Estados Unidos: Por que o Fed está irritado com o crescimento da economia
Para desgosto do Federal Reserve (Fed), os dados oficiais do governo americano divulgados nesta quinta-feira (26) confirmaram o que já vinha sendo especulado: a economia dos Estados Unidos teve crescimento com “C” maiúsculo no terceiro trimestre.
Entre julho e setembro, o PIB americano expandiu 4.9% em relação ao mesmo período de 2022. Trata-se do maior ritmo de expansão desde 2021.
Como adiantado, a primeira leitura do indicador para o terceiro trimestre foi engatada pelo consumo das famílias norte-americanas.
Segundo Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, houve “contribuições positivas de todos os componentes de demanda agregada”, com destaques para o maior salto em serviços desde 2022, recuperação na parte residencial, aumento de investimentos e gastos públicos.
Outra contribuição positiva veio do avanço das exportações, que levaram os Estados Unidos a terem um superávit comercial no trimestre.
Borsoi avalia que a economia americana terminará o ano com expansão de 2.3% na base anualizada, uma tendência de crescimento que parece não reconhecer o peso de juros básicos transitando na casa dos 5%.
Neste ponto, a resiliência da economia americana diante do aperto monetário se tornou um fato a ser temido e pelos dirigentes do Federal Reserve.
Isso, por que ela pode sinalizar aos dirigentes da autoridade monetária a necessidade de elevar ainda mais os juros, de maneira que a inflação retorne à meta de 2%.
No discurso da semana passada, Jerome Powell, presidente do Fed, endereçou este risco: “Novas evidências de crescimento econômico persistente, ou de um mercado de trabalho ainda apertado, podem ameaçar o progresso no controle da inflação e justificar novas doses de aperto”.
Para analistas do mercado americano, ficou claro que a paciência do BC norte-americano com a narrativa da resiliência da economia está se esgotando.
Ou seja, caso os indicadores econômicos não mostrem uma desaceleração da atividade neste trimestre, a autoridade deverá responder com um novo aumento na taxa de juros.
Para Gabriel Fongaro, economista da Julius Baer, a desaceleração aguardada pelo Fed deve realmente se manifestar neste trimestre, o que pode ser um alívio para o mercado de ações e de títulos.
O economista destaca a retomada da cobrança de dívidas estudantis e um ambiente de crédito mais restrito como agentes importantes para a diminuição do ritmo de consumo na economia nos três meses finais de 2023.
Já segundo o economista-chefe da Nova Futura, é possível que após um quarto trimestre fraco, 2024 comece com uma recessão técnica “bem rasa, conforme os efeitos da alta de juros são repassados para a economia”.
- IPCA-15: A gasolina não é mais a ‘culpada’ pelta da inflação? Analista Matheus Spiess comenta quais devem ser os efeitos da prévia para os mercados; Confira no Giro do Mercado clicando aqui.
Fed deve manter juros intocados, mesmo após PIB bombástico
Apesar da leitura bombástica do PIB, as projeções do Fed Funds — 98.5% delas — apontam para a manutenção dos juros na atual faixa dos 5.25% – 5.50% a partir da decisão monetária do próximo dia 1 de novembro.
A leitura do mercado é que a autoridade monetária norte-americana irá dar uma “última chance” aos sinais de desaceleração, esperando que eles se acumulem a partir de novembro.
De acordo com as projeções divulgadas em setembro da maioria dos membros que votam no Fomc, a taxa de juros dos EUA, ao fim do ciclo, deverá ser de 5.6% na mediana, o que exprime a possibilidade de mais uma alta de 0,25 ponto percentual.
“O crescimento do terceiro trimestre está no retrovisor. A dúvida que fica é como o Fed irá reagir a partir de agora”, coloca Fongaro, da Julius Baer.