Opinião

Felipe Miranda: Amor Fati 2.0, Universa conspira a favor do seu dinheiro

20 maio 2019, 10:26 - atualizado em 20 maio 2019, 10:26

Por Felipe Miranda, CEO da Empiricus Research

Com grande satisfação, divido com vocês quatro a informação de que Angela Bittencourt foi agraciada pela Ordem dos Economistas do Brasil com o prêmio de “Jornalista Econômico de 2019”.

Angela, agora de forma pública, receba meus sinceros parabéns.

Como você provavelmente sabe, Angela Bittencourt escreve esta newsletter às quintas-feiras. É com alegria que recebemos a notícia, pois sinaliza estarmos no caminho acertado para prover aos leitores da Empiricus simplesmente o que há de melhor em termos de conteúdo econômico-financeiro. Jamais tergiversaremos dessa rota.

Do prêmio parecia emergir espontaneamente uma pergunta-corolário: se a eleita com o prêmio “jornalista econômico de 2019” trabalha na Empiricus, qual atividade desempenha a Empiricus? A empresa estaria ou não circunscrita ao ambiente eminentemente jornalístico e editorial?

A obviedade da resposta permite que passemos a outro tema. Às vezes, acho que o universo (ou seria a Universa?) conspira a favor.

Vamos lá.

George Soros passou a infância tentando sobreviver à perseguição do holocausto. Talvez isso tenha desenvolvido um instinto e uma intuição para a sobrevivência, inclusive financeira. Ele é autoproclamado um “animal of the markets” (um animal dos mercados). Apesar de multibilionário e pertencente ao hall da fama de gestores de hedge funds, Soros destinou boa parte de seu tempo a conquistar respeito intelectual e reconhecimento de pares como um grande filósofo. Em algumas passagens do estupendo livro “George Soros: Definitivo”, que, inclusive, faz parte do nosso Empiricus Books, parece haver ali uma questão mal resolvida por nunca ter angariado a admiração intelectual de Karl Popper, a quem apresentou a “teoria da reflexividade”, tendo como retorno interesse desprezível.

Se você tem preocupações metodológicas com investimentos, esse tipo de coisa importa. Digo isso não no sentido de uma disputa intelectual diletante, egocêntrica e desprovida de aplicação. Mas no sentido de que um arcabouço metodológico e até mesmo filosófico pode fazer diferença para sistematicamente ganhar dinheiro nos mercados. Você sai do campo de um ou dois acertos aleatórios para um desenvolvimento sistemático e recorrente de um instrumental analítico, capaz de ser replicado várias e várias vezes. Um método e uma filosofia são como uma teoria geral — e teorias gerais são… gerais! Sem isso — e ainda que esse método seja tácito e intuitivo apenas —, você está sujeito à maré das circunstâncias de situações particulares.

No dia 18 de novembro de 2016, escrevi um Day One cujo título era: “Amor Fati”. Ali estava escrito:

 Sob as restrições das leis da natureza, resta-nos aceitar nosso destino, em sua integralidade, mesmo em seus aspectos mais cruéis, dolorosos ou sádicos. Mais do que apenas aceitar, devemos amar o que vem pela frente, naquilo que os estoicos e Friedrich Nietzsche chamam de ‘amor fati’, expressão latina usada justamente para descrever o amor ao fado ou ao destino.”

Traduzindo para o universo das finanças, era uma prescrição para a montagem de portfólios, para que estivéssemos preparados para qualquer situação que viesse a se colocar diante de nós. Não importava muito qual cenário-base era esperado à frente; você precisaria ser capaz de lidar com qualquer coisa que viesse. Assim uma carteira deveria ser construída. Vale para os investimentos e para toda a vida.

Evidentemente, essa abordagem deveria ser perseguida ex-ante. Ou seja, você precisaria se preparar para um evento (mesmo negativo) antes de sua ocorrência. A posteriori, poderia ser tarde demais. Se estiver pronto para amar qualquer cenário, você poderá, por exemplo, encarar as quedas do mercado como oportunidade de montar posição. Será uma oportunidade de amar o seu destino, ainda que o evento encontre também a possibilidade de ser visto como algo ruim.

Ou você fica reclamando da queda, ou fica feliz com a chance de comprar mais barato. Cabe a você dar ao destino ódio ou amor. Aqui não tenho como não recuperar mais uma vez a frase de Warren Buffett: “Somente os vendedores líquidos de ações devem se preocupar com queda em seus papéis; os demais devem motivar-se pela oportunidade de comprar títulos cujo valor intrínseco não mudou por um preço mais barato”.

Confesso que tive uma grande felicidade pessoal nesse final de semana. Antes de trair a Virada Cultural brasileira com o cinema argentino (vejo tudo do Campanella e não poderia perder “A Grande Dama do Cinema”), andei como um flâneur na internet para cair no site da Universa Investments, o novo nome da firma de Nassim Taleb e seu sócio Mark Spitznagel. Antes, chamava Empirica — não precisa ser gênio para saber que copiamos o termo e demos um pequeno “twist” para batizar nossa pequena Empresa. A Empiricus tem em Nassim Taleb (e em seu sócio, claro) sua grande referência intelectual e também prática.

