Política

Farmacêutica que lucrou com “kit Covid” admite que financiou manifesto de médicos bolsonaristas

11 ago 2021, 14:19 - atualizado em 11 ago 2021, 14:19
CPI
Dados encaminhados pela própria empresa à CPI mostram que a Vitamed teve um crescimento de 1.230% entre 2019 e 2020 nas vendas de ivermectina (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

O executivo da farmacêutica Vitamed Jailton Batista confirmou à CPI da Covid, nesta quarta-feira, que a empresa financiou a publicação em jornais e revistas de um manifestado do grupo “Médicos pela Vida”, formado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e defensores do chamado “kit Covid”  um grupo de medicamentos sem eficácia contra o coronavírus, mas defendido por bolsonaristas.

Batista, que depõe nesta quarta à Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado, admitiu que a empresa pagou pela veiculação do manifesto em veículos de mídia de grande circulação. Segundo executivo, a empresa gastou 717 mil reais na veiculação.

“A Vitamed foi solicitada a dar apoio e suporte à chamada associação ´Médicos pela Vida´ no patrocínio de um documento técnico, médico, e ela o fez”, disse. “Foi apenas a publicação nos jornais de um manifesto da associação, em que a empresa assumiu o custo da veiculação.”

A Vitamed foi uma das empresas que mais se beneficiaram com a venda dos medicamentos do “kit Covid”, especialmente a ivermectina, um antiparasitário que foi apontado por bolsonaristas como uma das “curas” milagrosas para a Covid-19, apesar de estudos nacionais e internacionais não confirmarem qualquer efeito do medicamento.

Dados encaminhados pela própria empresa à CPI mostram que a Vitamed teve um crescimento de 1.230% entre 2019 e 2020 nas vendas de ivermectina.

A Vitamed, que fabrica o medicamento no país, viu suas vendas saltaram de 24,6 milhões de comprimidos em 2019 para 297,5 milhões em 2020.

O preço do produto também disparou, com o preço médio da caixa com 500 comprimidos passando de 73,87 reais para 240,90 reais, segundo as informações fornecidas pela empresa.

O manifesto dos médicos bolsonaristas defendia o chamado “tratamento precoce” com o uso de uma série de remédios sem eficácia comprovada, entre eles a ivermectina e a cloroquina.

Nenhum estudo confirmou qualquer efeito desses medicamentos na prevenção ou cura da Covid-19, mas o país enfrentou um boom de venda em ambos, que passaram a ser uma bandeira dos bolsonaristas.

Apesar de a empresa se beneficiar diretamente da ação dos médicos que receitavam a ivermectina, o executivo afirmou que não houve análise do conteúdo do manifesto. “Nós não entramos no conteúdo, no mérito do conteúdo da informação médica”, afirmou.