Famílias de Mianmar enterram entes queridos, e ativistas desafiam repressão
As famílias de dezenas de pessoas mortas em manifestações contra o governo militar de Mianmar enterraram seus entes queridos nesta terça-feira enquanto mais manifestantes desafiavam as forças de segurança, e ao menos um homem foi morto a tiros.
A crise política e econômica causada pela deposição do governo eleito liderado por Aung San Suu Kyi no dia 1º de fevereiro também pode provocar fome entre os pobres, que enfrentam aumentos nos preços dos alimentos e combustíveis em todo o país, alertou a agência de alimentos das Nações Unidas.
Na segunda-feira, forças de segurança mataram a tiros ao menos 20 pessoas, e 74 foram mortas no dia anterior, muitas em um subúrbio de Yangon em que fábricas financiadas pela China foram incendiadas, de acordo com a Associação de Assistência a Prisioneiros Políticos (AAPP).
Também nesta terça-feira, um crematório de Yangon relatou 31 velórios, segundo uma pessoa presente em uma cerimônia.
Centenas de jovens foram às ruas no velório de Khant Nyar Hein, estudante de Medicina que foi morto em Yangon no sábado, o dia mais sangrento dos protestos.
“Deixem eles me matarem agora, deixem que me matem, ao invés do meu filho, porque não aguento mais”, ouve-se a mãe do estudante dizer em um vídeo publicado no Facebook.
Os jovens gritaram: “Nossa revolução precisa prevalecer”.
Algumas famílias disseram à mídia que as forças de segurança apreenderam os corpos de entes queridos, mas que mesmo assim realizariam velórios.
Ao menos 184 pessoas foram mortas pelas forças de segurança durante as semanas de protestos, disse a AAPP, e este número aumentou nesta terça-feira quando um manifestante foi baleado na cidade central de Kawlin, segundo um morador.
Pessoas ergueram fotos de Suu Kyi e pediram o fim da repressão durante um protesto modesto em Dawei, cidade pequena do sul do país, nesta terça-feira, noticiou o veículo de notícias Dawei Watch. Não houve relatos de violência.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, está chocado com a violência crescente e pediu que a comunidade internacional ajude a acabar com a repressão, disse seu porta-voz, e os Estados Unidos também criticaram o derramamento de sangue.
A emissora estatal MRTV disse que a lei marcial foi imposta em partes de Yangon e que comandantes militares assumirão a administração de distritos e tribunais.