Economia

Após ata do Fed: Copom precisa acompanhar ritmo de elevação de juros nos EUA; entenda

16 fev 2022, 18:40 - atualizado em 16 fev 2022, 18:46
Federal Reserve
Algumas questões, como quanto será o aumento nos juros norte-americanos, continuam sem clareza (Imagem: REUTERS/Chris Wattie)

A ata da última reunião do Federal Reserve (Fed) não mostrou nada fora do esperado, mas deixou alguns pontos ainda em aberto.

Paloma Brum, analista de investimentos da Toro, destaca que a dúvida que fica agora é a velocidade do aumento da taxa de juros norte-americana, que pode ser mais acelerada do que na última elevação de juros nos Estados Unidos, em 2015.

De acordo com Brum, a sinalização de um ritmo mais rápido no ciclo de alta dos juros reforça a perspectiva de uma Selic (taxa básica de juros do Brasil) ainda maior que os 11,75% previstos pelo Copom para o fim de 2022.

“Caso o Copom não acompanhe esse movimento, subindo de forma paralela a Selic, podemos observar um aumento da pressão inflacionária no Brasil diante da saída de capital da nossa economia rumo aos títulos públicos americanos, que ficarão com uma rentabilidade mais atrativa, aliada ao nível de segurança elevado dos papéis do governo estadunidense”, afirma a analista.

A ata indica uma postura mais hawkish (agressiva em relação à inflação) por parte das autoridades monetárias dos EUA, que decidiram durante a reunião dos dias 25 e 26 de janeiro manter inalterada a taxa de juros do país entre 0-0,25% e sinalizaram a primeira elevação em março.

Na ocasião, o Fed também sinalizou que espera dar início à redução do seu balanço patrimonial logo após a alta dos juros.

As autoridades têm se atentado ao fortalecimento dos indicadores de atividade econômica e de emprego no país e monitorado de perto o desequilíbrio entre oferta e demanda, que contribui para a elevação dos níveis de inflação.

De acordo com a ata divulgada hoje, as autoridades veem que as condições financeiras nos EUA permanecem “acomodativas”.

Dados do varejo divulgados pela manhã corroboram com a visão do banco central norte-americano. As vendas no setor apresentaram uma boa recuperação em janeiro, tendo subido 3,8%, de acordo com o Departamento de Comércio dos EUA. Economistas consultados pela Reuters previam alta de 2%.

O Fed mostrou preocupação com a estabilidade econômica do país. Para eles, uma política monetária frouxa pode representar um risco substancial.

Com a inflação bem acima dos 2% e um mercado de trabalho aquecido, o comitê acha que seria apropriado uma redução no tamanho do balanço de quase US$ 9 trilhões em breve.

Saia justa do Fed

Na opinião de Leonardo Jaguaribe, MBA em Ações & Stock Picking pela IBMEC e em Gestão Empresarial pela FGV, além de fundador da escola de educação financeira Cripto Holder, o que também não ficou claro é quanto será esse aumento nos juros.

“Não está claro se haverá aumento de 0,25% ou 0,5%. Porém, o mercado precifica a ata com dados mistos”, diz.

Uma coisa, no entanto, está certa: haverá aumento na taxa de juros em 2022.

Segundo o Jaguaribe, o Fed está em uma saia justa: aumentar os juros em 0,5% ou até mais para tentar conter a maior inflação em quase 40 anos, 7,5%, ou ir paulatinamente subindo de 0,25 a 0,25% por reunião, de acordo com a resposta do mercado.

Outro ponto que está em aberto, destaca Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, é o processo de redução de balanço para o fim do ano, o que preocupa.

“Sem a redução da expansão do balanço e, depois, a própria redução do balanço, fica difícil eles [o Fed] elevarem só os juros, porque tem efeito muito limitado”, comenta o especialista.

Vieira entende que, sem que aconteça efetivamente uma redução da expansão do balanço, o Fed não pode elevar os juros em ritmo acelerado, pois, além de criar um custo elevado para a dívida norte-americana, ele não resolve o problema da inflação.

Nesta quarta, o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, disse que o banco central “não vai exagerar” no movimento de elevação do juro norte-americano.

O mercado logo reagiu à ata do Fed. O Ibovespa subiu 0,31% na sessão de hoje, a 115.180,95 pontos.

As bolsas norte-americanas conseguiram evitar maiores baixas. O S&P 500 fechou estável, a 4.475,01 pontos, enquanto Dow Jones e Nasdaq Composite tiveram leve queda de 0,1%.

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