Internacional

Êxodo aumenta em Hong Kong, mas sair de lá é caro por causa de política Covid Zero

19 fev 2022, 19:00 - atualizado em 19 fev 2022, 2:25
O crescente isolamento da cidade do resto do mundo faz com que aqueles que desejam sair de Hong Kong precisem conciliar voos cancelados, taxas astronômicas e caos logístico (Imagem: Pixabay)

Depois de chamar Hong Kong de lar por 30 anos, Tina, uma mãe autônoma, está desistindo da cidade e se mudando para Portugal. Mas com 10 voos reservados para a Europa cancelados no ano passado, suas dificuldades mostram como a política Covid Zero de Hong Kong faz com que sair seja quase tão difícil quanto entrar.

Tina reservou passagem em um voo para Amsterdã na primeira semana de março e já avisou sobre sua saída ao proprietário do apartamento que aluga. Além do estresse com a possibilidade de ter outro voo cancelado, ela também precisa evitar pegar o coronavírus em meio ao pior surto da cidade até agora, pois um contágio pode atrasar sua saída por semanas devido às regras de quarentena.

Com mais de dois anos de restrições da Covid e sem uma previsão de término, além de uma repressão política cada vez mais profunda, o número de pessoas que deixa o centro financeiro asiático para sempre tem aumentado constantemente — mas muitos descobrem que sair não é uma tarefa fácil.

O crescente isolamento da cidade do resto do mundo faz com que aqueles que desejam sair de Hong Kong precisem conciliar voos cancelados, taxas astronômicas e caos logístico. Por isso, alguns até recorrem a jatos particulares.

“Estou completamente, emocionalmente, sobrecarregada”, disse Tina, que pediu para não ser identificada pelo nome completo. “Se este voo for cancelado, fico sem-teto com meu cachorro. Se algo der errado, isso afetará todo o meu planejamento para a viagem.”

Aeroporto vazio

Mesmo com mais países, incluindo a rival regional Singapura, mudando o posicionamento para retomar viagens e conviver com o vírus, Hong Kong fortaleceu a política de Covid Zero. Essa estratégia, que há tempos exige semanas de quarentena para quem chega, está se tornando mais rigorosa enquanto a cidade enfrenta um aumento de infecções que atingiu mais de 6.000 casos diários.

Agora, enquanto o governo planeja testar toda a cidade de 7,5 milhões de habitantes e procura usar cerca de 10.000 quartos de hotel como instalações de isolamento, algumas pessoas aceleram os planos de ir embora, já que a ameaça de terem de ficar em quarentena se acentua. O número de chegadas permaneceu na casa das centenas, enquanto as partidas saltaram para 3.100 por dia, níveis não vistos desde que Hong Kong acrescentou regras de quarentena para quem chega desde março de 2020.

O principal regulador do mercado de Hong Kong alerta que o desenvolvimento da cidade como centro financeiro internacional está em risco depois que a agência perdeu 12% de seus funcionários no ano passado. Um relatório recente da Câmara de Comércio Europeia na cidade disse que o isolamento de Hong Kong pode durar até 2024 e que antecipa um êxodo sem precedentes de estrangeiros como resultado.