Internacional

Fed de Nova York conta com especialista que desafia premissas

29 jul 2019, 17:31 - atualizado em 29 jul 2019, 17:31
A crise financeira oferece muitos exemplos. O Fed errou sobre os mercados imobiliários antes do estouro da bolha, e suas estimativas de recursos do mercado de trabalho na recuperação também estavam equivocadas (Imagem: Andrew Harrer/Bloomberg)

Margaret McConnell muitas vezes diz aos funcionários do Federal Reserve que eles deveriam estar muito mais confusos do que deixam transparecer. Esse é seu trabalho.

McConnell é responsável pela unidade de Pensamento Crítico Aplicado (ACT, na sigla em inglês), um enclave pouco conhecido do Fed de Nova York com um grande mandato: encontrar falhas nas premissas mais básicas dos bancos centrais – o que pode levar a grandes equívocos de política monetária quando tais premissas estão erradas.

O ACT existe para lembrar o resto da instituição, cujas amplas equipes de pesquisa estão sob constante pressão para fornecer respostas, que a dúvida é legítima em face de questões complexas, embora muitas vezes sejamos traídos pelas coisas sobre as quais temos certeza. Os maiores riscos nem sempre estão nos mercados. Em outras palavras, às vezes estão dentro do próprio edifício.

“Tenho interesse em mudar as lentes”, disse McConnell – que raramente aparece em público ou discute detalhes do sensível trabalho do ACT – em entrevista no mês passado. “E se o que estivermos falando como verdade não for verdade? Procurar mais por enigmas do que pela história que você acha que sabe é algo muito difícil.”

É uma abordagem deliberadamente perturbadora, que combina com o humor dos mercados financeiros globais.

’Amargo Fracasso’

Recordes de alta para todos os tipos de ativos coexistem com uma sensação desconfortável de que algo grande poderia estar errado. Investidores vasculham o horizonte em busca da próxima bomba-relógio – sejam empréstimos alavancados ou a crescente pilha de dívida com rendimento negativo.

McConnell olha mais longe, para incluir o próprio processo político.

A crise financeira oferece muitos exemplos. O Fed errou sobre os mercados imobiliários antes do estouro da bolha, e suas estimativas de recursos do mercado de trabalho na recuperação também estavam equivocadas. A conclusão de McConnell depois de 2008 foi que a economia praticada nos bancos centrais de hoje tem pontos cegos embutidos.

Seus chefes concordaram – e foi assim que o ACT passou a existir. McConnell imaginou uma unidade que teria por base áreas como psicologia, teoria de sistemas complexos e design. O ex-presidente do Fed de Nova York, Bill Dudley, gostou da ideia, e McConnell lançou o projeto em 2016. Agora existem cerca de 15 analistas trabalhando na unidade.

Dudley chama a crise de “um amargo fracasso da imaginação”. Parte desse fracasso ocorreu dentro de uma profissão da economia mais inclinada a celebrar seus sucessos.

McConnell é o tipo de pessoa que fica preocupada quando todos pensam que o cenário é brilhante.

Ela tinha um “talento para a escuridão”, disse Timothy Geithner, ex-secretário do Tesouro dos EUA e antecessor de Dudley como presidente do Fed de Nova York, em seu livro de memórias sobre a crise “Stress Test”. Essa foi uma das razões pelas quais decidiu escolher McConnell como uma de suas assessoras mais próximas.

“Ela sempre fazia a pergunta desagradável, a pergunta incomum”, disse Geithner em entrevista. “Era uma pessoa curiosa e profundamente cética em relação à sabedoria recebida.”

McConnell, que tem doutorado pela Universidade Estadual de Ohio, entrou na equipe de pesquisa sobre economia doméstica do Fed em 1996. Alguns anos depois, começou a se interessar por viés institucional – quando ela mesma o desprezava.

McConnell quer aplicar insights de outras áreas – “particularmente inteligência, design, ciência do clima e medicina” – ao banco central.

–Com a colaboração de Matthew Boesler.

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