Mercados

Fed se prepara para a decisão ‘mais esperada dos últimos tempos’

22 mar 2023, 13:23 - atualizado em 22 mar 2023, 14:15
Fed
Federal Reserve deverá anunciar aumento na taxa de juros (Imagem: REUTERS/Jonathan Ernst)

A decisão de elevar os juros anunciada na semana passada pelo Banco Central Europeu (BCE) desafiou os mercados e a expectativa é que o Federal Reserve siga a deixa do seu par europeu hoje, às 15h.

De acordo com o Fed Funds, o cenário mais favorecido, por quase 85% das apostas, é de que o BC norte-americano suba em 0,25 ponto-percentual (pp.) a taxa de juros, colocando-a na faixa dos 4,75-5,00%. Por outro lado, a manutenção da taxa no patamar atual possui uma chance menor, de 15,1%.

Ainda que Wall Street esteja de alguma maneira preparada para o aumento de 0,25 pp., isso não significa dizer que os mercados o receberão tranquilamente.

Isso, porque a crise de confiança no sistema bancário, deflagrada pela falência do SVB e do Signature Bank, ainda não parece ter se dispersado por completo, mantendo vivo o temor de uma crise de liquidez ainda maior no país — o que poderia ser agravado pela continuidade do aperto.

Considerando entrada desse novo fator, Elcio Cardozo, sócio da Matriz Capital, qualifica a decisão de hoje como sendo uma das decisões “mais esperadas dos últimos tempos”.

Para Rodrigo Cohen, analista e co-fundador da Escola de Investimentos, a inflação americana “ainda não bateu no pico” e que o mercado de trabalho permanece extremamente aquecido. São esses os fatores que guiaram o discurso mais ‘hawkish’ do Fed nos últimos tempos.

Na última divulgação, o CPI americano chegou a 6,00%, suportado por um avanço de 0,5% da inflação de núcleo na comparação mensal. Já o payroll indicou a abertura de mais de 230 mil vagas em fevereiro e uma taxa de desocupação navegando em mínimas históricas.

Porém, com o vislumbre de uma severa crise de crédito (credit crunch) frustrando a possibilidade de qualquer pouso suave da economia, torna-se mais difícil para o Federal Reserve manter o comportamento ‘custe o que custar’ na ação de combate à inflação.

“São cisnes negros que estão acontecendo”, diz Cohen, que passou a defender uma pausa temporária no aperto para que a economia possa respirar.

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Mercado dos EUA cobra corte de taxas ao fim de 2023

Em um seminário para tratar do estresse sobre o sistema bancário, analistas da Blackrock disseram estranhar a diferença de tratamento com que mercados americanos e europeus veem o aperto monetário daqui em diante.

Do lado europeu, um aumento de 0,25 pp. ou 0,50 pp. na taxa foi visto somente como uma questão de “escala”, ou seja, mesmo com a derrocada do Credit Suisse criando sombras no sistema bancário, o mérito do aperto monetário permaneceu intacto.

Já nos EUA, a crise dos bancos regionais já foi o suficiente para o mercado precificar um corte na taxa de juros. Nos dias posteriores à intervenção federal nos bancos falidos, a projeção dos juros futuros passou a vislumbrar o final do ciclo não mais a um patamar de 5,75%, mas sim de 4,75%.

Apesar da grita do mercado, a Blackrock não vê espaço para que a autoridade monetária diminua juros em 2023.

As angústias no que tange o ponto final do aperto também serão respondidas, ao menos provisoriamente, comunicado de hoje, quando os formuladores de política entregarão a projeção da taxa terminal, através do gráfico de pontos (dot plot).

Na publicação de dezembro, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do BC norte-americano, a maioria dos dirigentes projetava uma taxa a 5,1%. Essa percepção foi drasticamente transformada nos dois primeiros meses de 2023, à medida que dados mostraram a permanência de uma inflação.

Fed entra em modo ‘morde-e-assopra’

Os empréstimos históricos do Federal Reserve aos bancos após o colapso do Silicon Valley Bank abriram um enorme buraco em seu esforço para reduzir o tamanho de seu balanço.

Na avaliação de economistas, contudo, o uso dessas ferramentas de estímulo dá espaço ao banco central para avançar com aumentos de juros e evitar ciclos anteriores, em que era forçado a ficar de lado ou cortar juros quando os mercados sofriam uma turbulência notável.

Embora o Fed possa ter subestimado como as altas de juros e sua supervisão bancária afetariam o sistema financeiro, “ele tem tentado institucionalizar reformas na janela de desconto destinadas a melhorar a estabilidade financeira após as consequências da crise financeira no início da pandemia”, escreveu Joseph Politano, da Apricitas Economics, em um boletim informativo no sábado.

Para analistas da Evercore ISI “raramente há uma separação perfeita entre a estabilidade financeira e os objetivos da política monetária”, ao se referir à necessidade de se contemporizar a luta contra a inflação à injeção de liquidez na economia.

Os programas de concessão de crédito do Fed aumentaram o tamanho do balanço geral da instituição para US$ 8,7 trilhões, contra US$ 8,4 trilhões na semana anterior. As participações do Fed atingiram um pico de pouco menos de US$ 9 trilhões em mercados do ano passado.