Empiricus Research

Felipe Miranda: A vitória do bem contra o bem

10 abr 2019, 10:45 - atualizado em 10 abr 2019, 10:45

Encontrei ontem o quinto leitor do Day One. O querido amigo Rogério Caravieri diz que toma café comigo todos os dias. Eu duvido, mas agradeço de coração. É isso que nos move. Ele trouxe seu depoimento aqui.

Se você também gostaria de contar a história da sua relação com a Empiricus , preferencialmente em vídeo, mande, por favor, seu depoimento para testimonials@empiricus.com.br, com cópia para felipe.miranda@empiricus.com.br.

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Tomado o café, vamos para a labuta.

“O amor entra pela fresta da porta. Nunca é convidado, mas toma o ambiente quando é notado. Encanta pela sua força vital. Pelo desejo de mais vida que traz consigo. Por isso as pessoas quando amam sentem que estão à beira de encontrar a melhor versão delas mesmas.

E isso pode ser fator bastante destrutivo de muitas outras pessoas, vítimas inocentes desse amor não convidado. Ver destruição e esperança lado a lado é algo essencialmente contraditório.

Só um milagre faz da destruição uma forma de esperança. Ou alguma forma de delírio, fantasma que acompanha toda crença no milagre.”

Já conversei com Luiz Felipe Pondé em algumas situações, o vejo ao acaso vez ou outra no Senzala da Praça Panamericana e agora o leio no livro “Amor para Corajosos”, de onde extraí o trecho acima.

Enquanto lia esse parágrafo, ao menos até a frase que se encerra em “à beira de encontrar a melhor versão delas mesmas”, fui conduzido de maneira espontânea pelo trem do pensamento à destruição criativa de Schumpeter.

O amor seria a emergência de um sopro de vida caloroso contra um cotidiano protocolar, pasteurizado, frio e sem graça.

Mataria a velha rotina enfadonha em prol de algo muito mais pujante, de beleza dionisíaca capaz de despertar-nos para o melhor que podemos ser — por meio dele e só dele, poderíamos dar algum significado ontológico à vida, fruto apenas da interação darwinista de forças aleatórias e, claro, a aleatoriedade não tem sentido ontológico.

Acho tão curioso o fato de que se não fosse por um erro — a mutação genética é basicamente um erro — ainda estaríamos corcundas, em cima das árvores e com braços longos quase batendo no chão… ao menos seria a garantia de que todos teriam cabelo.

Ao seguir pelo parágrafo e pelo restante do livro, ponderei que, embora a interpretação acima seja pertinente, ela não esgota as possibilidades. O paralelo entre o amor e a proposta schumpeteriana pode encontrar certa imprecisão.

A destruição criativa tão defendida por Schumpeter como a força motriz do capitalismo traz consigo a ideia subjacente de superação positiva, de que há progresso no curso dialético da história.

O novo, ainda que mate o velho, traz efeitos líquidos positivos. Seria a vitória do melhor (bem) contra o pior (mal), ao menos em termos líquidos. Exemplo que simboliza o argumento: Uber contra táxi.

Até, talvez, poderia aqui abrir um parêntese para dizer que, em especial num mundo de alta tecnologia, do data analytics, do machine learning, da inteligência artificial e dessas outras coisas metidas a cool, ainda não encontramos a forma de conciliar a destruição criativa schumpeteriana com maior justiça social, conceitos de equidade e, quem sabe, até mesmo eficiência do ponto de vista de Pareto.

Não é ao acaso a consolidação de gigantes como Facebook, Apple, Amazon, Netflix e Google e outros monopólios ou oligopólios naturais. Tenho medo real de que tudo vire um grande Big Brother e Jeff Bezos apareça subitamente para servir a mim e ao Pondé um “Espeto à Gaúcha”, com farofa e arroz à grega lá no Senzalão. Três carecas dividindo filé mignon, linguiça e lombinho — eu me divertiria.

Mas esse não é o ponto. A ligação estrita entre amor e destruição criativa schumpeteriana pode encontrar um contra-argumento, aquilo que o filósofo britânico Isaiah Berlin chama de verdadeiro dilema moral pragmático. Aqui, saímos de uma escolha do bem contra o mal para uma disputa entre o bem e o bem — não há superação positiva, há apenas uma escolha, com renúncias associadas a cada um dos lados.

