Executivos da Huawei tinham ligações com empresa no centro de processo criminal dos EUA
Uma obscura empresa registrada em Hong Kong está no centro do processo criminal norte-americano contra a chinesa Huawei Technologies e sua vice-presidente financeira.
Autoridades dos Estados Unidos alegam que a fabricante de equipamentos de telecomunicações usou a empresa para contornar sanções econômicas dos EUA ao Irã entre 2007 e 2014. A Huawei disse que vendeu o negócio em 2007 e nega qualquer delito.
Agora, a Reuters descobriu no Brasil ligações não divulgadas anteriormente entre a Huawei e a empresa, Skycom Tech, que poderia oferecer suporte ao caso dos EUA contra a companhia e Meng Wanzhou, sua vice-presidente financeira e filha de seu fundador.
Registros corporativos submetidos no Estado de São Paulo mostram que a Huawei e a Skycom estiveram estreitamente ligadas no Estado por cinco anos depois que a Huawei vendeu suas ações na Skycom em 2007.
Até o final de 2007, dois outros executivos de alto escalão da Huawei também tinham laços estreitos com a Skycom, como mostram os documentos arquivados no Brasil e em Hong Kong.
Ambos os homens – Ken Hu e Guo Ping – atualmente são vice-presidentes da Huawei e se alternam como presidente da empresa. Guo agora tem o papel de presidente.
O caso é parte de uma campanha global de Washington para controlar o poder da Huawei, uma frente na crescente disputa entre os EUA e a China.
Os EUA têm feito lobby com seus aliados para evitar o uso de equipamentos da Huawei em suas redes de telecomunicações móveis de próxima geração, ou redes 5G.
Washington argumenta que a China poderia usar a tecnologia para atacar a infraestrutura crítica e comprometer o compartilhamento de inteligência, alegações negadas pela Huawei e pela China.
A Huawei não quis comentar esta reportagem.
Até agora, apenas as atividades de negócios da Skycom no Irã receberam atenção pública. Mas os registros da empresa em São Paulo mostram que a Skycom também teve uma presença pouco conhecida no Brasil entre 2002 e 2012.
Os registros mostram que Hu estava baseado em São Paulo em maio de 2002, quando a Skycom adquiriu uma pequena participação na Huawei Brasil, da qual ele era então gerente. O perfil de Hu no LinkedIn afirma que ele também foi presidente da região da América Latina da Huawei naquela época.
Mais tarde, Hu deixou o Brasil, mas estabeleceu outro vínculo com a Skycom. Os registros da empresa de Hong Kong mostram que, em 2007, Hu e Guo eram diretores de uma afiliada da Huawei, Hua Ying Management, que era proprietária da Skycom.
A Hua Ying transferiu suas ações da Skycom para outra empresa naquele ano. Meng estava listado na época como secretário corporativo de Hua Ying.
Documentos apresentados por autoridades norte-americanas no processo criminal dos EUA descrevem a transferência de ações como essencialmente uma transação fictícia e que a Huawei continuou a controlar a Skycom como “uma subsidiária não oficial”.
Hu, Guo e Meng estão atualmente listados como os três diretores da Hua Ying no registro de empresas de Hong Kong.
Hu, que também é conhecido como Hu Houkun, e Guo não foram citados no processo dos EUA. Suas ligações com a Skycom e suas atividades no Brasil não foram reportadas anteriormente.
As estreitas ligações da Huawei com a Skycom no Irã após a suposta venda de 2007 foram documentadas anteriormente pela Reuters. Os documentos brasileiros, arquivados na Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp), mostram até que ponto Huawei e Skycom também continuaram estreitamente ligadas no Brasil por mais cinco anos.
Por exemplo, em julho de 2008, as duas acionistas da Huawei Brasil na época – a Skycom e uma afiliada da Huawei chamada Huawei Tech Investment – nomearam cada uma a mesma pessoa chinesa para representá-las na Huawei Brasil. Os documentos também mostram que Meng, então integrante dos conselhos de administração de ambas as sociedades, autorizou as indicações.
Durante a década da Skycom como acionista da Huawei Brasil até 2012, a Skycom sempre foi representada na empresa brasileira por pessoas que também representavam os interesses da Huawei, mostram os documentos.