Felipe Miranda: Às vezes, é preciso gritar para ser ouvido
Por Felipe Miranda, CEO da Empiricus Research
“Não me peça que eu lhe faça
Uma canção como se deve
Correta, branca, suave
Muito limpa, muito leve
Sons, palavras, são navalhas
E eu não posso cantar como convém
Sem querer ferir ninguém”
Belchior – Apenas Um Rapaz Latino-Americano
Se tivesse de apostar numa sequência para o roteiro da série Billions, não compraria muito a tese de protagonismo duradouro para a Taylor. Para mim, Bobby Axelrod vai esmagá-la muito rapidamente, triturando cada um de seus ossos de maneira impiedosa. Ela será atropelada por um rolo compressor.
Pode até ser difícil ensinar truques novos para cães velhos, mas, ao mesmo tempo, somente a experiência de muitos anos na estrada pode aguçar-lhes o faro. E sem um bom olfato, meu caro, você não é ninguém neste jogo. Como é valiosa uma boa sensibilidade…
As mãos calejadas, as costas tatuadas por cicatrizes adquiridas por chibatadas ao longo do caminho e a pele desgastada pela exposição direta ao sol, sem tempo para repouso à sombra, desafiam qualquer capacidade cognitiva supostamente superior, típica da sabedoria arrogante dos jovens muito bem preparados tecnicamente, cujas epidermes lisas guardam atratividade estética enquanto tentam esconder a falta de experiência.
Os verdadeiros inimigos ainda são os caras velhos (“the old and tough guys!”), aqueles contra os quais, por mais que tentemos lutar contra, continuam lá, incólumes, cercados de uma rede protetora de lobbies e interesses estabelecidos. Taylor não pertence ao clube.
Desculpe se você não assiste a Billions. Não importa muito. A metáfora serve apenas para transmitir uma única ideia: os inimigos de verdade ainda são os bancos! É lá que está quase a integralidade do dinheiro do investidor pessoa física no Brasil, rendendo pouco em produtos caros. Toda uma grande farsa de famílias felizes com Golden Retriever no quintal e dois filhos lindos andando de bicicleta, “ricas” por terem comprado PICs e títulos de capitalização.
E é isso que precisamos combater, de maneira implacável, um dia após o outro, sem tergiversar, obstinados numa perseguição obsessiva (é necessária ser obsessiva, porque somente algum nível de patologia nos fará seguir em frente, mesmo quando tudo parecer jogar contra o objetivo maior) contra esse sistema corrompido, que se traveste de “feito para você”, finge “colocar você sempre à frente” ou se coloca como “bom para todos”.
Acima desses ou de qualquer outro interesse estabelecido, a Empiricus luta pelo investidor. Essa é a nossa causa. Tudo e só isso. E peço para que entenda a dificuldade de se lutar por esse cara. Não somente os inimigos são grandes e poderosos, numa disputa Davi e Golias. Vai além. Nossos alvos são tangíveis, instantâneos e diretos, materializados em imagens e instituições públicas e concretas. Enquanto isso, nosso “exército” (me desculpe a referência bélica, mas realmente não encontrei simbolismo mais apropriado) é difuso, desfocado, disperso e, pela essência da coisa, desorganizado. É uma luta dura, em que qualquer vitória exige sangue, suor e lágrimas.
Por isso, em determinadas situações, precisamos gritar. Somente assim poderemos ser ouvidos. Às favas com os escrúpulos! Que delícia! Sempre quis usar essa expressão, desde quando assisti à peça homônima com o Juca de Oliveira (nossa, ele babava tanto que quase ofereci meu guarda-chuva para a atriz coadjuvante). Checked!
Com qual tipo de linguagem você espera que eu trate um absurdo?
Se você trata o absurdo como normal, o absurdo vira você mesmo. É como no clássico de Taleb: se você vê uma fraude e não grita “fraude”, a fraude é você.
