Felipe Miranda: Google calendar; Jeff Bezos e Nassim Taleb, hoje, 10h20
Tenho o péssimo hábito da transparência. No império do tapinha nas costas, dos ternos vazios, das camisas azul-claras combinando com sapatos e cintos marrons, da falsidade interesseira disfarçada de pretensa cordialidade, não pega bem. Paciência.
Você é o que você é, como disse o filósofo Michael Jordan ao deixar o beisebol e voltar para seu habitat natural. A alma tem seus próprios ancestrais e não admite ser traída, é bicho vingativo.
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Deixe-me ser sincero aqui
Acho a equipe de pesquisa de ações da Empiricus a melhor do Brasil. Foi uma construção dura do time, com vários percalços no meio do caminho e muita dificuldade no começo — éramos bem poucos lá atrás e só com muita dedicação e sorte podemos hoje contar com esse exército de 32 pessoas excepcionais, bem-remuneradas e dedicadas, vestidas de farda preta todos os dias. Tenho um orgulho enorme.
Essa é minha opinião. Só isso. Desconfio que ainda posso tê-la. Free man, in a free country. Aliás, onde estão os verdadeiros liberais brasileiros? A começar pelo próprio presidente: nosso mandatário liberal é aquele que manda canetar o aumento do preço do diesel?
Por mais triste que possa parecer e por maior que seja a tentativa de banho de loja, a verdade mesmo é que, na essência, lá dentro, a visão de Jair Bolsonaro sobre a economia parece assemelhar-se muito à de Dilma Rousseff, que, por sua vez, era a mesma do Segundo PND.
Retomo o fio da meada. Confesso, porém, que entre os participantes do mercado não há consenso a respeito da melhor equipe de pesquisa de ações no Brasil. Há aqueles que concordam com minha visão. Outros que colocam, por exemplo, o time do BTG como o mais competente (eu os respeito muitíssimo).
Um terceiro grupo aponta a turma do Credit Suisse (também tem meu respeito) como a preferida. Um quarto que não sabe muito bem diferenciar entre as três. E temos várias combinações entre isso tudo aí. Sem entrar no buy side, claro.
Agora, quando estamos na indústria de fundos de investimento, não há dissenso algum. Por onde você caminhar nessa seara, encontrará o nome da Luciana Seabra de maneira incontestável.
Do gestor pequeno ao maior alocador, passando pelo gênio Luis Stuhlberger (o maior de todos!), o respeito à Luciana é impressionante. Fique claro aqui que não se trata de um esforço individual apenas. Preciso mencionar também a competência de toda sua equipe, nominalmente de Ana Luísa Westphalen, Bruno Marchesano e Felipe Arrais.
Por isso, hoje gostaria de te convidar para conhecer, com os próprios olhos, o trabalho realizado pela Luciana e pelo seu time. Tenho certeza de que pode mudar seu patamar de investimentos.
Se você tem algum dinheiro aplicado em fundos de investimento, um real que seja, é uma espécie de leitura obrigatória. Neste link, você pode ter acesso a 30 dias de degustação da série Os Melhores Fundos de Investimento, de maneira gratuita, para conhecer e ver se gosta.
Feito o convite para sair na sexta-feira, posso mudar de assunto
Talvez você já tenha lido a carta aos acionistas da Amazon divulgada ontem. Esse negócio virou tão pop que já é quase um clichê citá-lo. Dou de ombros. Pode até ser lugar-comum, mas é de arrepiar ao mesmo tempo.
Poxa, tente me entender. Esta newsletter se chama Day One por conta das cartas do Bezos, que insiste ser sempre o Dia 1. Não poderia passar em branco.
Ontem, tive a confirmação de que o nome de batismo foi acertado! Os quatro leitores talvez entendam o ponto. O trecho abaixo é cirúrgico (me desculpem pela porca tradução):
“Conforme uma companhia cresce, tudo precisa ser escalado, incluindo o tamanho de suas experiências fracassadas. Se o tamanho de seus erros não está crescendo, você não está inventando na magnitude que realmente pode mover o ponteiro. Amazon vai experimentar na escala certa para uma companhia do nosso tamanho caso nós façamos, ocasionalmente, erros de muitos bilhões de dólares”.
“Claro, nós não incorreremos nessas experiências de forma arrogante. Nós trabalharemos duro para fazê-las tornarem-se boas apostas, mas nem todas boas apostas vão, ao final, pagar bem.
Esse tipo de assunção de risco em larga escala é parte do serviço que nós, como uma grande companhia, podemos prover aos nossos consumidores e à sociedade. A boa notícia para nossos acionistas é que uma única boa aposta pode mais do que cobrir o custo de várias perdas.”
Numa boa, só eu li isso como um recado talebiano, alinhado rigorosamente ao que escrevo aqui quase todo dia, de que precisamos investir de forma diversificada num montão de coisas que podem nos pagar muito se der certo, e ferir pouco se der errado, de tal modo que uma grande multiplicação, do tipo Magazine Luiza, vai mais do que compensar vários pequenos prejuízos?
