CryptoTimes

Fabrício Alexandre: o halving de 2020 e uma mensagem (quase) secreta para a posteridade

27 maio 2020, 11:01 - atualizado em 27 maio 2020, 11:01
Os mineradores que asseguram a funcionalidade da rede Bitcoin já deixaram mensagens ocultas nas transações; o que significam? (Imagem: Pixabay/geralt)

3 de janeiro de 2009 essa é uma data memorável para todos os entusiastas das criptomoedas. Foi nesse dia que o primeiro bloco da rede Bitcoin foi minerado. O bloco inicial, conhecido também como “bloco gênese”, continha uma mensagem de alerta para seus futuros usuários:

The Times 03/Jan/2009 Chancellor on brink of second bailout for banks” (ou, em tradução livre, “The Times 03/Jan/2009 Chanceler à beira do segundo resgate aos bancos”).

Bloco gênese continha uma mensagem importante, dando o pontapé inicial para a revolucionária tecnologia cripto (Imagem: Bitcoin.com)

A mensagem era a manchete do jornal The Times daquele dia. Mais do que um simples registro para a prova cronológica do lançamento da rede, a frase parece ser um grande protesto.

Também se parece com um recado sobre a forma de gerenciamento de crises dos governos e bancos centrais: emitindo mais e mais dinheiro estatal.

A matéria de jornal, mencionada no bloco gênese, relata que Alistair Darling, na época chanceler do exército do Reino Unido, estava considerando um segundo resgate para os bancos do Reino Unido.

Em termos mais claros, segundo o The Times, esse resgate poderia ser feito com a injeção de bilhões na economia, ação que acabou se concretizando um ano após a notícia.

O bitcoin é mais confiável que o sistema monetário tradicional, pois a pré-definição da quantidade total de moedas a serem emitidas não é controlada por um órgão governamental, como o Fed (Imagem: Freepik)

O bitcoin, em vez de seguir o modelo econômico de emissão ilimitada, optou por um protocolo em que o fornecimento de novas unidades cai pela metade a cada quatro anos.

Seu modelo inflacionário já está programado, não depende da aprovação de nenhuma organização e nem mesmo da própria comunidade.

Diferente de políticos e governos que fazem promessas vazias e não honram com suas palavras, a rede Bitcoin usa a matemática e a criptografia para assegurar que o modelo econômico proposto será seguido.

Por isso, ela é segura e não há grandes chances de alterações em sua forma de emitir moedas, que possui taxas decrescentes ao passar dos anos.

No início, a cada grupo de registros feitos na rede, eram gerados 50 bitcoins. A primeira redução aconteceu em 2012, quando a recompensa passou a ser de 25 bitcoins por bloco (o famigerado halving).

Um segundo halving aconteceu em 2016, reduzindo a emissão de bitcoins por bloco de 25 para 12,5 unidades. O terceiro aconteceu neste mês de maio de 2020, reduzindo para 6,25 a recompensa por bloco.

No último bloco antes do halving de maio deste ano, uma mensagem chamou a atenção. A empresa F2Pool, que minerou o bloco, gravou uma mensagem no registro do bloco:

NYTimes 09/Apr/2020 With $2.3T Injection, Fed’s Plan Far Exceeds 2008 Rescue” (em tradução livre: “NYTimes 09/Apr/2020 Com a impressão de $2.3 Trilhões, o plano do Fed é muito maior que de 2008”).

F2Pool aproveitou a mineração do bloco pré-halving, de número 629.999, para incluir outra mensagem sobre estímulos monetários dos EUA (Imagem: Blockchair)

Caso você queira ver a mensagem, basta clicar aqui. Você será levado a um explorador de blocos e verá o último bloco antes do halving, de número 629.999.

Afinal, o que diz na matéria que inspirou a mensagem registrada no bloco? Por mais que a manchete diga muito sobre o assunto, é bem interessante lermos todo o texto.

Nele, vemos que as medidas do Fed para conter a crise gerada pela COVID-19 vão muito além daquelas adotadas na crise financeira de 2008 e expandem seus esforços, já significativos, para acalmar os mercados.

O Fed já havia distribuído cerca de US$ 500 bilhões em programas de empréstimos de emergência. As novas ações propostas prometem injetar mais do que quatro vezes este valor.

Um dos termos mencionados na comunidade cripto é “descentralização”, que consiste em retirar o controle central, quando o funcionamento da rede é garantido pela comunidade que o utiliza (Imagem: Crypto Times)

Agora você consegue entender a importância da mensagem, quase escondida, no último bloco antes do halving? É um novo alerta, para chamar a atenção ao recorrente método dos bancos centrais de emitir moeda estatal para tentar conter crises.

Mais que isso, a frase nos faz refletir sobre o protocolo Bitcoin, que diminuiu sua oferta logo num momento de impressões recordes de moeda fiduciária.

Apesar de recorrentes questionamentos sobre preço, que ainda é muito volátil, o bitcoin tem emissão previsível e decrescente e, com isso, fica fácil perceber que as chances de valorização a longo prazo são reais.

Além disso, é mais fácil nos sentirmos independentes ao possuir uma moeda que não é controlada por governos e não pode ter a emissão de grandes volumes por bancos centrais, não é mesmo?

Ninguém pode dar certezas sobre os preços futuros sobre nenhuma criptomoeda. Mas é importante perceber que o bitcoin vai além do aspecto financeiro.

Ele nos ajuda a identificar pontos falhos dos sistemas econômicos tradicionais e propõe, de forma prática, um caminho para que não sejamos tão prejudicados pelas ações de resgate e programas assistenciais dos governos.

Afinal, muitas dessas ações envolvem emissão de dívida, que pode ser financiada com a impressão de dinheiro que, consequentemente, podem gerar uma aceleração do crescimento da taxa de inflação.

Fabrício Alexandre é entusiasta de criptomoedas, tendo trabalhado em vários projetos blockchain em diversas partes do mundo. Está sempre buscando oportunidades de participação de novos projetos inovadores neste setor e, atualmente, é integrante do time da Criptomaníacos.