Poucos conseguem ver toda a mágica no absurdo – talvez seja por isso que tenha gostado tanto daquele Hangout que fiz com o Lobão em 2014; perdoe a digressão. No dia em que eu perder a capacidade de me indignar, por favor, proíbam esta caneta de encontrar a folha de papel.
Onde estão as boas denúncias contra os produtos ruins e os apontamentos na direção dos bons investimentos? Já que estamos no clima Belchior (que homem!): nunca mais meu pai falou “ She’s leaving home” e meteu o pé na estrada, “Like a Rolling Stone…” Onde estão os dedos em V, cabelos ao vento, amor e flor, querendo cartaz?
Às vezes, eu escrevo para todo mundo. Às vezes, confesso, mando recados subliminares (só de segunda a sexta), em subcamadas que, se não forem percebidas, não atrapalham em nada a compreensão geral. Há horas mais escuras em que escrevo para mim mesmo, como um processo terapêutico de autoanálise e reflexão. E existem alguns dias em que falo com grupos específicos. Hoje é um desses.
Escrevo nesta quarta-feira para todos aqueles que investem dinheiro (pode ser um real!) num fundo de previdência de um grande banco. Se você pertence a este grupo, por favor, com todo o respeito e a devida humildade, peço gentilmente que preste atenção nos dados a seguir. Muito provavelmente, você está fazendo uma coisa errada.
Hoje há no Brasil cerca de 800 bilhões de reais investidos em fundos PGBL e VGBL. É o terceiro segmento da indústria de fundos, perdendo apenas para os nichos de renda fixa e multimercados. Desse total, 93 por cento estão aplicados em fundos de renda fixa. Aí já está um primeiro absurdo. Se você investe para longo prazo, pode (e deve!) contemplar um maior pedaço de renda variável no bolo. Vamos em frente.
O grosso da grana está mesmo nos bancões, claro. Sempre eles! Os dados não estão 100 por cento atualizados, mas isso não muda nada. O Banco do Brasil lidera o ranking das reservas, com 235 bilhões de reais, seguido por Bradesco (194 bilhões de reais), Itaú (180 bilhões de reais), Caixa (55 bilhões de reais) e Santander (42 bilhões de reais).
Os cinco maiores fundos de Previdência da indústria totalizam 208 bilhões de reais, ou seja, quase 30 por cento da categoria. Nenhum desses fundos bate o CDI em janelas de 36 meses. Dos 835 fundos com mais de 36 meses, 69 por cento estão abaixo do CDI.
Meu Deus! Por favor, entenda a barbaridade. Se, grosseiramente, podemos tomar o CDI como uma espécie de média de referência desse mercado, caímos quase num paradoxo lógico de que 70 por cento dos fundos estão abaixo da média!
Só uma breve digressão a respeito disso. Coisa rápida, mas que considero essencial. Dada a minha defesa recorrente da eficiência dos mercados, algumas pessoas têm me escrito com exemplos de fundos que têm conseguido bater seus respectivos benchmarks. O que lhes parece escapar é que, em uma distribuição gaussiana, 50 por cento da amostra vão mesmo superar a média. Confundir competência sistemática com mera imposição da aleatoriedade é um dos grandes erros neste mercado, inclusive por gente que se diz profissional.
Volto.
Pra encerrar, claro, apesar do desempenho pífio dessa turma toda, eles continuam cobrando de você uma taxa alta para administrar seu dinheiro. Eles fazem um mau trabalho e você paga caro mesmo assim. Olha que beleza.
Minha indicação hoje é bastante objetiva. Se você tem algum plano de previdência dentro de um dos bancos grandes, migre agora mesmo para algum outro. Conforme talvez você já saiba a esta altura, meu favorito nessa indústria é o Vitreo FoF SuperPrevidência , uma espécie de carteira dos melhores fundos da indústria selecionada pela brilhante Luciana Seabra e referendada pela diligência própria da também brilhante turma da Vitreo Gestão.