Facebook (FBOK34): O que aprender com a queda das ações da Meta
A Meta (FBOK34), novo nome da empresa dona do Facebook, esteve nos holofotes na última semana ao registrar o indesejado recorde histórico de perda de valor de mercado na bolsa americana: US$ 251 bilhões em um único dia, reflexo do tombo de 26% das ações.
Não almejo discutir ou fazer juízo da tempestade que atingiu em cheio a big tech fundada por Mark Zuckerberg. Meu foco aqui é falar sobre uma notícia também relacionada à derrocada das ações da Meta, mas que pode trazer aprendizado sobre fortes quedas, perdas e mudanças de cenários:
Afinal, Eduardo Saverin realmente perdeu R$ 25 bilhões?
O título da matéria cumpre com a função de chamar atenção do público. Mas tal manchete evoca um erro comum ao induzir certa confusão entre as variáveis fluxo e estoque.
Em economia, aprendemos que variáveis de fluxo são mensuradas durante um intervalo temporal. O Produto Interno Bruto (PIB) é um exemplo, pois mede o quanto foi gerado de valor durante certo período, seja mensal, trimestral ou anual. O mesmo conceito pode se aplicar aos resultados de operações em bolsa, que em determinados períodos geram ganhos ou perdas. Já as variáveis de estoque têm mensurações que extrapolam um arco temporal. Um bom exemplo é a mensuração do patrimônio de uma pessoa ou o valor de mercado de uma companhia, que, de um período para o outro não partem do zero, mas transpassam o horizonte temporal.
Assim, o estoque de ações do cofundador da rede social segue o mesmo, ou seja, continua com igual número de papéis e percentual do capital social da empresa. O que houve foi uma considerável alteração no valor de mercado momentâneo desse estoque, mas sem que tenha ocorrido qualquer movimentação de recursos que gerasse efetivamente um fluxo de perdas ou ganhos de dinheiro.
Vou dar outro exemplo, ainda mais prático no nosso dia a dia. Na declaração anual de imposto de renda, temos que informar os mesmos dados, em categorias diferentes. Observe que os resultados das operações são registrados em “Renda Variável > Operações Comuns / Day-Trade”, contabilizadas mensalmente para as operações/posições encerradas no período, enquanto o valor patrimonial é acompanhado em “Bens e direitos” ao final de cada ano fiscal.
Tudo para chegarmos naquele famigerado dito característico do mercado: “só realiza o prejuízo quem efetivamente encerra posição”, isto é, comprou e vendeu o ativo, independentemente da ordem das operações.
Quanto uma queda como a do Facebook mexeria com você?
Agora vamos trazer o debate para nosso mundo de reles mortais investidores. Como você se sente, ou se sentiria, caso uma de suas ações caísse 26% em um único pregão? Indo mais além: o que você faria, ou deveria fazer, caso estivesse diante de tal situação?
Como bom (!?) economista, eu daria a resposta que aprendemos desde a graduação: depende.
Para ajudar a desfazer a dúvida – ou “não-resposta” dada por muitos economistas -, creio que seja necessário responder às perguntas abaixo:
1. Há necessidade de liquidez no momento? Ou seja, precisa se desfazer do ativo para utilizar o dinheiro em outro objetivo?
2. Diante das novas informações, os drivers que te levaram a comprar a ação se alteraram a ponto de mudar a avaliação de que a ação valerá mais no futuro do que no presente?
Se você responder “Não” para ambas, me parece lógico que o melhor a se fazer é permanecer com a posição, independentemente se está perdendo 10% ou 90%. Se houver pelo menos um “Sim” em suas respostas, é necessário e razoável que tenha chegado a hora de realizar o prejuízo. Importante que a decisão de mudança de rumo não seja acompanhada do sentimento amargo de perda ou da decisão errada. Não é justo o martírio do julgamento por decisões a posteriori, a partir de informações relevantes não disponíveis quando tomou a decisão anterior pelo investimento no ativo agora tido como tóxico.
No fim, o que vale são os fundamentos que fizeram você escolher o ativo no qual investiu. Se um fato mudou suas perspectivas a ponto de tornar o investimento não tão atrativo quanto inicialmente vislumbrado, pode ser natural e necessária a alteração na alocação dos seus recursos financeiros.
Alexsandro Nishimura é economista, head de Conteúdo e sócio da BRA, escritório credenciado da XP Investimentos. É formado pela UFF e possui MBA em Finanças pelo IBMEC. É planejador financeiro certificado (CFP®️) e responsável pela produção e distribuição de conteúdo aos clientes da BRA. Atua no mercado financeiro desde 2005, dedicado à produção de conteúdo para investidores pessoa física. Iniciou carreira na área de consultoria, na Lopes Filho & Associados, onde atuou como analista de investimentos, montagem de carteiras recomendadas e análise de fundos de investimentos imobiliários. Foi Head de Conteúdo da MyCAP Investimentos, operação brasileira dedicada à pessoa física da maior corretora do mundo, a TP ICAP, em que era o responsável pelos departamentos de Research e Marketing.