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Fabrício Alexandre: Bitcoin, um sistema inflacionário ou deflacionário?

22 abr 2020, 14:58 - atualizado em 22 abr 2020, 15:12
Vamos relembrar como o Bitcoin funciona, para que possamos decidir em que lado ele melhor se enquadra: inflação ou deflação? (Imagem: Freepik)

Considerando o tempo de vida das criptomoedas, o ambiente em que se encontram ainda é relativamente novo e tem um longo caminho a percorrer até que atinja certo grau de maturação.

Aqui no Brasil, apesar de haver uma forte comunidade que usa, estuda e é entusiasta de criptomoedas, o potencial dessa nova tecnologia ainda está bem longe de seu pleno potencial. E essa realidade é replicada em quase todo o mundo.

A fim de explicar alguns termos técnicos e essenciais da rede Bitcoin e do ecossistema cripto em geral, algumas convenções de nomes são usadas para facilitar o entendimento por pessoas que não possuem um grande conhecimento sobre desenvolvimento, engenharia de softwares e, até mesmo, economia.

Alguns desses termos soam um pouco confusos, outros possuem traduções para o português que não corroboram com a popularização da tecnologia e há, também, os que sequer são traduzidos.

Falar de “halving”, “staking”, “swapping” ou “proof-of-work” é comum entre a comunidade, mas você sabe o que essas palavras significam?

Este artigo não visa esclarecer cada palavra citada, mas sim mostrar que não são muito intuitivas para novos usuários. Para aprender os conceitos, basta você acompanhar os futuros artigos desta coluna.

Bitcoin não é uma moeda deflacionária, pois seu sistema pré-definido evita que haja emissão desenfreada e, assim perda de seu valor (Imagem: Freepik/starline)

Os problemas de entendimento e tradução ainda não são os piores: existe, por exemplo, um conceito associado ao Bitcoin que é passível de questionamento, e é sobre ele que vamos falar aqui.

É amplamente difundido que o bitcoin é uma moeda deflacionária. Basta você fazer uma pesquisa rápida pelo Google, em qualquer linguagem, para encontrar essa associação, bem aceita aceita pela comunidade.

Segundo o Dicionário Online de Português, “deflação é o ato ou efeito de pôr um freio ou de deter o ímpeto da inflação através de medidas monetárias (redução da massa monetária) ou financeiras (enquadramento do crédito, controle de preços, etc.)”.

A deflação tem, como consequência, a queda de preços, já que é normalmente associada a uma diminuição na oferta de moeda e crédito na economia. Por isso, a deflação causa o aumento do poder de compra com o passar do tempo.

Para melhor entender o que é deflação, podemos também recorrer ao termo “inflação”, com o intuito de compararmos essas palavras.

Segundo o mesmo dicionário, “inflação é o aumento geral, sistemático e contínuo dos preços que, juntamente com a diminuição do poder aquisitivo da população, provoca uma enorme desvalorização do dinheiro”.

Sendo assim, a inflação é aquela taxa, geralmente mostrada em porcentagem, que mede o aumento de preços durante um período de tempo.

Quanto mais uma moeda é emitida, mais parece que existe dinheiro na economia, o que pode fazer com que tudo se torne mais caro (Imagem: Freepik)

Um dos motivos que levam à inflação é o aumento da oferta de uma moeda na economia, já que, com mais dinheiro disponível para os indivíduos, o sentimento positivo do consumidor o leva a gastar mais. Isso aumenta a demanda e, consequentemente, aumenta o preço de bens e serviços.

Essa maior oferta monetária pode acontecer pela impressão de dinheiro por governos e bancos centrais, sendo o modelo usado pelo sistema fiduciário tradicional. Se quiser conhecer exemplos sobre esse assunto, leia meu artigo anterior para esta coluna.

Considere a deflação como uma medida que pode ser contrastada com a inflação. Do lado oposto, a deflação se relaciona com a redução de oferta de uma moeda, significando aumento de poder de compra e redução de preços.

