Empiricus Research

Felipe Miranda: A Selic vem abaixo de 6 e o dólar eu não sei

21 mar 2019, 11:57 - atualizado em 24 mar 2019, 21:54

Felipe Miranda

Por Felipe Miranda, CEO da Emprircus Research

Eu, Felipe, tenho hoje duas recomendações de leitura. A primeira é o texto abaixo, da instituição Angela Bittencourt. A segunda está neste link — a redação foi feita por um idiota, mas oferece um paralelismo assustador com os fatos atuais. Fim do Brasil feelings.

Volto depois da Angela (sim, eu sei que o Day One tem ficado muito grande, você tem toda razão. Tenho pensado como resolver isso. Ainda não encontrei solução, além de tentar, certamente em vão, ser mais lacônico).

SEGREDO GUARDADO A 7 CHAVES

Nove pessoas com encontro marcado a cada 45 dias já provocaram estragos na vida de muitos brasileiros. Espero, sinceramente, que você não esteja entre eles porque não dá nem para reclamar de prejuízos. Embora tenham nome, sobrenome e endereço, essas nove pessoas são anônimas para a maioria da população e posso garantir que não há TV capaz de torná-las conhecidas. Deve ser um sofrimento. Mas, na certa, é um alívio para os parentes. Quem gostaria de andar acompanhado por alguém que pode ser apontado a qualquer momento em meio a um diz que diz: “É ele, é ele!”?

Você conhece alguém que gostaria? Eu não conheço.

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Essas nove pessoas, por dever de ofício, já gastaram até oito horas discutindo o destino do seu (e do meu) dinheiro. No último ano, enfim, elas conseguiram um respiro e quatro horas tornaram-se suficientes para passar a vida a limpo e mandar bala.

Não se assuste! E, muito aqui entre nós, nem escreva para o Felipe Miranda, o meu chefe, porque eu posso explicar.

“Mandar bala” tem sentido figurado. É só um jeito de falar.

É verdade que esses nove brasileiros já fizeram muito serviço “sujo” — tipo segurar as pontas quando tudo vai dar errado — enquanto os seus superiores não tomavam as decisões corretas, mas “mandar bala” é tocar a bola para a frente. Entende?

Nesta semana, os nove voltaram a se encontrar. E, ontem, decidiram que tudo fica como está: a taxa Selic permanecerá em 6,50 por cento ao ano até a primeira semana de maio.

Ufa! Era isso o que todo mundo esperava.

Às vezes, dá para perceber um sinal ou outro de mudança. Mas de verdade, para valer, ninguém sabe o que vai acontecer antes de o presidente do Banco Central encerrar a reunião do Comitê de Política Monetária – o Copom.

Ontem, estreou um presidente novo no comitê: Roberto Campos Neto.

Ele é o presidente do Banco Central e o principal responsável pelo resultado da reunião. E responderá diretamente a qualquer questionamento sobre a decisão tomada.

É uma grande responsabilidade. Contudo, o presidente do Banco Central não participa de um momento único que se repete a cada encontro do Copom: a “entrega” física da próxima taxa básica de juro da economia brasileira para que seja divulgada ao mercado financeiro e à sociedade.

Quando termina a reunião, a decisão (taxa e comunicado) é registrada em um pen drive que é levado pelo diretor de Política Econômica (Dipec) ou o chefe do Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep) a uma sala onde está assessor de imprensa que a publicará no site da instituição.

Na atual administração, o diretor da Dipec é o economista Carlos Viana de Carvalho e o chefe do Depep é o economista André Minella.

VIDA DURA

Não pense você que fazer parte do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) é tarefa para fracos ou amadores. Menos ainda para aqueles que têm a saúde prejudicada. Os integrantes do comitê, criado em 1996, vivem sob estresse. Sofrem um desgaste danado. Não só porque passam 25 das 24 horas do dia distante de suas famílias, mas porque passam 26 das 24 horas do dia cuidando da vida do cidadão e do próprio governo.

Decidir qual é a taxa de juro ideal que permita às pessoas consumirem sem exercer pressão sobre os preços, sem gerar inflação, dá trabalho.

A taxa Selic, que chegou a 6,50 por cento em março de 2018 e aí permanecerá ao menos até maio, é a menor que o país já teve. Sua definição exige um mundo de cálculos, de análise de indicadores e tendências, além de muita técnica para identificar as expectativas dos brasileiros. Deixando de lado a taxa de 6,50 por cento (que é nossa e ninguém tasca!) os demais procedimentos são seguidos pelo Banco Central do Brasil e pelos bancos centrais ao redor do mundo.

