Empiricus Research

Felipe Miranda: “A estrada não percorrida: faça do seu jeito, mas faça com cuidado”

01 fev 2019, 11:02 - atualizado em 01 fev 2019, 11:02

Por Felipe Miranda, CEO da Empiricus Research

“Duas estradas num bosque se bifurcavam, e eu
A menos percorrida trilhei,
E isto fez toda a diferença.”

Se você recorreu a Robert Frost (ou a Walt Whitman ou a alguns desses grandes) para começar um texto, apelou. Deveria ser proibido. Por mim, o governo baixava logo uma lei: iniciar newsletter assim não vale – melhor não dar ideia; vai que a CVM manda uma instrução nova…

Enquanto tenho ao menos essa parte de minha liberdade de expressão preservada, dou de ombros. Se precisar, apelo mesmo. Paciência. É um jeito de driblar minha própria paranoia, os pensamentos sombrios mais íntimos que, de maneira obsessiva, perturbam meu ecossistema psíquico.

André me diz que, no fundo, é coisa boa. Segundo ele, acaba me empurrando para a frente, como se fosse uma máquina incansável permeada de inquietude, incapacidade de baixar a guarda e constante necessidade de perseguir e conquistar algo novo.

Acho que é porque ele não sabe como é sofrido. A parada fica ali te perturbando, lembrando a todo momento que a síntese atual logo enfrentará uma nova antítese e tudo que hoje parece sólido e consolidado pode desfazer-se diante de um cisne negro qualquer, principalmente em ambientes de incerteza e aleatoriedade (fora dos laboratórios e de situações igualmente esterilizadas, só há ambientes de incerteza e aleatoriedade; se você tem mais certezas do que dúvidas, é melhor se internar imediatamente). A dinâmica enseja um eterno ato de beliscar-se, sem espaço para relaxar, como no mito de Prometeu: aquela águia fica bicando o fígado sem que se possa apenas aproveitar o momento.

Nassim Taleb diz que um pouco de paranoia é saudável, manifestação de nosso instinto de sobrevivência, que é a única definição possível para racionalidade. “A maioria dos homens vive uma existência de tranquilo desespero”, nas palavras de Henry David Thoreau. Acho que prefiro Ozzy Osbourne: “Can you help me occupy my brain?”.

Ok, ok, um pouco de paranoia até tolero. Só não acho que precisava ser tanto. Se as coisas estão muito boas (e elas estão!), começa a surgir uma perturbação psíquica. Pode até vir de uma adversidade material e objetiva, a que confiro contornos mais marcantes e ampliados. Às vezes, nem isso existe. É um mero mecanismo de autossabotagem, manifestado por pensamentos ruminantes incansáveis, que ficam a todo momento lembrando de cenários adversos à frente, elementos culpógenos sobre erros do passado ou sobre méritos indébitos de minha apropriação pessoal, ao melhor estilo “você não merecia tudo isso” e vai precisar trabalhar muito, mas muito mais para continuar na atual posição.

Olha, sendo bem sincero (posso abrir o coração porque sei da capacidade de nós cinco aqui guardarmos segredo), cansa pra caramba, mas, para gestão de portfólio, acho positivo.

Vem com um custo psíquico e emocional lazarento. Em contrapartida, a constante perseguição pelo avanço, o medo de não sobreviver e a disciplina em continuar executando algo com excelência (aqui emprego excelência sem nenhuma arrogância, apenas no sentido de que executo da melhor forma com que eu mesmo poderia executar) gera, em termos práticos e tangíveis, resultados no médio e longo prazo – para o caso em questão, dinheiro no bolso. Pelo que tenho observado, parece valer também para o espectro empresarial (a Empiricus bateu todos seus recordes em janeiro, muito além do que poderíamos imaginar), mas isso não importa tanto para os fins deste texto.

O mês de janeiro foi absolutamente espetacular para os mercados. O Ibovespa subiu 10,8 por cento, em seu melhor início de ano em sei lá quanto tempo. Wall Street foi no mesmo batidão. O real ganhou 5 por cento sobre o dólar. Os juros foram às mínimas e deram à renda fixa retornos de Bolsa.

É difícil até encontrar palavras para descrever o que foi o primeiro mês de 2019 para as carteiras sugeridas pela Empiricus e, por conseguinte, para seus assinantes. Conforme ficará claro a seguir, não conto isso como vantagem, mas como um sinal de alerta.

Além de estarmos bastante posicionados para capturar a tese do bull market estrutural, que tenho sustentado desde o terceiro trimestre de 2015, fomos muito beneficiados pela sorte. Até o hedge, que deveria manter correlação negativa com o restante da carteira, funcionou – não sei se isso é bom ou ruim; é positivo porque representa dinheiro no bolso (money talks, bullshit walks), mas também tem um lado negativo, já que pode significar erros na montagem do portfólio como um todo (o verdadeiro hedge não deveria andar apenas no momento em que o resto do compêndio vai mal?).