Agora que temos boas definições básicas dos termos, vamos relembrar como o Bitcoin funciona, para que possamos decidir em que lado ele melhor se enquadra?

A rede Bitcoin emite moedas numa taxa controlada e prevista desde o início de sua criação. Atualmente, em abril de 2020, 1.800 unidades são extraídas por dia, num processo chamado de mineração.

A cada quatro anos, essa taxa é reduzida pela metade, num processo chamado de “halving” (agora você já vai saber o que significa uma daquelas palavras difíceis do início do artigo).

Espera-se que o “halving” do bitcoin, redução pela metade na taxa de recompensa a mineradores da rede Bitcoin, aconteça na primeira quinzena de maio (Imagem: Crypto Times)

Neste ano de 2020, vamos passar por um processo de “halving”, em que o número de emissão de novas moedas cairá para 900 bitcoins por dia. No ano de 2140, esse sistema de extração de bitcoins na rede será eliminado por completo. Também abordei esse tema no meu artigo anterior.

Com todas essas informações em mãos, nos cabe refletir e definir se a política monetária do protocolo Bitcoin se enquadra como inflacionária ou deflacionária.

Aqui, demonstro um ponto de vista por meio dos argumentos, sendo que não cabe, a mim, rotular como errada uma visão diferente da minha. Estou apenas usando o conceito que acredito ser o mais adequado e de fácil entendimento.

Ao lermos o conceito de deflação, vimos que é um termo que descreve meios de frear a inflação, assim como detê-la. Geralmente, isso é feito ao reduzindo a oferta de uma moeda.

Durante o artigo, relacionamos deflação com expressões como “redução da massa monetária” e “diminuição na oferta”.

Ao compararmos essas ideias, descrições e expressões com o modelo proposto pelo Bitcoin, uma forte dúvida aparece: será que o protocolo de emissão realmente freia e detém a inflação, reduzindo sua oferta, ou somente a controla?

Por outro lado, ao olharmos o conceito de inflação, vemos que a forma de emissão do Bitcoin foi pensada para que não haja uma diminuição do poder de compra ou desvalorização nos moldes dos sistemas monetários tradicionais. Portanto, questionamentos também aparecem quando tentamos relacionar esse conceito ao Bitcoin.

O Bitcoin possui um sistema inflacionário controlado, com taxas decrescentes de emissão, em que a extração de novas moedas acontece de maneira previsível ao longo do tempo (Imagem: Unsplash/@silverhousehd)

Pelos motivos e indagações elencados acima, prefiro ficar com uma definição que não se resume em uma só palavra: o Bitcoin possui um sistema inflacionário controlado, com taxas decrescentes de emissão, em que a extração de novas moedas acontece de maneira previsível ao longo do tempo.

Esse modelo de inflação, controlado e decrescente, é inteligente, uma vez que prevê uma maior adoção desse sistema monetário digital. Sendo assim, mais moedas são extraídas com o objetivo de ofertá-las ao mercado, além de funcionarem como recompensa aos mineradores da rede.

Ao mesmo tempo, essa oferta é pequena o suficiente para trazer boa perspectiva de valorização para a moeda. Um sistema estritamente controlado de inflação, somado a uma adoção crescente, tende a pressionar o preço do ativo para cima.

O misterioso criador do Bitcoin, Satoshi Nakamoto, criou um sistema eficaz, que previa as mudanças de cenário que poderiam ocorrer no mundo.

Assim, ele conseguiu fazer com que a criptomoeda não perdesse notoriedade com o passar dos anos, num modelo inflacionário controlado, com taxas decrescentes de emissão.

E você? Concorda com essa abordagem que considera que o Bitcoin possui um sistema inflacionário com taxas decrescentes de emissão? Fique à vontade para me contactar pelo Telegram e dar suas opiniões sobre o artigo.

Espero você em nosso próximo artigo!

Fabrício Alexandre é entusiasta de criptomoedas, tendo trabalhado em vários projetos blockchain em diversas partes do mundo. Está sempre buscando oportunidades de participação de novos projetos inovadores neste setor e, atualmente, é integrante do time da Criptomaníacos.