Opinião

Felipe Miranda: A reforma da sua previdência

11 jan 2019, 11:49 - atualizado em 11 jan 2019, 11:49

Por Felipe Miranda, da Empiricus Research

Para desafiar os preconceitos arraigados por aí, resolvi assumir para todo mundo minha orientação por ser passivo. A opinião em prol da incapacidade de se bater o mercado de forma consistente saiu do armário já faz certo tempo, para desespero dos falsos liberais da Faria Lima e do Leblon, convictos em sua gestão ativa e afeitos à discriminação de tudo que não é espelho.

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“Se você levasse a sério as minhas brincadeiras de dizer verdades, teria ouvido muitas verdades que insisto em dizer brincando.” O redator todo careta finge estar em modo “sexta-cheira” ao apelar a Chaplin, pois acha que o humor é a arte de falar sorrindo sobre aquilo que é muito sério.

Começo hoje corrigindo um erro histórico. Como talvez os quatro leitores desta publicação saibam, sou um defensor da gestão passiva (esse é o assunto em questão). Importo-me muito mais com o asset allocation geral do que propriamente com o acerto deste ou daquele ativo específico. A verdade é que a maior parte dos investidores, mesmo os profissionais, não batem seus respectivos benchmarks. Assim, os ETFs acabam sendo uma forma simples, barata e diversificada de se ganhar exposição a determinados nichos.

Com esse pano de fundo e sob o otimismo com a renda variável brasileira, venho insistindo para a compra de BOVA11. O argumento geral é válido, mas fui impreciso e poderia ter feito uma indicação melhor, devidamente corrigida hoje.

Sob a devida explicação da turma do Itaú (Hmmm… será que somos amigos agora?), a verdade é que, para os mesmos fins supracitados, BOVV11 se mostra superior a BOVA11. Primeiro, por conta da taxa de administração menor – o fundo de índice do Itaú é 24 pontos-base mais barato frente àquele da BlackRock (0,3 por cento contra 0,54). E, depois, em função da maior disponibilização de ações para aluguel, doando 70 por cento dos papéis, o que se traduz em maior rentabilidade ao longo do tempo.

Eu amo o Itaú, uma pena que o Itaú não goste de mim. Amo tanto que já deu a cota de hoje. Chega de falar bem dos bancões. Agora assinalo armas e barões para o que eles têm de ruim, talvez para o que têm de pior. “Cantando espalharei por toda parte, se a tanto me ajudar o engenho e a arte.”

Deixe-me antes aquecer os motores, enquanto espero pela real inspiração das Tágides minhas, recuperando palavras de Roberto da Matta:

“No vasto, triste e sábio anedotário político nacional, o amanhã tem um lugar todo especial. O resultado é isso que se vê: a incapacidade de gerenciar o mundo diário, que vai se deteriorando a olhos vistos. Temos formidáveis promessas de futuro, mas um presente regado a abandono e descaso. Os governantes, em todos níveis, preferem governar para o futuro, frequentemente deles mesmos, a governar para o cotidiano de seus eleitores. O futuro, sempre risonho, aponta para a felicidade desconectada do presente. Ora, a cobrança entre a conexão entre o presente e o futuro chama-se responsabilidade – essa palavra feia para a qual o brasileiro dá, entre outras coisas, o dom da onipotência e o dom de ficar somente na promessa. Assim, enquanto falamos da cura pelo futuro, somos derrotados pelas rotinas que nos recusamos a gerenciar.”

Somos o eterno país de um futuro que nunca chega, com sonhos sempre restritos ao escopo do platonismo das aspirações, jamais acompanhadas de ações efetivas para sua real materialização.

Como brilhantemente resumiu Pedro Malan, “a obsessão pelo futuro e a fé no que virá nos desculpam pela relativa aversão aos miúdos labores do cotidiano”.

No meu próprio resumo, o problema dessa história toda é que, cedo ou tarde, haverá uma reconciliação inexorável de contas entre presente e futuro. Como um rio que desemboca no mar, o primeiro necessariamente acaba se desdobrando sobre o segundo. O longo prazo nada mais é do que a soma de vários curtos prazos transcorridos.

Não há desconexão longeva possível entre presente e futuro. Mas sabe o que acho pior dessa história? É que também não há divórcio possível entre sociedade e governos, ou até mesmo Estado. A primeira culpa o segundo pelas mazelas do presente e pelo descaso na construção de um futuro melhor.