Fique claro: não tenho mérito algum nessa convergência intelectual. Eu apenas repito aqui as ideias do Taleb. Sou uma espécie de Lázaro Ramos em “O Homem que Copiava”, operador de fotocopiadora. Não é coincidência o paralelismo das ideias. Bezos já fez elogios públicos ao livro “The Black Swan”.
Essa é a mensagem que eu gostaria de levar ao investidor. O ato de investir obedece às mesmas características da atividade empresarial ou até mesmo das situações mais corriqueiras. Trata-se de um processo de tentativa e erro. Não dá para saber a priori quais das suas tentativas e dos seus investimentos vão dar certo.
São apenas apostas — sem a conotação pejorativa usualmente atribuída à aposta. Não são todas as apostas que vão pagar bem; mas basta que uma aposta pague muito bem, bem o suficiente para sobrepujar vários outros prejuízos.
Quando escrevo isso, sinto, instantaneamente, um incômodo espontâneo, minha espécie de dor nas costas de George Soros. Tenho medo de confrontar pessoas tão mais inteligentes e brilhantes do que eu, mas a verdade é que os parágrafos acima representam, ao menos em alguma medida, uma antítese à Regra 1 e, automaticamente, também à Regra 2 de Warren Buffett. Por ordem, a 1: nunca perder dinheiro; e a 2: nunca esquecer a Regra 1.
Se isso vale para o portfólio como um todo no longo prazo, eu concordo. Agora, se refere-se a posições e erros individuais ou a flutuações de curto prazo da carteira consolidada, a verdade (e me desculpe por isso!) é que discordo dele. Somente um processo de tentativa e erro (no caso, de perda de dinheiro) pode expor o investidor à chance de um grande acerto.
A não ser por uma sorte absurda, simplesmente não dá pra ter uma grande multiplicação do capital se você não se expuser a chances de perda.
Como diz o Paradoxo de Klipp apresentado no livro “The Dao of Capital”, você precisa amar perder dinheiro para poder ganhar muito dinheiro.
É evidente que isso exige saber errar. Regras básicas para isso:
1 – Nas palavras de Taleb, “fail fast, fail small”. Ou seja, se for errar, erre rápido. Isso vai evitar prejuízos muito grandes. George Soros costuma dizer que não é melhor do que a média em termos de taxa de acerto, mas afirma ser ótimo em identificar equívocos e mudar de ideia rapidamente, sem apego a posições erradas. Esse seria, segundo ele mesmo, seu maior diferencial.
2 – Para que a ideia aqui apresentada tenha validade prática, você precisa calibrar adequadamente o tamanho de cada aposta. Não adianta nada se 99,5% de seu dinheiro for direcionado a uma aposta fracassada. Diversifique entre várias e nunca ponha muito dinheiro numa única. Ao escolher individualmente, sempre se lembre da necessidade de que seu prejuízo potencial seja inferior ao lucro potencial.
Ontem me disseram (confesso não ter conferido, porque a fonte era de confiança) que a última carteira da M Square (desculpe, um dinossauro não consegue chamar de Velt) tinha 85% em 33 posições, sendo a maior posição de 5% do fundo e a posição média marcava 2,57%. Alguém entendeu o ponto!
Se foi deliberado ou não, se foi sob a percepção ontológica dos benefícios da convexidade, não sei, mas em termos práticos não importa. Já era fã, fiquei ainda mais.
3 – Para que sejam capturados os benefícios pragmáticos da convexidade, requer-se exposição de longo prazo. Isso não aconteceu do dia para a noite. Para a referência amostral convergir para as propriedades reais, precisamos de tempo.
Nenhuma ação vai se multiplicar por dez no day trade. A Lei dos Grandes Números vale, por incrível que pareça, para grandes números. E a aplicação do Teorema do Limite Central ao caso requer tempo.
Sexta-feira é dia de maldade e por isso encerro com outro trecho da carta da Amazon, em referência às forças dionisíacas, a parte boa do Sistema 1 de Daniel Kahneman:
“O processo de passear, vaguear e perambular (desculpem os três termos, pois não consegui algo melhor para passar a ideia; o original é ‘wandering’) é guiado por pressentimento, palpite, coragem, intuição, curiosidade e empoderado por uma profunda convicção de que o prêmio para os consumidores é grande o suficiente ao ponto de fazer valer a pena ser um pouco bagunçado e tangencial, para realmente descobrir qual a rota certa. Perambular erraticamente é uma contrapartida essencial à eficiência.
Você precisa aplicar ambos. As descobertas de fato grandes — aquelas de cunho não linear — são altamente dependentes do vaguear aleatório.”
O investimento é uma atividade pertencente aos praticantes, daqueles que se dispõem a abrir-se para a vida com a mente aberta. É só isso que pode desenvolver sua intuição e guiá-lo na direção de bons lucros.