Coluna do Bruno Marchesano

Fé no mercado: Investidor deve temer uma sexta-feira 13 ou seguir em frente?

13 maio 2022, 13:37 - atualizado em 13 maio 2022, 13:37
Fé
“Quem diria que a superstição da sexta-feira 13 teria relações com o mercado de capitais”, disse o colunista (Imagem: Pixabay)

O que é fé? Para mim, é nossa crença de que algo possui uma grande probabilidade de ser verdade, portanto, ao ter fé em Deus, você estaria considerando que há uma alta probabilidade de Ele existir.

Eu fui criado em uma família católica, fiz a primeira comunhão e rezava praticamente todos os dias. Essa fé indiretamente me influenciou a acreditar no sobrenatural e em superstições, como a que estabelece o dia de hoje, sexta-feira 13, como um dia de azar.

Essa superstição foi construída a partir de uma narrativa ligada a várias coincidências de contos religiosos católicos. Dentre eles, a Última Ceia, em que Jesus jantou com seus discípulos em uma quinta-feira, cujo 13º convidado a chegar foi Judas, aquele que traiu Jesus e causou sua crucificação em uma sexta-feira.

Contudo também sofreu influências de contos de outras mitologias, como a nórdica, e até mesmo de datas relacionadas a eventos históricos, como da caçada aos Cavaleiros Templários, iniciada por Filipe IV, rei da França, em 13 de outubro de 1307, uma sexta-feira.

Aparentemente, a superstição ligando má sorte com a sexta-feira 13 se cristalizou na cultura popular no início do século 19, graças ao lançamento de um livro que ganhou grande popularidade intitulado “Friday, the Thirteenth”, de Thomas W. Lawson. O romance trata de um inescrupuloso corretor de ações que escolheu essa data para quebrar o mercado acionário americano com o objetivo de se vingar de seus inimigos e deixá-los na miséria.

Curiosamente, o autor também era um empresário e controverso corretor de ações que estivera envolvido em algumas situações suspeitas de manipulação de mercado.

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Relação entre sexta-feira 13, fé e o mercado

Quem diria que a superstição da sexta-feira 13 teria relações com o mercado de capitais, ainda mais em situações tão controversas?

Eu não, mas também não imaginava que, menos de três anos depois de atingir o auge de minha fé em Deus, me converteria ao ateísmo. Esse processo fez com que a probabilidade atribuía não só a existência de uma divindade como a superstições caísse para virtualmente zero — é importante deixar um espaço para incerteza.

Para mim, superstições são nada mais do que frutos de eventos aleatórios que coincidentemente possuem correlação entre si e que resultam em uma narrativa atrativa. Porém, mesmo atribuindo uma baixíssima probabilidade para a realidade dessa narrativa, a fé ainda pode existir atraída pelo receio e necessidade de se prevenir na mínima eventualidade de estar errado.

No mercado financeiro, todo bom investimento também está rodeado de uma ótima narrativa. Seja aquela empresa que está se reinventando, ou aquela gestora fundada por profissionais que trabalham juntos por anos ganhando dinheiro para o banco e que agora estão ao seu alcance graças ao fundo que montaram.

Essa narrativa dos gestores, embora atrativa, só será cristalizada como uma história de sucesso quando seu fundo entregar uma boa performance. Algumas vezes isso acontece no curtíssimo prazo, podendo se provar, mais adiante, um engano, dado o curto período amostral e a indicação de que os gestores tiveram sorte.

Em outras, temos o investidor de um fundo multimercado recomendado por nós, com histórico de praticamente 12 anos, com 99,86% das 2.179 janelas móveis de três anos desde seu início acima do CDI, entregando um retorno médio de CDI +8,2% ao ano.

Mesmo com uma alta probabilidade de esse fundo se recuperar dado seu histórico espetacular, como houve uma perda de 24% durante a pandemia, alguns de seus investidores acabaram dando maior peso para o medo e a mínima probabilidade de estarem errados e resgataram seu capital. Mesmo com toda a turbulência desde então, quem pegou o pior momento da queda e esperou hoje acumula um retorno de 16,73% (versus 10,98% do CDI).

Eu entendo a aflição do investidor, apesar de acreditar que uma perda, mesmo quando relevante, não é uma boa justificativa para o resgate, dado que ele deve sempre observar o longo prazo. A sensação de ver um quarto do seu capital sumindo em questão de dias, sem entender o que está acontecendo, sem ter certeza de nada, é de fato horrorosa.

Embora o cenário de hoje seja muito diferente daquele encontrado há pouco mais de dois anos, vivemos uma narrativa de mercado incerto, com aumento de juros, inflação alta e Bolsa caindo. Além disso, vemos quedas relevantes, muito superiores ao índice, mesmo entre os melhores fundos de ações do mercado brasileiro.

Ao olhar as perdas, você deve estar com um certo frio na barriga, desejando tomar a melhor atitude para seu futuro e, no momento, se manter fiel aos fundos de ações e não capitular em direção a uma renda fixa gorda é desafiador. Eu consigo imaginar essa sensação, a ansiedade batendo e seu eu interior gritando, pedindo para que você tome uma ação imediatamente.

Não é fácil, mas peço que respire fundo e se mantenha comigo.

É verdade que ninguém sabe, com certeza, quando o mercado deve retornar e com que velocidade isso pode acontecer. Porém há um entendimento comum entre os gestores de ações com quem conversamos: existem muitas ações baratas. Além de seus ótimos resultados financeiros, um outro bom indicador disso é a reabertura de alguns dos melhores fundos de ações brasileiros.

Entre os fundos multimercados, vemos gestores que ganharam muito dinheiro no primeiro trimestre, aproveitando essa alta de juros, e agora estão reduzindo o risco para analisar com calma o cenário incerto e aproveitar as novas oportunidades que podem surgir. Em toda crise há oportunidades de ganho para os multimercados, o que precisam é de paciência e agilidade para aproveitá-las.

Independentemente da classe, a visão comum do mercado é de que, no longo prazo, o momento de crise atual ficará para trás e quem estiver posicionado, com uma carteira balanceada, poderá colher os frutos dos juros altos de hoje, e de uma eventual recuperação, sem correr riscos excessivos.

O que você, investidor de fundos, precisa neste momento é confiar nas equipes altamente qualificadas, motivadas e alinhadas em capturar as oportunidades, selecionando os melhores ativos.

Caso você siga receoso, não saiba o que está acontecendo, mas gostaria de um acompanhamento e indicação de quais são os melhores fundos, nos acompanhe e te mostraremos onde está a nossa fé.

Um grande abraço,

Bruno Marchesano