EFEITO CASCATA

A taxa Selic, hoje velha conhecida, é uma referência para todas as taxas de juros praticadas no país — para quem recebe e para quem paga. E ela tem impacto direto no seu Tesouro Direto e no comportamento das ações negociadas na Bolsa.

Se o juro não sobe, a Bolsa é favorecida, porque, apesar dos riscos que sempre devem ser calculados, ela deve render mais. Se o juro cai, a Bolsa pode avançar ainda mais. Na verdade, juro e Bolsa são concorrentes.

O Copom não indicou claramente, ontem, que cortará a Selic em maio ou nos próximos meses. Entretanto, a decisão anunciada também nesta quarta-feira pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), de manter sua taxa de juros inalterada entre 2,25 por cento e 2,50 por cento e descartar novas altas neste ano abriu uma avenida para que o BC venha a reduzir sua taxa básica.

“A decisão do Federal Reserve foi muito relevante. Havia consenso nos mercados que haveria ainda mais duas elevações de taxa de juros neste ano. Depois o mercado chegou a considerar a possibilidade de Jerome Powell [presidente do Fed] indicar que ainda haveria ao menos um aumento de taxa até o fim do ano. Portanto, a notícia de que não deve ocorrer mais aumento foi muito boa. O dólar afundou, a curva de juros longos também, inclusive, ela já vinha recuando com a possibilidade mais real de o Copom vir a cortar a Selic”, explica o diretor de operações da Mirae Investimentos, Pablo Spyer.

Ele acredita que os juros mais longos podem recuar um pouco mais e até sinalizar, quem sabe, mais de um corte na taxa Selic até dezembro. “Mas isso pode acontecer se tudo continuar como está. Por exemplo, que o banco central americano não altere a posição assumida hoje e que a reforma da Previdência vai andar.”

Embora o comunicado do Copom não tenha apontado para mais uma elevação do juro explicitamente, Pablo Spyer considerou um tom mais “dovish” (mais inclinado para um alívio monetário). “Entendo que o discurso do Copom está mais brando, quando ele diz, em seu comunicado, que a atividade interna está aquém do esperado e que a inflação está em níveis adequados até 2021. Isso vale também para a afirmação de que aumentou o risco de desaceleração da economia global, o que sugere que o Federal Reserve não subirá o juro. Para economia bombar se corta taxa de juro. Avalio, portanto, que temos espaço para reduzir mais a Selic.”

Embora o resultado da reunião do Copom fosse amplamente esperado, o mercado futuro de juros naturalmente promove algum ajuste nos contratos de depósito interfinanceiro (DI), na BM&F. Em sua primeira ação do dia, a mesa de operações de Mercado Aberto do Banco Central promove o refinanciamento ou a rolagem de 891 bilhões de reais de aplicações financeiras notadamente de bancos que foram contratadas 45 dias atrás. O Ibovespa, que ontem se afastou um pouco mais de 100 mil pontos, fechando a sessão aos 98.041 pontos, tende a um dia positivo, mas com os investidores atentos à movimentação de parlamentares em Brasília, onde o andar da carruagem é lento para a urgência imposta à reforma da Previdência.

Angela Bittencourt

Palavras não pagam dívidas, diria Shakespeare. Também não definem quem você é no mundo, digo eu. Taleb insiste: uma opinião sem exposição vale zero. O estoicismo de Sêneca serve como melhor resumo: viver significa lutar.

Se é que há alguma possibilidade de mensuração ou julgamento das pessoas (talvez não haja), isso só pode se dar pelo que elas fazem, não pelo que elas falam. Seu legado será aquilo que você realizou neste mundo, não o que você disse por aí.

O mundo é dos fazedores, resumiria a modelo e atriz Bettina Rudolph (sim, é uma ironia — ai, que coisa chata).

Se um determinado sujeito dá todas as aulas de um curso qualquer, prepara suas provas, corrige as provas, faz listas de exercícios, corrige as listas, faz prova substitutiva e tudo mais, qual é a atividade desse sujeito? Outro cidadão diz-se professor desse mesmo curso. Pergunto: quem é o professor, o primeiro ou o segundo?

Nas palavras de Forrest Gump, idiota é quem faz idiotice. Acho que a mãe dele era treinada em Taleb e cisnes negros: a vida é uma caixa de chocolates, você nunca sabe o que vai encontrar lá dentro.

Supostamente, há uma divisão entre os economistas brasileiros. Há alguma elasticidade aqui, pois essa divisão estereotipada não se restringe aos economistas; ela também se aplica a todas as pessoas com algum interesse em política econômica. O mundo estaria dividido entre keynesianos e liberais.