Ao entrar em www.universa.net e clicar na aba “risk mitigation”, você se depara com um texto de Mark Spitznagel chamado “Amor Fati” — é rigorosamente a mesma ideia. Antes das suposições de plágio da minha parte, o texto de Spitznagel data de janeiro de 2019. Ah, claro: também não estou aqui dizendo que houve plágio da parte dele. Óbvio que não. Fico feliz por haver uma espécie de “zeitgeist” em torno do tema e por notar que nossa pregação de alinhamento metodológico com a Empirica/Universa não se limita a uma retórica sem aplicação.

Spitznagel, invocando Nietzsche, diz assim:

 Imagine que um demônio se aproxima de você e declara que você terá de viver sua vida exatamente como você a viveu — incluindo o mesmo retorno de seus investimentos, com todos os lucros e todos os prejuízos — por toda eternidade.(…)

Você beijaria ou amaldiçoaria o demônioSob a ótica dos investimentos, sua resposta definitivamente dependeria de seus resultados, o que você só poderia saber ex-post.

Mas é possível se preparar ex-ante (anteriormente ao conhecimento dos resultados) para responder positivamente à pergunta, independentemente da trajetória dos mercados. Isso é o amor fati, amar seu destino, um imperativo existencial que Nietzsche tem como a fórmula para a grandeza como ser humano, e é o segredo para investimentos de sucesso.

Mais do que nunca, investidores precisam otimizar seu risco investindo de tal forma que, a despeito do que vier a acontecer, eles possam dizer, como Nietzsche exorta, ‘assim eu quis’. Qual afirmação melhor se pode haver para a mitigação de risco de um portfólio.”

Trata-se de uma mudança importante de abordagem. Você desiste de tentar adivinhar qual cenário futuro vai se materializar e de montar posições a partir dessa perspectiva. Você passa a contemplar todas as possibilidades e como elas podem afetar seu portfólio; então se posiciona de modo a poder amar cada uma das coisas que vier a acontecer.

Chega de desculpas do tipo “Oh, eu tive azar com esse evento inesperado, minha expectativa estava certa”. Como diz Spitznagel, “nós não temos o luxo de estarmos certos apenas na nossa expectativa ou em teoria”. Nós temos de estar certos e ponto-final.

“Precisamos essencialmente nos certificar sobre todas as vias possíveis; temos de ter coberto todas as bases. Sermos robustos a cada caminho realizado efetivamente.” E, mais importante: “Nós realmente precisamos nos proteger de estragar tudo”.

Isso significa duas coisas principais.

A primeira delas é que cada momento da trajetória de um investidor precisa ser valorado de maneira adequada. Não se trata de olhar parte de algum momento médio. É passo a passo. Um único acontecimento pode estragar a brincadeira toda. “Isso porque, você vê, são as grandes perdas que realmente importam em retornos compostos.” Se você perde 50 por cento em um ano, precisará subir 100 por cento depois para voltar ao mesmo nível. Nunca se esqueça disso. Perdas grandes importam mais do que qualquer outra coisa. Cada investimento, cada momento interfere em toda caminhada de maneira eterna. Os retornos passados persistem no presente e no futuro pelo efeito da matemática dos juros compostos. Uma única grande perda machuca seu CAGR (taxa de crescimento composta) de maneira desproporcional e exagerada, como se nunca fosse embora de sua trajetória de longo prazo.

A segunda coisa é que no percurso da construção patrimonial você vai precisar se expor a riscos. Esconder-se ou não correr risco algum é igualmente bastante arriscado — a rigor, no longo prazo, essa é uma forma bastante confiável de estragar nosso destino. O objetivo não é correr risco, mas, sim, otimizá-lo — a ponto de encarar de frente ou até mesmo amar certos desastres, fazendo uma limonada dos limões que a vida vai nos oferecer.

Resumidamente, recorrendo mais uma vez a Spitznagel: “Pense em toda a trajetória, em cada momento, no longo prazo e geometricamente, com todos os lucros e prejuízos compostos a partir de qualquer que seja o acontecimento à nossa frente. (…) O imperativo existencial de Nietzsche é para apreciar e proteger aquilo com o que temos de trabalhar, ou seja, nosso capital investido. É tudo que temos para eternidade. Não somos vítimas infelizes, mas participantes ativos dos mercados. Portanto, nós precisamos amar nosso destino seja ele qual for. Em termos práticos, isso representa evitar grandes perdas e seguir no jogo.”

Se a semelhança das palavras ainda não convenceu sobre a proximidade com a Universa, talvez o resultado prático seja mais efetivo como regra de retórica. A Carteira Empiricus, que segue os preceitos talebianos em sua essência, acumula alta próxima a 230 por cento do CDI em 2019, mesmo com tempos difíceis para os mercados. O que ela tem de especial? Para mim, uma combinação de criterioso stock picking (o book de ações sobe mais de 8 por cento no ano), ampla diversificação e boas pitadas de proteção. Aliás, a put spread indicada na série Palavra do Estrategista também começa a dar dinheiro, dando uma pequena alegria em meio ao banho de sangue nos mercados neste mês de maio — se você ainda não assina o Palavra, pode estar perdendo a oportunidade de uma vida.

Dando um pequeno spoiler, aguardem novidades mais concretas sobre a proximidade Empiricus/Universa. Vem algo realmente inovador por aí.

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