Exigência da Rússia por garantia de segurança dos EUA pode prejudicar negociações nucleares, diz autoridade do Irã
A exigência da Rússia de uma garantia por escrito dos Estados Unidos de que sanções contra Moscou não prejudicarão a cooperação russa com o Irã não é “construtiva” para as negociações entre Teerã e potências globais para ressuscitar o acordo nuclear de 2015, disse uma autoridade sênior iraniana à Reuters neste sábado.
O anúncio feito pela Rússia, que pode dinamitar meses de intensas conversas entre Teerã e Washington em Viena, chegou pouco depois de Teerã dizer que havia concordado com o órgão supervisor nuclear da ONU por um roteiro para resolver questões pendentes que podem ajudar a garantir um pacto nuclear.
“Os russos colocaram essa exigência na mesa (nas negociações de Vienna) há dois dias. Há um entendimento de que, ao mudar sua posição nas conversas em Viena, a Rússia quer garantir seus interesses em outros locais. Essa medida não é construtiva para as negociações nucleares de Viena”, disse a autoridade iraniana em Teerã.
Exigindo garantias por escrito dos EUA de que as sanções do Ocidente impostas à Rússia por causa do conflito na Ucrânia não prejudicariam sua cooperação com o Irã, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, disse que as limitações se tornaram um obstáculo para o acordo nuclear com o Irã, alertando o Ocidente que os interesses nacionais da Rússia teriam que ser levados em consideração.
Lavrov afirmou que as sanções à Rússia pelo conflito na Ucrânia criaram um “problema”, na perspectiva de Moscou.
Ao ser questionado se a demanda da Rússia prejudicaria onze meses de conversas entre Teerã e potências mundiais, incluindo a Rússia, o Diretor de Projeto do Irã no Grupo Internacional de Crise, Ali Vaez, disse:
“Ainda não. Mas é impossível segregar as duas crises por muito tempo”.
“Os EUA podem emitir uma isenção para o trabalho relacionado à transferência de excesso de material físsil para a Rússia. Mas é um sinal de que a mistura das duas questões começou”, disse Vaez.
Todos os lados envolvidos nas conversas de Viena disseram na sexta-feira que estavam próximas de chegar a um acordo.
“Concordamos em fornecer a IAEA (Agência Internacional de Energia Atómica) até o fim do (mês iraniano do) Khordad (21 de junho) documentos relacionados às questões pendentes entre Teerã e a agência”, disse o chefe de assuntos nucleares do Irã, Mohammad Eslami, em uma entrevista coletiva conjunta com o chefe da IAEA, Rafael Grossi.
Grossi chegou em Teerã na sexta-feira para discutir uma das últimas questões espinhosas a bloquear ressurreição do pacto, que em troca do fim de sanções econômicas limitou o enriquecimento de urânio do Irã, tornando mais difícil que o Irã desenvolva material para armas nucleares.
“É importante ter esse entendimento… trabalhar junto, trabalhar de maneira muito intensa”, disse Grossi em uma entrevista coletiva pela televisão.