Em seu sentido mais clássico e em algum contexto medieval, a experiência amorosa plena se enquadra justamente aí. Por um lado, o amor traria a realização mais completa da vivência humana, com êxtase, autoconfiança, generosidade, brilho nos olhos e por aí vai. O cotidiano fica revestido de um estado de graça.

Em contrapartida, ele irrompe contra protocolos estabelecidos, contra instituições e, por vezes, contra outros relacionamentos, ferindo pessoas terceiras, vínculos de longo prazo e sonhos antigos frustrados. Nada na vida tem importância além do próprio amor. Tudo gira em torno desse sentimento. Há uma espécie de perda de si mesmo em prol da única coisa com real significado.

Em algum sentido, o amor é um ato da mais pura humanização, pois eleva a experiência humana ao extremo. Ao mesmo tempo e de forma absolutamente contraditória, o amor é também um fenômeno de desumanização, porque retira do humano tudo o que lhe é importante além do próprio amor.

Por que essa coisa na cabeça hoje?

Porque, pra mim, a maior dificuldade hoje, num mundo da disrupção e da exponencialidade (outros termos cools e inteligentinhos, desculpa), é distinguir entre vencedores e vencidos no processo. Precisamos reconhecer: não há instrumental analítico para avaliação fundamentalista num cenário de rápida mudança tecnológica.

Usamos um arcabouço velho (cara, eu tenho a segunda edição do Securities Analysis, que pode ser considerado o marco original do value investing, e esse negócio data de 1940) para abordar uma situação nova. A tecnologia vai dominar tudo — Jorge Paulo acabou de falar isso, você deve ter visto.

Ficamos num dilema entre quem vai fazer e quem vai sofrer a disrupção. Pra mim, definir ex-ante vencedores e vencidos é uma impossibilidade lógica — claro que, a posteriori, tudo vai ficar óbvio e vai caber numa linda narrativa; o viés de retrospectiva torna o passado tão certo e inexorável. Se você soubesse hoje qual será a tecnologia vencedora de amanhã, você mesmo a anteciparia para agora.

Com o perdão do duplo neologismo, o disruptor de hoje pode ser o disruptado de amanhã. Se você entende a dinâmica estrutural das Organizações Exponenciais, compreende isso. Na minha visão (ou falta dela), vira só chute sobre quem é o vencedor de disputas dessa natureza, meras escolhas que implicam exposição a certos benefícios e, ao mesmo tempo, renúncias importantes a vantagens competitivas momentâneas ou projetadas.

Veja o caso dos bancos, por exemplo. Há gente muito boa, muito boa mesmo, entre os quais eu destacaria a turma da Atmos, com lote de Banco Inter. A ideia é que esse cara é o banco verdadeiramente digital, contra outras tentativas que se dizem digitais. BIDI estaria bem preparado para capturar toda essa onda de desbancarização, desintermediação, digitalização. Não precisa ser tudo com “d”. O banco também goza de bom management, tem crescido muito rapidamente e agora vai integrar a plataforma de investimento com um modelo bacana de cash back sobre rebate. Tudo isso aconteceria numa onda muito rápida, para a qual o Banco Inter já estaria preparado.

Há gente ainda mais à frente nessa história de desbancarização comprando Mercado Livre, dizendo que essa é a verdadeira fintech.

Ao mesmo tempo, tem uma galera igualmente boa, entre os quais a Bogari é minha favorita, comprando Bradesco, entendendo que, por mais que haja esse risco aí sobre os bancos, a perda efetiva de resultado ainda demora e há capacidade de reação. (Para estragar minha historinha completa, parece que a Bogari também tem Banco Inter e Mercado Livre, mas vamos fingir que isso não enfraquece o argumento desse pobre redator; o ponto está preservado filosoficamente.)

Daí, a pergunta é: o que você faz? Compra o novo ou compra o velho?

Olha, eu sinceramente não tenho a menor ideia. Se você me força a escolher entre o bem e o bem, fico paralisado nesse verdadeiro dilema moral. Quando não sei o que fazer, eu diversifico. Escolho ambos. Vamos de Banco Inter e Bradesco.

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