo comercial com a União Europeia e outras medidas unilaterais aqui e ali.
O Banco Central dá profundidade a uma agenda microeconômica, de redução do custo do crédito e de modernização do mercado de capitais. O Ibovespa marca o recorde de 108 mil pontos, a Selic caminha para a casa dos 4%, a inflação segue sob controle e não há problemas no balanço de pagamentos. O crescimento ainda não veio, é verdade, mas tende a se acelerar no quarto trimestre, rodando a um ritmo anualizado de 2%, ganhando ainda mais força a partir de 2020.
Claro que houve erros no meio do caminho. Tropeços, adversidades, desgastes, idas e vindas, principalmente numa retórica cansativa sobre a agenda de costumes e uma dicotomia hollywoodiana entre o bem e o mal, na versão da família presidencial para o avermelhado “nós contra eles”.
Em termos práticos, porém, as coisas me parecem melhores do que poderíamos supor há 12 meses. Para os fins mais específicos da convivência de nós quatro aqui, arriscaria dizer que, no geral, não contávamos com valorização de 26% para o Ibovespa, tampouco com a porrada seca das NTN-Bs 2050 (embora, à época, nós as tivéssemos defendido como um pregador solitário no deserto).
A primeira coisa que me vem à cabeça: ora, se um ano atrás erramos fragorosamente nossas expectativas sobre o que seria hoje, por que insistimos no estúpido exercício de continuar tentando adivinhar o que será daqui a um ano? Se sempre fracassamos nessa tentativa no passado, não seria óbvio que erraremos de novo agora? Cinco anos atrás você teria alguma ideia de onde estaria hoje?
Repetir o mesmo procedimento esperando um resultado diferente é uma das definições de loucura. O princípio da contraindução de Mário Henrique Simonsen.
A segunda é menos ontológica e mais pragmática. Ao sermos empurradas tacitamente pelo calendário a fazer um típico “balanço de um ano”, vemos um saldo geral positivo, inclusive bem superior às expectativas de consenso lá atrás. Estamos diante de um processo de faxina no Brasil, em suas mais variadas instâncias.
Estamos limpando o excesso de intervenção estatal na economia e todo seu dirigismo contraproducente, retirando a sujeira das nomeações de cargos políticos no governo e nas estatais, abrindo a economia para maior produtividade e vendas externas e acabando com o paraíso do rentismo.
E o mais interessante: é só o comecinho de um ciclo de vários anos, com consequências brutais sobre o crescimento econômico à frente e sobre a valorização de nossos mercados.
Um ano depois, todo aquele otimismo com Bolsa e juro longo do pós-eleições se mostra, ao menos até aqui (essa ressalva é sempre importante e impiedosa), bastante acertado. Seguimos com ele ainda, agora num nível de risco muito menor e mais convictos no racional.
Ontem, também foi o dia em que o fundo Carteira Universa da Vitreo, que busca perseguir as ideias publicadas na nossa Carteira Empiricus, completou quatro meses de vida. Assim, eu me permiti checar o meu próprio extrato na Vitreo — sou o maior cotista individual da gestora e também desse fundo em particular; além do meu otimismo com a cota, claro, a decisão reflete o compromisso ético e moral daqueles que defendem colocar a própria pele em jogo, não só no discurso, mas também com ações e atitudes.
Convido todos aqueles que já são cotistas a fazer o mesmo. Os demais podem conferir o desempenho na CVM.
Foi com grande satisfação que vi a performance superior a 300% do CDI no período. E para aqueles que gostam da referência de retornos absolutos, são mais de 6% de alta em quatro meses.
Pelo que pude apurar, não há, entre os fundos com PL razoável da mesma categoria e perfil de risco semelhante, um retorno superior àquele do fundo Carteira Universa. Isso foi construído com uma pesada exposição a ações, num bom stock picking focado em nomes cíclicos domésticos, e também ao juro longo, ponderada com proteções em dólar e ouro — fiéis à nossa filosofia.
Evidentemente, trata-se de um curtíssimo intervalo de tempo. Quatro meses dizem muito pouco, quase nada. O curto prazo é sempre muito suscetível à aleatoriedade e à sorte. Talvez tenha sido só sorte. Mas ainda prefiro começar subindo do que caindo.
Aconteceu e a alta até agora está no bolso daqueles que acreditaram desde o começo, sem que ninguém possa tirar-lhes isso. Agradeço aqui formal e publicamente pela confiança.
É com grande orgulho (e também alegria; afinal, meu dinheiro está lá) que recebo esse início, certo de que é apenas mais um Day One na nossa vida. Quando começamos a parceria com a Vitreo — também um ano atrás —, muitos duvidaram do que poderia ser.
Hoje, a gestora conta com R$ 2,6 bilhões e 40 mil cotistas. Mais importante: com retornos bem acima do benchmark em todos os seus fundos. Na minha opinião, por exemplo, a Vitreo oferece, com alguma folga, a melhor alternativa de Previdência do mercado.
Há dez anos, ouvi que seria impossível vender assinaturas de investimento para pessoas físicas no Brasil.
Depois, a ideia era que até seria possível vender assinatura, mas se contabilizássemos as performances das carteiras sugeridas, veríamos resultados em linha ou abaixo da média do mercado.
Então, entramos numa terceira fase, em que as carteiras indicadas poderiam até ser bem rentáveis como um trade de papel, mas que, se virassem fundo, aí não! Daí obviamente não daria certo.
A verdade é filha do tempo. Ainda bem. Fatos, dados e números. Só eles. Nada, absolutamente nada além disso.
Daqui a uma semana, a Empiricus completa uma década de vida. Eu não me vejo na posição de dar dicas ou conselhos a ninguém. De verdade. E detesto quem vive ditando regra por aí (normalmente, quem nunca fez nada de relevante).
Mas se há uma coisa que eu talvez possa dizer que me foi uma lição é: não acredite em nada nem em ninguém que não seja a sua própria alma. E alma aqui não necessariamente no sentido religioso ou espiritual. Mas como sua vocação, suas convicções mais viscerais, o daimon do mito de Er de Platão. É só isso que pode levá-lo ao que parecia impossível. O gosto do impossível é incomparável.
Também nesta semana, eu deixei de ser CEO da Empiricus. Por sugestão minha, Caio Mesquita voltou ao cargo, para que eu possa me dedicar de maneira mais exclusiva ao posto de CIO e, assim, estar ainda mais focado na qualidade das nossas sugestões e na nossa relação umbilical com a Vitreo. No final do dia, se parar para pensar, a minha alma é de um gestor de hedge fund. É isso que me alegra.
O fundo Carteira Universa está aberto para novas captações. Provavelmente, porém, por pouco tempo. Ele se aproxima dos R$ 600 milhões de patrimônio e deve ser fechado para novos aportes ao atingir R$ 700 milhões. Falta pouco. Sugiro agilidade aos interessados. Eu mesmo vou mandar mais dinheiro.
Daqui a um ano, alguém pode imaginar onde estará o fundo?