Ex-trader do JPMorgan vende geleia e inspira outros italianos
Depois de quatro anos nas trincheiras como operador em Londres para empresas como o JPMorgan Chase, Andrea Tagliabue sentiu que já não podia mais. Agora, a história de como ele fez as malas e voltou para a Lombardia, onde nasceu, inspira outros italianos que querem deixar o emprego.
Tagliabue, que aprendeu sozinho a cultivar morangos e apostou suas habilidades na badalada marca de “spreads” e sucos Banker’s Jam, ganhou destaque na mídia italiana. O ex-banqueiro diz que foi inundado com perguntas de funcionários cansados – incluindo alguns ex-colegas de finanças – que querem deixar as mesas de trading e sujar as mãos de terra.
De fato, cada vez mais italianos estão repensando suas carreiras e objetivos de vida. Assim como a tendência vista nos Estados Unidos, pedidos de demissão atingiram níveis recordes na Itália, com um salto de 85% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com dados mais recentes.
A taxa de pedidos de demissão – demissões voluntárias em relação ao total de funcionários – subiu para 2,12%, o maior nível em pelo menos cinco anos, segundo o think tank lavoce.info.
Mas a versão italiana dessa tendência vem com um toque local, com foco na cultura gastronômica do país e raízes agrárias.
O número de empresas agrícolas administradas por pessoas com menos de 35 anos cresceu 14% no ano passado, segundo a associação Coldiretti, com o aumento impulsionado por empresários de outros setores que passaram a trabalhar em agricultura pela primeira vez.
Tagliabue, que fundou a Banker’s Jam em 2018, foi um deles. “Eu disse a mim mesmo: chega de estresse, horas malucas de trabalho”, disse o agora empresário, de 33 anos. “Agora trabalho para mim mesmo e posso ver os frutos do que estou criando”, disse, reconhecendo o trocadilho.
Embora histórias de sucesso como a de Tagliabue possam inspirar mais italianos a seguir seus sonhos, o fim da proibição de demissões também pode ser um fator.
Pelo menos alguns casos recentes podem ser “demissões forçadas” após o término da proibição, disse o pesquisador do lavoce, Francesco Armillei, no site do think tank. “Mas também podem ser pessoas que receberam uma inspiração durante a crise.”