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Felipe Miranda: B3, habitada por um deus

16 nov 2020, 12:55 - atualizado em 16 nov 2020, 12:55

“[A] melhora nas projeções de crescimento da economia traz desencadeamentos relevantes para os ativos de risco”, diz o colunista
Quando os gregos antigos viam uma pessoa com luz própria muito forte entrar num ambiente ou destacar-se numa conversa, usavam a expressão “en + theos” para defini-la. Era a ideia de que o sujeito estava habitado por um deus — opto pela letra minúscula não por desrespeito a Ele, mas pela referência politeísta.

Essa é a etimologia de “entusiasmo”, que chegou a ser considerada a palavra da moda durante o Renascimento na Europa, quando a saída das trevas do feudalismo e o desenvolvimento científico e artístico abriram espaço para um mundo novo, apoiado em pesquisa e empreendedorismo.

Não há palavra melhor para caracterizar meu estado de espírito no começo desta semana. 

Poderia começar pelo flerte do MSCI World com novo recorde histórico. Sem dúvida, máximas históricas para as Bolsas globais me animam. Mas não é só isso. Mais até do que o comportamento positivo pontual, é a confirmação de certas teses de investimento e de tendências estruturais que me traz grande motivação.

O primeiro ponto é a volta do estrangeiro à Bolsa brasileira, depois de muito tempo ausente. Nos primeiros dez dias de novembro, o ingresso líquido de recurso gringo monta a R$ 12,7 bilhões. Somente no dia 10, a entrada líquida foi de R$ 4,9 bilhões, maior aporte diário desde agosto de 2011. No dia 9, o saldo líquido já havia sido recorde, em R$ 4,5 bilhões. No ano, o fluxo ainda é negativo em R$ 72 bilhões, mas a inversão de tendência chama atenção e sugere prováveis novas entradas à frente, porque a dinâmica dessa turma costuma ser aglomerada em clusters e dificilmente posições grandes são montadas em apenas poucos dias.

Gringo faz preço e pode ser o catalisador para um rali de fim de ano superior mesmo às estimativas mais otimistas. O comportamento está alinhado com a visão de que a eleição de Joe Biden poderia representar enfraquecimento do dólar e retomada do interesse por ativos emergentes. As notícias favoráveis de uma vacina contra a Covid-19 e, na margem, o menor barulho sobre a política fiscal brasileira frente ao observado em setembro e outubro corroboram o argumento.

A segunda questão relevante se refere ao maior dinamismo da economia doméstica. O IBC-Br de setembro subiu 1,29%, contra estimativas de alta de 1%. A referência, combinada a outras já divulgadas, claro, disparou uma série de revisões para o PIB brasileiro no terceiro trimestre. O Credit Suisse subiu sua estimativa de 7% para 9,1%; o UBS, de 8,5% para 9,5%; o Barclays, de 8% para 8,7%. Já o Itaú levou sua expectativa para o PIB em 2020 de -4,5% para -4,1%; para 2021, subiu de 3,5% para 4%.

Além de um movimento importante em si, essa melhora nas projeções de crescimento da economia traz desencadeamentos relevantes para os ativos de risco. Primeiro no sentido de traçar melhor prognóstico para a dinâmica da dívida pública brasileira. Se o PIB cresce mais rápido, a razão dívida/PIB fica menos pressionada. Em paralelo, mais PIB significa mais arrecadação pública e menor déficit orçamentário. Cai a percepção de risco sobre o país como um todo, com impactos significativos sobre os mercados.

Não quero, com isso, passar a impressão de que dou por superados nossos problemas fiscais. Passa longe de ser o caso. Mas, na margem, estamos melhores agora frente às preocupações mais intensas dos últimos meses, dada a recuperação mais acentuada da economia. Ativos se movem justamente a partir das informações na margem, das novidades.

Ainda dentro desse espectro, a revisão das projeções para o PIB enseja provável revisão também das estimativas para os lucros corporativos, que, por sua vez, resultam em preços-alvo maiores para as ações. Esse processo de revisão de expectativas pelos analistas é normalmente um driver importante para as ações. 

Por fim, preciso falar do ambiente corporativo propriamente dito. Estávamos com a tese de que os resultados do terceiro trimestre seriam bons e mostrariam uma recuperação mais intensa do que o pressuposto pelo consenso.

Segundo Felipe Miranda, a B3, apesar de não ter encontrado reação favorável ao resultado, mostrou números muito fortes e também um pouco acima das projeções (Imagem: YouTube/B3)

Com efeito, os números, em geral, têm superado as nossas projeções mais otimistas.

Na semana passada, tivemos a confirmação de algumas teses importantes nossas nessa direção. 

Mitre superou as projeções de consenso da primeira à última linha, confirmando a tese de crescimento e muito valor lá na frente.

B3, a despeito de não ter encontrado reação favorável ao resultado, mostrou números muito fortes e também um pouco acima das projeções, com receita crescendo 35% ao ano, para um case de grande alavancagem operacional. A companhia cresce mais rápido do que pares internacionais e negocia cerca de 20% mais barata. 

Yduqs mostrou dinâmica de resultados incomparável a Cogna ou Ser. Direção clara e empresa na mão, management de qualidade, com sinalização importante de que o pior ficou para trás. Drivers de crescimento notáveis com medicina e integração da Adtalem, com opcionalidade brutal vindo do digital e de eventual M&A. Tive a oportunidade de conversar com o management da companhia e me senti especialmente confortável com o case, absurdamente depreciado em Bolsa e um dos grandes beneficiados do processo de reabertura das economias.

Natura simplesmente voou, com uma performance muito forte da marca no Brasil e na América Latina, além de Aesop e The Body Shop. Isso com Avon ainda sem estar tão azeitada. Se conseguir levar para a Avon margem parecida com aquela da marca Natura, é para dobrar aqui.

Oi confirma seu turnaround executado sem falhas, com explosão da receita vinda de fibra e boa expansão de margem Ebitda. Consumo de caixa reduzindo bem e empresa na iminência de vender ativos. Confirmação da venda da operação móvel e ofertas firmes pela InfraCo podem vir ainda este ano, o que, se efetivamente rolar, poderia levar a ação para cima de R$ 2,30.

E para não esquecer do longo prazo, termino hoje com um lembrete sobre previdência e o quanto você vai pagar de imposto no ano que vem. Se você, assim como eu, recebeu juros do Tesouro Direto na conta nesta segunda-feira, talvez possa considerar fazer um plano PGBL, com vistas a pagar menos Imposto de Renda, caso você faça a declaração completa, dado o abatimento de até 12% da renda líquida tributável.

Essa é a hora de pensar em otimização tributária. Há vários bons fundos de previdência disponíveis no mercado. Evidentemente, meus favoritos são os da Vitreo, onde estão meus próprios planos e os dos meus filhos. A plataforma de investimentos está com promoção de redução dos mínimos em previdência e com apenas R$ 100 mensais ou um aporte de R$ 1 mil você já consegue contratar. Minha sugestão é dividir entre o Carteira Universa Previdência e o FoF SuperPrevidência.