Empiricus Research

Felipe Miranda: Crianças, não briguem – é o investidor quem deve ganhar

13 fev 2019, 10:35 - atualizado em 13 fev 2019, 10:41

Por Felipe Miranda, CEO da Empiricus Research

 

“Eu não faço nada, não. Mas sou muito bom no que faço”, diz João Estrela (Selton Mello), dando aquela xavecada básica na Sofia (Cleo Pires), em “Meu Nome Não É Johnny”. Gosto do filme, do Selton Mello e, óbvio, da Cleo Pires.

Às vezes, querendo falar para todo mundo, corre-se o risco de não falar para ninguém. Para erros e fracassos, sou um grande sucesso – tenho o maior hit rate da indústria. Paciência. Lá vamos nós sermos vividos pelas ideias que nos acometem a cada manhã, no ritmo e na frequência determinados por elas. Assim mesmo: são as ideias o agente da frase. Somos vividos por poderes que fingimos entender, resumiu Wystan Auden.

O texto de hoje possui três partes. A primeira se volta mais àqueles que acompanham o noticiário financeiro de perto – o leitor mais leigo e apressado pode pular essa parte. A subsequente direciona-se aos menos assíduos. E a última retoma um pouco as conversas aqui tratadas na semana passada, tentando esclarecer alguns pontos em relação a agentes autônomos – antecipo uma das conclusões: os AAIs, embora não consigam ver agora em meio ao tiroteio, serão os grandes beneficiados dessa história toda.

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Parte I – Vitória de Pirro: quem ganha nessa história?

Sendo sincero com você, nunca fui dos maiores fãs da gestão de José Zitelmann à frente dos fundos de renda variável do BTG. Sempre respeitei, claro. Não o conheço pessoalmente, mas sempre acompanhei o desempenho do famoso Absoluto, o fundo de ações carro-chefe por lá.

Sei de todo renome e reconheço o bom histórico – aliás, não há como negar isso; seria brigar contra a realidade. Também registro que pessoas mais próximas ao sujeito já me fizeram elogios rasgados a seu respeito. A própria Luciana Seabra já falou muito bem dele pra mim. E se a Lu falou algo sobre o universo dos melhores fundos, eu valorizo demais – é ela quem realmente entende do riscado.

Não é, porém, o estilo de gestão que me atrai. Para comprar Localiza, Lojas Renner, Ultrapar (ao menos nos velhos tempos), Equatorial, Itaú, Iguatemi, B3, Hypera e coisas parecidas, a mamãe também poderia escolher bem; seria ótima gestora de ações. Sem ofensas, mãe.

Entendo os méritos desse tipo de gestão, de verdade. Só, na minha opinião, não parece justificar pagar 2 com 20. Para comprar coisas um tanto óbvias, eu mesmo faço. Não quero convencer o eventual leitor discordante a mudar de ideia. Só também não preciso ser convencido da opinião contrária. Envios de retornos históricos e Sharpe Ratios não vão alterar minha cabeça. Agradeço, mas dispenso o esforço. Concordamos em discordar e está tudo bem. Ciclos em que o quality (ações de qualidade) liderou os movimentos vão beneficiar os fundos… quality. De novo, é mais beta do que alfa.

Mas não é este o ponto central aqui. Estou mais interessado nas decisões de alocação a partir da saída de Zitelmann do BTG, com gente importante da indústria sugerindo “zerar a posição” nos fundos anteriormente geridos pelo executivo. Não é uma questão aqui sobre a qualidade ou a falta dela do fundo, mas, sim, das motivações por trás da mudança intempestiva de opinião.

Meu receio é de que esse alocador esteja misturando um pouco as coisas, passando brigas pessoais, disputas concorrenciais e outras desavenças à frente do real interesse do investidor. Note que esse mesmo alocador não mexera em nada de suas sugestões de posicionamento quando da saída de James de Oliveira, com posição muito mais relevante do que de Zitelmann no BTG, em 2016 – enquanto o primeiro era head de renda fixa, crédito e multimercados, o último era “apenas” head de equities.

Na tentativa de eliminar concorrentes, pode-se até obter vitória, às custas, porém, do investidor. É ele quem acaba orientado por interesses sub-reptícios de segunda ordem, por vezes não muito claros – indicações de investimento feitas para atender uma agenda oculta não costumam dar bons frutos.

Feito à luz do dia e com recorrência, esse tipo de prática vai acabar sendo percebido pelo próprio cliente e investidor. E se você não tem foco exclusivo no cliente, importando-se mais com a concorrência do que com aquele que efetivamente sustenta sua própria companhia, o bumerangue, cedo ou tarde, acaba se voltando contra você.

Tenho outro ponto rápido a falar sobre o escopo e as fofocas do mundo de fundos. Talvez o eventual leitor mais assíduo tenha lido por aí matérias negativas sobre a gestora SPX após a saída de dois sócios. Como eu havia indicado aqui o fundo Nimitz, ainda aberto para aplicações na Ágora Corretora, recebi e-mails questionando sobre manter ou não o dinheiro lá aplicado. A tal matéria só pode ter sido escrita por alguém que: i) não conhece a SPX; ii) também carrega uma agenda “diferente” debaixo do braço; ou iii) sem querer digitou errado “SPX” enquanto queria, na verdade, falar de outra gestora. A hipótese iii me parece a mais provável.

Apesar de menos provável, a hipótese de que certos jornalistas (uma minoria, felizmente) escrevem matérias apenas para gerar cliques ou com interesses ainda mais escusos me desperta bastante medo. O objetivo deveria ser apenas o de informar e orientar o investidor.

Se você quer ler sobre a SPX e não sobre a outra gestora marciana tratada por aí, sugiro a leitura da excelente matéria da Luciana Seabra para o Seu Dinheiro.

