Falta de contêineres atrasa exportações de safra recorde de café do Brasil
Vendedores de café têm sofrido para embarcar cargas a partir de portos no Brasil devido à escassez de contêineres ou espaços disponíveis em navios, disseram operadores de mercado e analistas.
A economia brasileira tem sido fortemente impactada pela pandemia de coronavírus, o que levou a uma desvalorização de 40% no real e impulsionou um forte fluxo de exportações, mas reduziu significativamente importações.
Isso gerou um desequilíbrio no mercado de contêineres que tem atrasado embarques de café, setor em que o Brasil responde por cerca de 30% do comércio global e é o maior exportador.
Segundo a consultoria Datamar, de dados de navegação, houve um desequilíbrio de quase 80 mil unidades na movimentação de contêineres no Brasil em agosto. Foram quase 251 mil contêineres deixando o país e apenas 172 mil chegando.
Em janeiro, eram registradas as chegadas de 216 mil contêineres e a partida de 201 mil.
Empresas globais de navegação como MSC e Maersk estão com programação de embarques cheia por até meses no Brasil.
Segundo comerciantes, não é viável atualmente exportar café brasileiro com embarque imediato, uma vez que isso só é possível com custos mais altos.
“Eu vendi café para um cliente na Espanha e ainda estou esperando a MSC disponibilizar contêineres para embarcar”, disse o sócio da exportadora de café Coffee Selection, Nelson Salvaterra.
A MSC, procurada por meio da assessoria de imprensa, não confirmou a informação e disse que não iria comentar. A Maersk disse que está trabalhando para aumentar a oferta de contêineres disponíveis.
“É claro que o setor de café está entrando na temporada de pico”, disse o gerente geral da Maersk para a costa leste da América do Sul, Julian Thomas. Segundo ele, é importante que os produtores deem antecipadamente visibilidade sobre quando movimentarão seus estoques.
Ele acrescentou que não há mais disponibilidade para embarques em outubro.
O café, diferente de outras commodities agrícolas como o açúcar, é exportado em contêineres ao invés de grandes navios graneleiros.
O sócio da importadora norte-americana Wolthers Douque, Christian Wolthers, disse que conseguiu encontrar contêineres para embarques para fora do Brasil, mas não espaço em navio– e sua mercadoria foi deixada no porto para ser carregada por uma outra embarcação.
O superávit comercial do Brasil saltou para 6,16 bilhões de dólares em setembro, ou 38% acima do visto no mesmo período do ano passado, em meio ao enfraquecimento do real.
Produtores rurais do Brasil correram para vender suas safras com o dólar mais alto, ampliando exportações, umas vez que assim recebem mais reais por seus produtos.
Exportações de café agendadas com antecedência, no entanto, estão sendo processadas sem muito problema, disseram operadores de mercado.
Eles destacaram, no entanto, que algumas cargas do Brasil podem levar mais tempo para chegar, o que significa que comerciantes globais poderão precisar substituí-las por ofertas de outros países.