Fed vê caminho longo para derrotar inflação e coloca bolso do investidor na linha
Os dirigentes do Federal Reserve optaram, com unanimidade, por manter a taxa de juros básicos dos Estados Unidos na faixa dos 5,25% e 5,50%.
O movimento era amplamente esperado pelos mercados, que já começam a se ocupar com a pergunta que norteará o noticiário macroeconômico até a penúltima decisão do ano, marcada para o dia 1º de novembro: caberá ainda uma nova alta de 0,25 ponto percentual na programação de fim de ano do Fed?
Para 12 membros que compõem o Fomc, maioria no colegiado, a resposta é sim. Segundo analistas do mercado, a percepção majoritária de que a política monetária não entrou em terreno suficientemente restritivo é indicativo de que a pausa de setembro é só mais um respiro (como foi em junho).
Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, diz: “Taxas de inflação perigosamente altas, convivendo com atividade resiliente, mesmo após todo o aumento dos juros, irão provavelmengte encorajar apertar ainda mais a política monetária.”
Na coletiva, Jerome Powell buscou moderar o impacto das projeções, salientando que elas representam mais um sentimento momentâneo do que um plano de ação, e que uma nova alta ocorrerá de acordo com o acúmulo de dados obtidos até lá.
Para a economista Ariane Benedito, há muitas dúvidas se os dados de inflação, do mercado de trabalho e de atividade econômica a serem publicados até o dia 1º de novembro ajudarão no encerramento do ciclo monetário onde está hoje.
“Mesmo com o nível de atividade desacelerando gradualmente, alguns preços de commodities vêm apresentando tendência de alta, como é o caso do petróleo. […] Esse movimento gera uma dúvida do comportamento dos indicadores de preço para frente”, diz Benedito.
A economista também pontua que, embora as últimas medições do PCE tenham vindo dentro das expectativas, o qualitativo do indicador ainda mostra riscos na parcela de inflação de serviços.
A propósito, a elação entre o mercado de trabalho e pressões de inflação na economia foi endereçada por Powell na coletiva. Em resposta a um jornalista, o chefe do Federal Reserve atribuiu o forte crescimento do PIB ao gasto com consumo das famílias.
- A Super Quarta chegou: Qual será o tamanho da tesoura de Campos Neto? Veja o que esperar das decisões do Copom e Federal Reserve hoje e como preparar seus investimentos para aproveitar o cenário. É só clicar aqui para assistir!
Projeções trimestrais confirmam cenário “juros mais altos por mais tempo” para Fed
Além de as projeções de juros para o fim de 2023 apontarem para mais uma alta, membros do Fomc também atualizaram as avaliações sobre o patamar da taxa de juros para os anos de 2024 e 2025.
Em 2024, as autoridades veem os juros por volta dos 5,4%, o que sinaliza dois cortes a menos do que o mercado esperava. Ao fim de 2025, a mediana aponta para uma taxa de 3,9%, o que confirma a perspectiva de juros mais elevados por mais tempo.
Para José Maria Silva, coordenador de Alocação e Inteligência da Avenue, a mudança reflete uma instância mais conservadora da política monetária, diante de dados econômicos mais fortes.
Corrobora essa análise a revisão altista do PIB americano para o fim de 2023. Membros do Fomc projetam um crescimento de 2,1%, contra 1,9% avaliado em junho. O desemprego, por sua vez, deve atingir a marca de 3,8% ao fim deste ano e 4,1% ao fim de 2024.
Por fim, o núcleo do PCE projetado pelos membros do Fomc aponta uma inflação adjacente próximo da meta somente em 2025.
Fechamento do mercado americano
Os três principais índices de Nova York fecharam o pregão em queda, após comunicado do Federal Reserve reforçar o mantra dos juros mais altos por mais tempo:
- Dow Jones Industrial Average (DJIA): -0,22%, aos 34.440,88 pontos;
- S&P 500 (SPX): -0,94%, aos 4,402.20 pontos;
- Nasdaq (IXIC): -1,53%, aos 13.469,13 pontos.
No mercado de Treasuries, rendimentos das principais taxas saíram do negativo e voltaram a subir, flertando com máximas não vistas em mais de uma década:
- T-bills de 10 anos: 4.040%, avanço de 3,7 pontos-base em relação à véspera;
- T-notes de 2 anos: 5.191%, avanço de 8,6 pontos-base em relação à véspera.