Pois vou lhe dizer: no Brasil, não há nem um, nem outro. Claro que há exceções. Mas grupos em número significativo de uma vertente ou de outra, eu desconheço.

Os autodenominados keynesianos (acho engraçado que eles gostam ainda mais de se chamar de “desenvolvimentistas”, como se apenas esse grupo gozasse do monopólio do interesse pelo desenvolvimento econômico) defendem um pouco mais de participação do Estado na economia. Na prática, porém, suas políticas em nada tiveram de keynesianas. Keynes era um defensor do aumento dos gastos públicos para preenchimento de lapsos temporários (e esse temporários aqui é fundamental, dado o caráter cíclico da economia) de demanda. Com a atividade do setor privado refreada, o governo entraria para preencher o vácuo, mantendo a economia aquecida na direção do pleno emprego.

Se me permite a metáfora futebolística (o Lula é bem melhor do que eu nisso): na essência, o governo seria uma espécie de jogador reserva, para quando o titular setor privado estivesse no departamento médico.

Na época do lulopetismo, a política autoproclamada keynesiana não vinha para abastecer fraquezas do investimento privado. Ela começa em 2006, quando da saída do ministro Palocci do ministério da Fazenda, sucedida das substituições dos excepcionais secretários Joaquim Levy, Marcos Lisboa e Murilo Portugal.

Naquele momento, não havia qualquer folga muito grande de oferta que devesse ser combatida com injeção de demanda. As coisas rodavam muito bem. Foi simplesmente a crença no Estado maior e mais atuante dentro de um projeto de poder sintetizada no PAC — eu, governo, fiz isso e, portanto, devo continuar no poder. Daí veio a crise de 2008 e serviu de desculpa perfeita para seguirmos com as práticas “desenvolvimentistas” — ali, sim, precisaríamos recorrer a Keynes. Mas então a crise passou e continuamos gastando, gastando e gastando, no que viria posteriormente a ser batizado de “nova matriz econômica”, quando o governo Dilma, sob o brilhantismo e a criatividade (principalmente contábil) de Guido Mantega e Arno Augustin, seguiu dando estímulos de demanda para um país a plena capacidade dos fatores de produção. Se você joga mais demanda sem oferta adicional, o livro-texto antecipa as conclusões: aumento da inflação e das importações, com déficits preocupantes em conta-corrente. Deu no que deu.

Antes de falar dos nossos liberais, empresto brilhante piada do ainda mais brilhante Eduardo Giannetti (que homem!): “Quando dois keynesianos conversam, tome cuidado, porque aparecem sempre três opiniões. A do primeiro interlocutor. A do segundo interlocutor. E a do próprio Keynes”.

Dados os acontecimentos dos últimos dias, confesso surpresa com nossos liberais. Já havia me acostumado com um presidente que se diz liberal, mas que defende corporações e quer privatizar “tudo que não é estratégico” (daí você chama um montão de coisas de estratégico e não privatiza quase nada). Preciso confessar: ele parece estar melhor nas últimas semanas; corrigiu o discurso (se vai durar, não sei). Agora, me surpreendo com defensores do liberalismo que cobram urgente regulação adicional do Estado no mercado financeiro.

Ou seja, vale ser liberal, contanto que as forças do livre mercado joguem a meu favor. Liberais de quermesse que tanto julgaram os keynesianos de quermesse.

Viver é muito perigoso. Deus mesmo, se vier, que venha armado. Nada me conforta mais do que a sabedoria de Riobaldo. Neste mercado, para mim, o que conta mesmo é sabedoria e prática. Papai era um “animal of the markets”, nas palavras do George Soros. Acho que, em alguma instância, mesmo que pequenininha, isso me fez um animal de mercado também. Nascido e criado no ecossistema da Bolsa de Valores, o que me trouxe algumas coisas boas e outras bem ruins.

Continuo no mesmo ambiente e, arrisco dizer, nele morrerei, porque é isso que sou. Sair dele seria em si um ato de falecimento, pois não há nada pior do que continuar com o corpo vivo sem que sua alma esteja junto. Posso lhes dizer que sigo aqui. E se querem me expulsar, terão de fazê-lo à força. Se eles querem meu sangue, terão o meu sangue só no fim. E se eles querem meu corpo, só se eu estiver morto. Só assim. I want to see them try.

Minha tentativa hoje é de separar ruído de sinal. Na véspera, ativos de risco brasileiros (a Bolsa fundamentalmente) caíram de forma significativa, preocupados com a evolução da reforma da Previdência. A apreensão pareceu decorrer de algum desconforto com a proposta para a aposentadoria dos militares, pois veio acompanhada de sugestão de reestruturação de carreira. Sim, pode muito bem ser vista como meritória, vem num momento talvez inoportuno, abrindo flancos para ataques sobre privilégios de certas categorias. Assim, seria mais difícil emplacar a narrativa de que estamos todos nos esforçando, de que não há qualquer diferenciação.