Pra mim, um governo sempre foi espelho da população e vice-versa. Cada sociedade tem o governo que merece e a recíproca é verdadeira.

Todos reclamam da corrupção em nível público, mas os próprios praticam rigorosamente os mesmos atos em sua atividade privada – tentam acertar a “caixinha” com o guarda para evitar a multa de excesso de velocidade; conhecem o maitre dos restaurantes caros e badalados de São Paulo e pagam-lhes por fora algumas centenas de reais para furar as filas de duas horas de espera; elogiam a mobilidade urbana de Amsterdã enquanto são simplesmente irascíveis no trânsito, mesmo que seja o trânsito das bicicletas e dos patinetes (chegamos ao absurdo de congestionamentos desses negócios agora, é uma loucura). Sem falar, claro, no “planejamento fiscal familiar”, o eufemismo para a clássica sonegação descarada – tudo, evidentemente, dentro da mais rigorosa obediência à moral e aos bons costumes.

É a turma que trata mal pra caramba a família inteira, não liga para os amigos, não tem a menor consciência social e despreza seu entorno, mas faz doações vultosas  para as criancinhas da África, sem esquecer da devida postagem do cheque no Instagram, com a falsa desculpa de “não gosto de expor esse tipo de atitude, estou postando para incentivar novas doações”.

Quando essa galera vai perceber que arrumar seu quarto é mais importante que cuidar das criancinhas da África? O camarada não passa sequer desodorante para ir à academia e quer me falar das criancinhas da África? Eu fico louco. Repare como sempre tem um desses. O asqueroso vai para a academia vestindo regata, com aquele chumaço de pelo nas axilas (você tem a sensação de que o sujeito cultiva uma samambaia no suvaco, precisando se esquivar daquela mata atlântica entre um supino e outro) para espalhar a fedentina pela sala inteira, para depois vir sugerir uma doação para a África…

Nossos liberais são aqueles que reclamam da falta de liberdade econômica e de estarmos além do ponto máximo da Curva de Lafer, enquanto ficam desesperados quando encontram um baseadinho na mochila do filho (não, eu não fumo, fique claro) ou descobrem que ele gosta de meninos e meninas.

Neste momento, as pessoas com um mínimo de bom senso estão cobrando certa disciplina fiscal do governo, em especial com a reforma da Previdência. Elas têm razão de fazê-lo. Mas tem um negócio bizarro aqui.

As pessoas reclamam da Previdência pública, mas a Previdência privada é tão ruim quanto. Enquanto detonam os políticos com a irresponsabilidade fiscal e financeira, elas mesmas investem para sua aposentadoria em produtos ruins.

Quase a totalidade do dinheiro do brasileiro em Previdência está em produtos caros e ruins, todo concentrado nos bancões, que usam sua capilaridade e seu relacionamento com clientes, muitas vezes pouco treinados em educação financeira, para empurrar atrocidades para a aposentadoria do cidadão.

Os fundos de Previdência normalmente não batem o CDI (assim, apanham por larga margem, nocaute no primeiro round) e estão todos concentrados em renda fixa conservadora e pouco rentável, quando deveriam justamente se expor a coisas capazes de entregar mais rendimento no longo prazo.

Eu sempre penso: antes de criticar a gestão dos recursos públicos e a falta de zelo com a questão Previdenciária, como eu mesmo, Felipe, estou investindo para a minha aposentadoria? É uma questão de autocrítica, coerência argumentativa e responsabilidade.

Humildemente, sugiro que você se faça a mesma pergunta. Se seu produto de Previdência está dentro de um bancão, muito provavelmente você está perdendo dinheiro – falo de dinheiro de verdade. Os fundos do segmento são caros e ruins, sendo esse, possivelmente, o pior nicho do mercado de capitais para o investidor pessoa física.

Na minha opinião, o melhor caminho para a sua aposentadoria está no FoF SuperPrevidência desenvolvido pela Vitreo Gestão – ali há uma carteira diversificada, com perspectiva de boa rentabilidade e gestão de risco adequada.

Diferentemente da composição de portfólio, a vida cotidiana precisa ser gerida de maneira ativa, com nós mesmos pegando as rédeas da coisa e nos guiando na direção correta. Enquanto fica essa ladainha em torno da Previdência nos jornais, você pode começar a reforma da sua própria. O futuro é hoje!