Fed olha para inflação, mas deveria se preocupar com a recessão
O Federal Reserve está determinado em controlar a inflação. Na ata divulgada nesta quarta-feira (06), o banco central americano indicou que pode aumentar os juros em 0,5 ou 0,75 pontos-base na próxima reunião, prevista para o fim deste mês.
“Estamos atentos a riscos de alta na inflação e seremos ágeis em responder aos dados”, diz o documento.
O tom da ata foi de hawkish que, no jargão econômico, é usado para indicar que o aperto monetário continua firme e forte. O que não é uma surpresa. “Basta lembrar que o Fed tinha 50 pontos-base como cenário para a decisão passada [em junho] e, de última hora, acelerou para 75 pontos-base. E, de fato, é um documento com tom duro: eles reconheceram a possibilidade de que uma postura ainda mais restritiva pode ser apropriada”, afirma Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original
Para Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, a postura também foi mais do mesmo. “Obviamente, se a inflação não desacelerar, o banco central americano vai precisar subir mais os juros. Então, o anúncio não foi nada que o mercado já não estava esperando.”
Já Maurício Valadares, gestor da AF Invest, a ata chancela uma alta de 75 pontos-base. “O Fed deixou claro que vai privilegiar o combate à inflação ao invés de preocupações com crescimento neste momento. Essa vai ser a premissa necessária para fazer com que o mercado de trabalho se mantenha sólido de forma sustentável.”
“Matar a inflação, antes que recessão chegue”
No entanto, o mercado entende que o Fed pode estar atrasado: a preocupação não deveria ser a inflação, e sim com o risco de recessão. O documento, aliás, não faz nenhuma menção à palavra “recessão”. Seria o temor do mercado só um fantasma?
Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, destaca que o banco central está olhando para o retrovisor e que o cenário já mudou. “O recuo das commodities, influenciado pelo medo da recessão, deve tirar a pressão da inflação alta. Por isso, estamos vendo o dólar se fortalecer e as commodities perdendo valor, além do título americano de 10 anos ficando mais baixo”, disse.
Na ata, o Fed aponta suas preocupações com o desenrolar da guerra na Ucrânia e seus efeitos na atividade econômica global, assim como os lockdowns na China, que podem intensificar problemas na cadeia de produção. “O problema todo é que é uma ata que reflete o passado. O mercado precifica uma recessão agora. O que vemos é que o Fed já tem espaço para ser mais frouxo no aperto monetário”, afirma Marcelo, que defende que uma alta de 0,5 pb é mais apropriada.
Agora, o que o mercado quer saber é como o banco central americano irá evitar um cenário de recessão nos Estados Unidos nos próximos meses. “A grande tônica para o Fed neste momento é tentar matar essa inflação, antes que uma recessão chegue”, afirma Andrey Nousi, CFA e fundador da Nousi Finance. “Porque, caso contrário, eles ficam sem nenhuma arma para combater uma recessão, que seria cortar juros e voltar a comprar títulos públicos e hipotecários.”
A próxima próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) está marcada para os dias 26 e 27 de julho.
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