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Federico Vega: Caminhões elétricos aceleram corrida por transporte mais sustentável

05 out 2020, 20:11 - atualizado em 05 out 2020, 20:34
Caminhão Elétrico
“A Hyllion recebeu um investimento de US$ 560 milhões, capital que a ajudará a acelerar a produção em alta escala”, informa o colunista (Imagem: Facebook Hyllion)

Há poucos dias foi concluída a fusão da Tortoise Acquistions com a Hyllion Inc, startup americana que produz powertrains híbridos e elétricos para caminhões. A associação das duas empresas deu origem a Hyllion Holdings Corp., formalizando a entrada da startup na bolsa de New York e transformando Thomas Healy, aos 28 anos de idade, no mais jovem bilionário americano.

Com o fechamento do negócio, a Hyllion recebeu um investimento de US$ 560 milhões, capital que a ajudará a acelerar a produção em alta escala e a comercialização de suas soluções, alcançando, no dia do fechamento deste artigo, um valor de mercado de US$ 1,31 bilhão.

A Hyllion foi pensada para utilizar infraestruturas instaladas a fim de facilitar e apressar a adoção de caminhões com menor emissão de carbono na atmosfera. Seu movimento é mais uma faceta de um mercado que está destinado a crescer.

A consultoria norte-americana P&S Intelligence previa um CAGR para o mercado de caminhões elétricos da ordem de 18,1% ao ano até 2025, quando podem estar rodando pelas cidades e estradas do mundo cerca de 1,5 milhão de unidades.

Existem hoje quatro tipos de tecnologia em fase de maturação e desenvolvimento: Battery Electric Vehicle (BEV), o Hybrid Electric Vehicle (HEV), que combina um motor a combustão com o elétrico, o Plug-In Hybrid Electric Vehicle (PHEV), que pode ser recarregado numa estação, e o Fuel Cell Electric Vehicle (FCEH) movido a hidrogênio –seu escapamento só emite vapor de água e ar quente.

No entanto, a disputa deve ser desequilibrada em favor dos BEVs, que não utilizam combustíveis fósseis, enquadram-se nas diretrizes de reduzir ou até zerar as emissões de carbono no setor de transportes e são mais baratos que os movidos a hidrogênio, ainda que estes tenham a vantagem de serem abastecidos como um motor convencional, em cerca de quatro minutos.

Os departamentos de Pesquisa & Desenvolvimento das startups e montadoras avançaram bastante na produção de baterias com maior duração, melhor eficiência energética e, sobretudo, mais baratas, o que pesa a favor da solução.

Nos países ricos, as frotas de transporte fazem um movimento de substituição dos caminhões maiores por modelos com combustíveis alternativos até para se alinhar aos protocolos de redução de emissão de carbono.

“Os veículos elétricos ainda custam cerca de três vezes mais que os convencionais com motor a diesel. Em contrapartida, o custo operacional é, em média, 65% menor”, afirma (Imagem: Pixabay)

A ideia das frotas de focar nos veículos de alta capacidade, ainda de acordo com o relatório da P&S Intelligence, é obter ganho de escala que compense os investimentos. E isso explica porque a estratégia da Hyllion está voltada para facilitar ao máximo a adoção da tecnologia.

Os veículos elétricos ainda custam cerca de três vezes mais que os convencionais com motor a diesel. Em contrapartida, o custo operacional é, em média, 65% menor. Segundo especialistas, o retorno do investimento ocorre em cerca de sete anos.

O principal entrave à popularização dessa alternativa limpa de transporte, além do capital mais alto a ser imobilizado na compra, é a questão da infraestrutura de abastecimento.

Em julho, líderes europeus fecharam um acordo histórico para financiar a recuperação da economia da região depois do Covid-19. Os planos de investimento podem se tornar uma boa oportunidade para preencher esse gap dentro da zona europeia.

Além disso, há a disposição de dar subsídios aos fabricantes de caminhões para que possam escalar a produção de veículos com zero emissão e manter viáveis as metas de 2030 e 2050 para redução da poluição do ar. Nos EUA, a Califórnia criou um programa de vouchers para facilitar a compra de caminhões elétricos.

A Hyllion enfrenta a concorrência de outros players fortes na indústria de caminhões. A sueca Scania anunciou no mês passado o lançamento de modelos de caminhões elétricos para o mercado europeu. Os modelos são voltados para o transporte urbano e podem levar cargas refrigeradas ou não e têm autonomia de 250 km.

“O mercado brasileiro ainda é modesto, focado basicamente nos veículos leves para circular nas cidades. O pioneiro aqui é a chinesa Jac Motors”, observa (Imagem: Jac Motors/Divulgação)

O e-Delivery da Volkswagen vai no mesmo rumo, um caminhão elétrico de porte leve que conta com a autonomia de 100 km. O veículo tem como principais características a carga completa em apenas 4 horas e a capacidade de até 11 toneladas.

Mesmo durante o isolamento social, startups e montadoras continuaram desenvolvendo seus modelos e agora os planos de lançar versões em 2021 e 2022 fazem todo sentido. Um exemplo é a Rivian, que fechou um contrato enorme com a Amazon (100 mil furgões).

Em termos de market share, a predominância é dos chineses com os fabricantes Dongfeng e Byd, que começará a vender na Europa, onde atuam Scania, VW, Daimler, Renault, entre outras.

As americanas Tesla, GM, Nikola (que tem uma encomenda com a AB Inbev) e Hyllion competem ainda com a coreana Hyundai e a japonesa Mitsubishi.

O mercado brasileiro ainda é modesto, focado basicamente nos veículos leves para circular nas cidades. O pioneiro aqui é a chinesa Jac Motors, que lançou o modelo iEV 1200T, caminhão com capacidade para 8t. A autonomia é de até 250 quilômetros com uma recarga e o preço fixado em R$ 350 mil.

Chegaremos ao ponto em que os caminhões elétricos vão fazer sentido do ponto de vista econômico por si só. Não vai demorar muito para você cruzar com algum nas suas próximas viagens. E assim iremos pavimentar a estrada para um transporte mais sustentável.

Federico Vega é CEO da Cargo X.