Perspectiva Semanal

Fed põe credibilidade à prova após resgate do SVB e dá xeque-mate no Copom

19 mar 2023, 16:00 - atualizado em 18 mar 2023, 10:44
Jerome Powell Federal Reserve CBDC
Fed agiu rápido para conter a crise do SVB e põe credibilidade em xeque na quarta-feira (22), mesmo dia em que o Copom anuncia decisão de juros (Imagem: Kevin Dietsch/Pool via Reuters/File Photo)

Que semana foi essa! Primeiro, o colapso do Silicon Valley Bank (SVB) abalou os mercados globais, colocando em xeque a credibilidade dos bancos centrais – em especial do Federal Reserve.

Afinal, a ação rápida e firme do Fed ao mesmo tempo em que trouxe alívio, mostrou a gravidade da situação. Fato é que os investidores sabiam que dificilmente a subida da taxa de juros nos Estados Unidos de zero para em torno de 5% não deixaria vítimas pelo caminho. 

A pergunta é: por que ninguém viu o problema no Vale do SilícioPara piorar, o risco de contágio atravessou o Atlântico Norte e foi até os alpes suíços. O problema de liquidez no tradicional Credit Suisse fez com que os fantasmas da crise de 2008 voltassem a assustar. 

Assim, o sinal de alerta sugeriu que seria mais prudente fazer uma pausa no ciclo de aperto dos juros nos EUA, digerindo a situação nos bancos regionais. Consequentemente, o Fed admitiria que perdeu-se de vez o caráter “temporário” da inflação.

Ao menos o Banco Central Europeu (BCE) manteve a cabeça fria e apertou a taxa referencial em 0,50 ponto percentual (pp), evitando um choque de confiança ainda maior. Mais que isso, o BC da zona do euro deixou claro que segue firme na luta contra a alta dos preços

E agora Fed?

Esses episódios lançam luz para os eventos marcados para os próximos dias, principalmente a reunião deste mês do Fed, na quarta-feira (22). Após a quebra do SVB, as apostas são de uma nova alta de 0,25 pp, repetindo a dose observada no mês passado.

Porém, até poucos dias antes, uma dose maior, de 0,50 pp, era amplamente esperada. Depois, os mercados não só quase abandonaram as chances de mais aumentos nos juros dos EUA como também passaram a esperar cortes do Fed ainda neste ano.

Talvez por isso, após uma semana extraordinária nos mercados globais, os ativos de risco encerraram o período com relativa calmaria. Mas isso não significa que a recente turbulência já passou. Ao contrário, ainda há riscos potenciais de estresse, inclusive de uma inflação permanente.

A depender de como a situação se desenrolar, pode haver implicações negativas ao cenário econômico. Até porque o colapso do SVB reflete um dos maiores ciclos de alta dos juros na história dos EUA, custos de empréstimos mais elevados e acesso escasso ao crédito.

O único ingrediente que falta incluir nessa receita é uma recessão. E, ao entrar cada vez mais rápido em um território restritivo, naturalmente têm-se menos controle sobre o resultado final.

Depois do Fed, ainda tem o Copom

Seja como for, os riscos no cenário externo dão como certa uma mudança de postura por parte do Comitê de Política Monetária (Copom), horas após os eventos envolvendo o Fed. Embora a expectativa ainda seja de manutenção da taxa Selic em 13,75%, o mercado acredita que o Banco Central nacional usará o comunicado e a ata para sinalizar o início dos cortes em breve.

Do contrário, o Copom pode instalar o casos nos mercados domésticos, elevando a volatilidade do Ibovespa e do dólar. Mais que isso, a queda de braço entre BC e governo tende a voltar com força.

Ainda mais depois que a equipe econômica tratou de apresentar a proposta do novo arcabouço fiscal que irá substituir a regra do teto de gastos. Ou seja, se o Copom não sinalizar um corte no juro básico em breve seria como se a autoridade monetária tivesse jurado de morte a proposta de Fernando Haddad (Fazenda) antes mesmo de ser levada ao Congresso.

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