Retrospectiva 2022

Fed entrega juros americanos acima de 4% em aperto mais restritivo da última década

27 dez 2022, 15:00 - atualizado em 27 dez 2022, 15:10
Fed
Fed conduziu maior aperto monetário em mais de uma década Imagem: Flickr/Federalreserve)

Era julho de 2021 quando Janet Yellen, a secretária de Tesouro do governo Biden, endereçou um tímido avanço de preços na economia americana. “Eu acredito que continuaremos vendo uma inflação mais alta ao longo do ano, por volta dos 3%. Mas entendo que isso [a inflação] representa fatores temporários”.

E Yellen não estava só. Jerome Powell, o presidente do Federal Reserve, e a maioria dos dirigentes do BC americano pareciam convictos de que os choques de oferta originados pela pandemia iriam desaparecer eventualmente, devolvendo o equilíbrio dos mercados.

Para o dissabor das autoridades, não foi o que aconteceu. De julho de 2021 até fevereiro de 2022 o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) registrou sete altas consecutivas, acumulando uma inflação de 7,9% até aquele momento.

A falta de matéria-prima disponível e a desorganização das cadeias de valor comprometeram o sonho americano da casa da própria para milhões de americanos, que também viram o preço dos aluguéis e dos veículos subirem vertiginosamente.

Foi nesse contexto que o Federal Reserve inaugurou o aperto monetário, aumentando em 0,25 ponto-percentual (pp.) a taxa básica de juros, encerrando uma década de neutralidade monetária.

O fim dos juros neutros

O aumento de 0,25 pp., anunciado em março, nasceu defasado, à medida que a eclosão da guerra na Ucrânia e o seu impacto nos mercados de energia e alimentos, cerca de quinze dias antes da decisão, passariam a conferir um crescimento ainda mais acelerado da inflação nos meses seguintes.

De fevereiro a agosto de 2022, o CPI americano anotou seis novos avanços, levando ao pico de 9,1%, o patamar mais elevado desde 1981, quando o mundo enfrentava os efeitos do Segundo Choque do Petróleo.

Em meados de abril, a convicção de que a inflação seria transitória havia se esfacelado e sinais de incêndio foram soados por toda a economia americana.

As primeiras vítimas a caírem foram os mercados de risco, sensíveis à curva de juros e ao aumento do custo do capital.

Os três índices acionários principais de Nova York entraram em ciclos de baixa e assumiram perdas que, no caso do Nasdaq, superam 30% no ano. Do outro lado, os títulos da dívida pública americana viram seus melhores rendimentos em mais de uma década.

A perspectiva de que o Fed elevaria o tom contra a inflação se confirmou a partir de maio, quando a autoridade fez um aumento de 0,50 ponto-percentual. Depois disso, quatro novos aumentos de 0,75 pontos-percentuais, referentes as reuniões de junho, julho, setembro e novembro, foram anunciados.

O ciclo de aperto monetário ainda recebeu uma última atualização de 0,50 ponto-percentual na reunião de dezembro, elevando a taxa básica dos Estados Unidos na faixa de 4,25-4,50% — o maior patamar desde a crise financeira de 2008.

Fed e o pouso suave

A persistência da inflação em níveis “inaceitáveis”, como qualificou, inclusive, o Fed. nos diversos comunicados deste ano, e a consequente elevação dos juros acabou fomentando uma outra questão: a economia americana teria condições de suportar os solavancos de um aperto monetário sem que uma recessão aconteça?

Foi então que o termo ‘pouso suave’ começou a ganhar tração entre jornalistas, analistas financeiros e entre os próprios dirigentes do Fed, transformando-se em um debate permanente.

Críticos de Jerome Powell alertam que a autoridade monetária foi muito leniente com o avanço inicial da inflação e que a súbita elevação dos juros, com direito à quatro aumentos de quase 100 pontos-base, tornará quase inevitável a recessão em 2023.

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