Parte II – Trilemas impossíveis ou (triângulos quase amorosos)

A Economia está cheia dos chamados “trilemas impossíveis”, a incapacidade de três coisas, por vezes desejadas, conviverem simultaneamente na mesma intensidade. O caso mais importante talvez seja da combinação entre eficiência, equidade e liberdade – em tese, valores perseguidos por qualquer sociedade. O problema é que quase nunca conseguimos ter as três coisas ao mesmo tempo.

Também é bastante famoso o tal “trilema mundelliano”, a ideia formalizada por Robert Mundell de que um país nunca conseguirá ter de maneira simultânea conta de capital aberto, câmbio fixo e controle da taxa de juros – precisará abrir mão de uma delas.

Nas Finanças, também encontramos certos triângulos pouco amorosos. Todos nós gostaríamos de ter ao mesmo tempo altos retornos potenciais, baixo risco e muita liquidez. Infelizmente, porém, não é possível. O ativo com essas três características não existe. Os mercados são informacionalmente muito eficientes e, se percebessem essa superoportunidade, logo sairiam comprando aquilo, comprimindo na velocidade da luz os retornos potenciais. Daí vem a ideia de que não há almoço grátis no mercado ou, numa linguagem um pouco mais técnica, não há oportunidades de arbitragem.

Por que estou falando isso agora?

Pelo seguinte: com Selic de 6,5 por cento ao ano de maneira sustentada e Ibovespa a 100 mil pontos, cada vez mais precisaremos correr riscos atrás de bons retornos potenciais.

A verdade é que as pessoas, ou ao menos parte delas, já perceberam isso. Na minha experiência aqui na Empiricus e também por conversas com outros players relevantes, percebo que a tal onda de “desbancarização” e a migração em direção a ativos financeiros mais sofisticados estão se intensificando nos últimos meses – entendo que deverá ser assim por um bom tempo ainda.

Daí ocorre algo sensível: haverá muitos novos entrantes no mercado, muitos deles sem o devido conhecimento. Eles são muito bem-vindos, claro, mas precisam ser orientados adequadamente. Para atendê-los, ter uma equipe grande, dedicada e sem conflito pode ajudar nisso. Humilde e eticamente, entendo que o sobrenome dessa combinação é Empiricus. É a única a atender essas três condições no mercado de capitais brasileiro simultaneamente.

Mas não se trata de propaganda aqui. Meu objetivo em trazer o tema à superfície é apenas de mostrar para o investidor onde ele está se metendo. O sujeito não pode se animar fortemente com os ganhos (grandes) das carteiras em janeiro e, ao mesmo tempo, desesperar-se com as perdas, marcadas a mercado, do início de fevereiro – e olha que as perdas foram muito modestas. Se você quer ter o alto retorno de janeiro, precisará incorrer no risco de encontrar um início de fevereiro pela frente.

Eu adoraria lhe oferecer 30 por cento ao ano, com liquidez diária, sem volatilidade e sem risco (faço questão de separar as duas últimas coisas, porque elas são bem diferentes, apesar do equivocado tratamento igualitário a elas conferindo pela maior parte do mercado). Infelizmente, porém, eu não consigo. Ninguém consegue. Por favor, nunca se esqueça disso.

Como alertou Warren Buffett, se você não é capaz de tolerar ver sua ação momentaneamente caindo 50 por cento, você não deve estar na Bolsa. Está tudo bem, sem ressentimentos. É apenas uma questão de estilo e perfil.

Parte III – A verdade vos libertará

Os quatro leitores mais assíduos talvez se lembrem de minhas críticas, na semana passada, à estrutura de incentivos conferida à relação entre corretoras, agentes autônomos e seus clientes. O velho ditado resume a parada: quem parte e reparte fica com a melhor parte. Quem vende e aconselha (ou sugestiona, pelo menos) está sujeito ao conflito de interesses.

Não deveria ser segredo pra ninguém. É intuitivo e está na literatura. Ainda assim, parte do pessoal fica chateada. Ninguém quer ter expostas as próprias mazelas. Afinal, a crítica que mais inflama o criticado é justamente aquela que expõe os problemas de maneira incisiva e cirúrgica.

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O que eu gostaria humildemente de dizer aos os agentes autônomos:

1 – Não se trata de colocar todos na mesma cesta. A maior parte de vocês é competente, séria, dedicada e honesta. Mas isso não é uma abordagem pessoal. O problema é a estrutura de incentivo. E ela pega todo mundo. O modelo, em sua essência, é conflitado. Essa – e só essa – é minha crítica. Venda e sugestionamento precisam estar separados, em qualquer empresa.

2 – A suposta “briga” vai ser boa para o AA no final. Ao jogar luz sobre o problema e enfrentar competição mais justa, a corretora vai ser obrigada a fazer concessões (já começou a fazer, inclusive). Aliás, boa parte das críticas era justamente para que a corretora divida mais com o agente autônomo – a tal custódia disfarçada ou taxa de corretagem adicional colocada ao final das notas de corretagem que tanto critiquei era um exemplo claro disso. A corretora que cobra essa taxa de “outros” não a divide com o agente autônomo – foi um jeito de dar um drible e se apropriar de mais margem.

3 – A maior exigência por parte do cliente bem-informado vai diferenciar o bom AA do ruim. O bom vai dar transparência do que faz. O ruim não vai poder mostrar as esfoladas no cliente. Se você faz parte dos bons, estará em vantagem sobre os demais e atrairá mais clientes. A verdade é instrumento para catalisar a meritocracia. A Transparência Radical de Ray Dalio, por exemplo, se liga umbilicalmente à meritocracia de ideias. Não dá para ter a segunda sem a primeira.

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