Havíamos sugerido a compra de puts de Vale – e elas simplesmente explodiram com a tragédia de Brumadinho. E trocamos nosso hedge clássico favorito do dólar para o ouro, que também se valorizou no mês. Desenvolvemos isso à nossa maneira, fiéis à nossa filosofia, com muita disciplina.

Como resultado das forças aleatórias e dos desejos mais caprichosos da deusa Fortuna, a Carteira Empiricus subiu mais de 5 por cento em janeiro. Essa sugestão de portfólio seria nosso equivalente, respeitados os nichos de atuação de cada um, claro, a um fundo multimercado. Se a Empiricus , em vez de ser uma publicadora de conteúdo financeiro, fosse um hedge fund sem alavancagem, no que ela investiria? Qual seria sua alocação de recursos, quais ativos compraria e em qual proporção? A Carteira Empiricus é a assinatura que eu recomendo quando me perguntam qual nossa publicação mais completa e que “resolve de vez a vida do investidor”.

Desde sua criação, há quase quatro anos, o portfólio indicado sobe 139 por cento, significando 212 por cento do CDI.

Obviamente, estou feliz com o desempenho. A verdade é que olho para trás e nem consigo explicar direito como fizemos isso. Se fôssemos comparados à indústria de fundos multimercados, certamente estaríamos entre os líderes em igual período – e de novo, deixo claro: sei que demos sorte, muita sorte. Mas aconteceu e ninguém tira esse lucro dos nossos assinantes. É um pequeno alívio para minhas próprias “noias”, pois sinto estarmos cumprindo o propósito de levar à pessoa física investimentos tão bons ou até melhores (no caso, melhores!) do que aqueles restritos aos grandes investidores e aos profissionais.

Confesso também, preservando o instinto da transparência radical, certa tristeza e lamentação por aqueles que nos julgam apenas pelo marketing, sem conhecer realmente nossos produtos. Sei de nossos excessos e erros – reconheço a maior parte deles. Mas julgamentos superficiais, sem passar pela avaliação da qualidade de nossa equipe de pesquisa, dos resultados obtidos até aqui, do impacto positivo que geramos na vida das pessoas, dos esforços no sentido da educação financeira em grande escala e da disrupção que promovemos nesse mercado, sim, me deixam chateado.

Mas deixemos isso de lado um pouco. Volto à questão estrita do desempenho recente de nossas carteiras. Claro que é ótimo ver a performance tal como ela está. No entanto, sinto uma euforia no ar. E isso não é bom. Aliás, comportamentos ciclotímicos nunca são bons. Nem euforia, nem depressão.

Diante dos e-mails que tenho recebido dos leitores, e lembrando que não os respondo individualmente (nem posso responder, pois, por questões de isonomia e até mesmo regulatórias, toda informação que sai daqui precisar ser pública e divulgada para todos ao mesmo tempo), aproveito esse espaço para esclarecimentos fundamentais neste momento:

1. Não, 5 por cento ao mês não é normal. Provavelmente, não vai se repetir. Por favor, considere a conjuntura e também a nova realidade estrutural. O CDI rende 6,5 por cento ao ano. Qualquer retorno anual de dois dígitos já é sensacional. Não perca isso de vista.

2. Coloque um pouco do lucro no bolso. Não seja ganancioso demais. Almocei com um dos maiores investidores do Brasil na quarta-feira (30) e pude presenciar o quanto ele estava arrependido de não ter embolsado ao menos parte dos ganhos que seu fundo apurava até meados de 2018. As coisas mudam mais rápido do que a gente imagina – e na direção que a gente não imagina. Subiu muito, põe parte no bolso. Disciplina.

3. Sim, eu continuo muito otimista na tese do bull market estrutural. Para mim, essa brincadeira mal começou. Mas não importa o que eu acho. Erro pra caramba e seu patrimônio não pode se pautar em achismos alheios. Continue com um portfólio equilibrado e balanceado. Um dos meus maiores desafios é convencê-lo de que, mesmo eu achando que o dólar vai cair, você precisa ter dólares na sua carteira.

4. Não se ache um super-herói. Você (e eu) deu (demos) sorte em janeiro. Todo super-herói quebrou ao longo da história do mercado de capitais brasileiro. Aliás, super-herói rico é o Bruce Wayne ou o Tony Stark. Você não tem vocação para Batman ou Homem de Ferro.

5. Mesmo os maiores bull markets da história trazem grandes correções e percalços no meio do caminho. Esteja preparado para isso. Tome dois Engovs. Estômago de avestruz. Mentalmente forte, como diria Tite. E um pouco de liquidez no banco. Como brilhantemente resumiu o gênio Rogério Xavier no Credit Suisse nesta semana, “não subestime o prêmio de liquidez”. Claro que sabemos nosso lugar no mundo e não teríamos a mesma dificuldade de sair do mercado de dívida de países periféricos da Europa (não há comparação com o tamanho da SPX); mas aqueles que vêm montando posições em small caps (eu também estou muito otimista com essa classe de ativos) precisam saber que haverá um pênalti na hora da saída da posição. A marcação a mercado pode (e provavelmente será) outra no momento de sair.

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