Fed se divide entre riscos externos e sólida economia doméstica
Existem membros do Federal Reserve que moram no vale, e outros que moram na montanha.
Os que moram no vale, um grupo que inclui os presidentes regionais do Fed Thomas Barkin, Eric Rosengren e Esther George, estão aninhados na economia doméstica. Do ponto de vista deles, o consumo está forte, o desemprego é baixo e a geração de empregos ainda parece boa.
Os que ficam no topo da montanha, como o presidente do Fed de Nova York, John Williams, e o vice-presidente, Richard Clarida, olham além das fronteiras dos EUA e veem nuvens pesadas. A manufatura global está em recessão. Parece pouco provável que as disputas comerciais sejam resolvidas rapidamente, e esses riscos podem afetar ainda mais os investimentos nos EUA, com implicações para a geração de empregos.
E onde então mora o presidente do Fed, Jerome Powell? Provavelmente em ambos os lugares, o que sinaliza outro corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros na reunião do Fed esta semana, deixando a porta aberta para mais reduções.
Powell voltou atrás nos comentários sobre recessão, dizendo em 6 de setembro que o cenário mais provável para a economia é “favorável”, com um forte mercado de trabalho, crescimento moderado e inflação acelerando gradualmente. Mas o presidente do Fed também destacou três “riscos significativos”: desaceleração do crescimento global, incerteza em torno da política comercial e inflação muito baixa.
É uma mensagem complicada: a economia dos EUA pode estar bem ou as coisas podem dar muito errado. Esse dilema destaca os desafios da política monetária e de comunicação enfrentados pelo Comitê Federal de Mercado Aberto ao se reunir em Washington esta semana. Powell precisa equilibrar um comitê dividido em um momento de alta incerteza.
O gradualismo da política monetária é geralmente o resultado. Mas seus comentários anteriores também sugerem que ele gostaria que a economia se acelerasse, desde que a inflação permanecesse sob controle.
Essa visão pode resultar em um acentuado viés de afrouxamento no comunicado do FOMC ou em sua conferência de imprensa, embora a necessidade de se comprometer torne improvável um corte agressivo de meio ponto.
’Não arrisque’
“Entendo o campo da ’não mudança’; eu poderia defender esse argumento”, disse Laurence Meyer, ex-governador do Fed que agora comanda a Monetary Policy Analytics, uma empresa de pesquisa em Washington. “Mas, se você está no campo da gestão de riscos, não se arrisca”, disse, razão pela qual espera um novo corte no fim do ano.
Os investidores esperam que o FOMC reduza o intervalo de sua taxa de referência em 25 pontos-base, para 1,75% a 2%, no fim da reunião de 17 a 18 de setembro. As autoridades do Fed também publicarão um novo conjunto de previsões, e é aí que a comunicação se torna difícil.