Famosos na política: Bom ou ruim para democracia? Cientista político responde
Não é de hoje que figuras emblemáticas na televisão, reality shows e outras carreiras de grande visibilidade surgem como candidatas para cargos políticos — e são eleitas, a exemplo disso, Francisco Everardo Oliveira Silva, ou Tiririca, que se elegeu em 2010 para deputado federal e exerce a função até hoje.
As eleições de 2022 vão definir o Presidente da República, governador, senador, deputados federais e deputados estaduais para os próximos anos, e um expressivo número de figuras já conhecidas na mídia brasileira estão se elegendo para ocupar os cargos.
Para Adrian Gurza Lavalle, Professor Doutor do Departamento de Ciência Política da FFLCH-USP e vice-diretor do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), apesar de este movimento não ser uma novidade, mudanças significativas estão ocorrendo e geram resultados mistos para a composição do poder executivo e legislativo do Brasil.
Por que famosos estão nas eleições?
Lavalle aponta que as motivações podem ser diversas, a depender de questões pessoais de cada um, mas destaca que, apesar de existir sim a possibilidade de famosos se candidatarem por quererem de fato se aplicar na política e por aptidão aos cargos, há também o interesse financeiro, com retorno garantido.
Além disso, destaca que famosos não são uma novidade, mas mudanças importantes podem ser observadas, como o fim da necessidade de um gatekeeper, ou seja, alguém que filtra as informações, tem os contatos e cuida da mediação de diversas atividades do candidato.
Hoje, Lavalle explica que o controle sobre as medidas que vão gerar visibilidade mudaram consideravelmente.
“O que mudou é o seguinte, antigamente você precisava de um partido para ter acesso às candidaturas e dependia de algum meio para se notabilizar, e os famosos tem uma grande vantagem no que chamamos de recall”, diz.
O professor e doutor em ciência política explica ainda que recall se trata da notabilidade pública, se refere ao quanto o candidato já está na cabeça do povo quando se elege.
A vantagem está justamente na notabilidade que figuras públicas tem previamente, visto que, conforme Lavalle destaca, o período de campanha eleitoral é curto, dando grande vantagem para quem já é conhecido.
Hoje, os candidatos conseguem construir sua notabilidade sem depender de instâncias que controlam esse aspecto, explica.
O poder da fama
Adrian Gurza Lavalle explica que os candidatos precisam consolidar sua imagem e se aproximar do público por meio de idas à rádio, campanhas veiculadas no horário eleitoral da TV aberta ou contar ainda com uma carreira bem sucedida em outras áreas, como no esporte, que promovia a notabilidade necessária para gerar apelo com o público.
O poder dos candidatos que já carregam consigo uma visibilidade, em proporções maiores ou menores, está justamente na potencialização desse apelo que existe antes mesmo da candidatura.
Contudo, ao ser questionado sobre este poder ser algo positivo ou negativo, Lavalle destaca que se trata de algo misto.
Isso porque nem todo candidato — mesmo que apto para a função — consegue se consolidar numa carreira que vá angariar alguma fama, o que pode prejudicar em garantir a notabilidade na sociedade.
“Hoje, essa lógica da notabilidade é muito depende das redes sociais, o que turbinou uma autonomia em que pessoas podem fazer esse movimento transversal e ter conquistabilidade para a política porque conquistam notabilidade com muita facilidade e não estão submetidos a gatekeepers”, explica.
Pontos positivos e negativos
Lavalle destaca que exigem pontos positivos na utilização das redes pelos candidatos, como a possibilidade de aproximá-los das pessoas, sem a dependência de canais como rádio e televisão.
Com isso, candidatos que não teriam conseguido furar as barreiras da TV, do rádio e dos partidos, conseguem estabelecer vínculos fortes com o público que os seguem, sendo candidatos representativos dessas pessoas, explica.
“Ao mesmo tempo, abre a possibilidade de pessoas de que pessoas sem preparação cheguem lá”, diz.
Com isso, Lavalle aponta que este movimento de famosos nas eleições geram resultados positivos e negativos, permitindo que ativistas de causas importantes para a sociedade usem da notabilidade pública para exercer função política, enquanto também dá abertura para quem se elege pela notoriedade que tem, mas sem realizações significativas para a sociedade.
Quem pode se eleger?
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), são elegíveis aos cargos de deputado federal, estadual ou distrital, prefeito, vice-prefeito e juiz de paz pessoas com:
- nacionalidade brasileira;
- o pleno exercício dos direitos políticos;
- alistamento eleitoral;
- o domicílio eleitoral na circunscrição;
- filiação partidária; e
- idade mínima de 21 anos.
Os famosos nas eleições
Os famosos presentes nas eleições já declararam seus bens ao TSE, confira a lista com candidatos já com visibilidade concorrendo aos cargos políticos e o patrimônio declarado por cada um.
Sarah e Márcio Poncio (Pros)
Sarah Poncio é influenciadora digital, acumulando 4,7 milhões de seguidores apenas no Instagram, e é candidata para deputada estadual pelo Rio de Janeiro. Sua campanha será com seu pai, Márcio Poncio, que vai disputar para deputado federal.
O patrimônio declarado por Sarah Poncio ao TSE foi de R$ 2 milhões. A lista de bens conta com 4 imóveis, o mais caro avaliado em aproximadamente R$602 mil, o segundo avaliado em R$550 mil e os outros dois com valores mais baixos, avaliados em R$ 300 mil e R$110 mil.
Já seu pai, Márcio Poncio, declarou patrimônio de R$ 1.037.323,71.
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Marcos Uchôa (PSB)
Marcos Uchôa é jornalista, com mais de 30 anos de carreira na Globo, onde cobriu grandes eventos esportivos. Sua candidatura é para deputado federal pelo Rio de Janeiro.
O jornalista declarou ao TSE o total de R$ 2.200.000,00 em bens.
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Felipe Folgosi (PL)
Felipe Folgosi ganhou fama com participação em novelas da Globo nos anos 1990, além de ter participado do reality show a Fazenda, da Record.
A candidatura é para deputado federal e declarou patrimônio de R$825.213,00, composto por imóvel, investimento em renda fixa, automóveis, entre outros.
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Maurício Souza (PL)
Na lista de famosos nas eleições, Maurício Souza é ex-jogador do vôlei brasileiro, candidato a deputado federal por Minas Gerais.
Os bens declarados totalizaram R$305.000,00.
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Mário Gomes (Republicanos)
Mário Gomes é ator, tendo se destacado em diversas novelas da Globo ao longo de sua carreira. A candidatura é para deputado estadual do Rio de Janeiro.
Segundo consulta no TSE realizada nesta terça-feira (16), às 14h12, a lista de bens ainda não foi cadastrada.
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Antônia Fontenelle (Republicanos)
Antônia Fontenelle é youtuber e apresentadora de um talk show na Jovem Pan News. A candidatura é para deputada federal pelo Rio de Janeiro.
Ao TSE, Fontenelle declarou patrimônio de R$25.000,00.
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Netinho (PL)
O cantor Netinho ganhou fama nos anos 90, com a música “Milla”, e anunciou candidatura para deputado federal pela Bahia.
O total em bens declarado foi de R$75.600,00.
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