Mas posso lhe falar o que penso sobre esse tipo de coisa? Mero ruído. E isso oferece uma aplicação prática importante para seus investimentos, pois a Previdência é o principal (embora deixe claro não ser o único) driver para os ativos financeiros no primeiro semestre. Apegue-se ao estrutural: a reforma da Previdência tem altíssima probabilidade de aprovação. No final do dia, é isso que interessa. Esqueça o resto. Insisto nesse ponto porque vai haver vários momentos difíceis, volatilidade, situações em que vai parecer que não vai dar. A imprensa vai criticar, haverá manifestações na rua, o tal deputado vai vazar que as negociações azedaram (alguém está olhando para front running e insider disso e das pesquisas sobre o tema?). Se você quiser tradar o tema Previdência ou se panicar (verbo oportuno, pois a agenda me lembra que a Bettina e eu estaremos no programa Pânico da Jovem Pan hoje) no primeiro soluço, vai perder dinheiro. Agarre-se ao mastro. Foco no estrutural e no verdadeiro fundamento. Estamos no bull market estrutural e nele continuaremos por um bom tempo.

Teria a quarta-feira passada (famoso ontem) emitido mesmo sinais negativos para a evolução dos ativos de risco brasileiro? Entendo que não. Os dois eventos realmente importantes para os mercados ontem eram a reunião do Banco Central dos EUA e o encontro do Copom, embora não tenham mexido em suas taxas básicas de juro propriamente ditas. Ambos foram positivos e rigorosamente alinhados à prescrição alinhada aqui, neste mesmo espaço, ontem: venda de dólar e compra de pré. Detalho um pouco mais os eventos.

Fed: a mediana das projeções dos integrantes do colegiado, que apontava duas altas de juros neste ano, passou a sinalizar só uma, entre 2020 e 2021. Isso significa, entre outras coisas, que os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA serão menores, elevando a atratividade relativa dos ativos em outros países, com destaque especial para os emergentes. Cumpre dizer também que isso implica menor taxa de juro livre de risco, que baliza todas as peças de valuation. As taxas de desconto serão menores e todos os demais ativos precisam valer mais. Excelente notícia para os mercados brasileiros, que costumam ser bem sensíveis a esse tipo de dinâmica.

Copom: manteve “cautela, serenidade e perseverança” em seu comunicado — reuniu substantivos tão fofos que ganhou estrelinha da professora no caderno. Mas retirou o trecho que falava de assimetria de riscos para inflação (antes, via mais chance de aceleração). Foi a primeira sinalização no sentido do abrandamento do discurso, criando espaço para afrouxamento gradual e austero do torniquete monetário. Começou a pavimentar a via, sem transmitir uma mensagem de complacência com a inflação, para ir caminhando na direção do corte de juro. Achei cirurgicamente preciso, com pronunciamento marginalmente dovish no geral. Golaço de Roberto Campos Neto. Agora, Copom fica dependente dos dados e da evolução das reformas. E será vencido pela imposição da maré das circunstâncias. Com inflação muito controlada, atividade ainda patinando e clareza para aprovação da Previdência, o colegiado do Banco Central, na minha visão, será obrigado a cortar a Selic ainda neste ano, levando o juro básico para baixo de 6 por cento ao ano. Não é pra agora, para o curto prazo, mas vai rolar. Note que a decisão de ontem do Fed, ao mudar sua visão para a taxa básica nos EUA, desistindo de subir a Fed Funds Rate em 2019, se alinha a outros Bancos Centrais de países desenvolvidos e cria margem de manobra para as autoridades monetárias de nações emergentes. Ou seja, reforço à tese de Selic para baixo. Para pessoa física, gosto bastante de títulos prefixados de longo prazo neste momento — já há algum tempo tenho insistido no corte da Selic neste ano e o cenário vem cada vez mais corroborando essa perspectiva.

Enquanto uns choramingam e esperneiam, outros estão ganhando dinheiro. Escolha em qual time você quer jogar. Há oportunidades de ouro na sua frente para a sólida e responsável construção patrimonial.

Encerro minha tentativa de contribuição de hoje com o e-mail recebido do amigo Hermides. Óbvio que a amostra de uma pessoa não é estatisticamente representativa do todo. Mas posso lhe dizer do fundo do meu coração: temos recebido vários como este:

Boa noite Felipe!

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