Política

Ex-coordenadora do Programa de Imunizações diz que Bolsonaro prejudicou vacinação

08 jul 2021, 13:55 - atualizado em 08 jul 2021, 13:55
Francieli Fantinato
À CPI, Francieli Fantinato afirmou que pediu exoneração do cargo depois que “a politização do assunto chegou a um limite” (Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

A ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde Francieli Fantinato responsabilizou o presidente Jair Bolsonaro pela “politização” e pelo atraso na vacinação contra o coronavírus. Em depoimento à CPI da Pandemia nesta quinta-feira (8), a enfermeira disse que “o líder da nação” colocou em dúvida a eficácia dos imunizantes.

— Não dá para colocar em dúvida a vacinação como um meio efetivo para o controle da pandemia. Ter uma politização do assunto por meio do líder da nação, que traz elementos que muitas vezes colocam em dúvida… Enquanto coordenadora do PNI, preciso de apoio favorável à vacinação. Quando o líder da nação não fala favorável, a minha opinião pessoal é que isso pode trazer prejuízos — disse.

Francieli disse que pediu exoneração do cargo depois que “a politização do assunto chegou a um limite”. Ela afirmou que, durante a gestão do PNI, não recebeu do Poder Executivo vacinas suficientes e campanhas publicitárias efetivas para assegurar a imunização da população.

— Por que o maior programa de vacinação do mundo teve dificuldades em executar o seu papel? Faltou quantitativo suficiente [de vacinas] para uma execução rápida e faltou campanha publicitária. O PNI, estando sob qualquer coordenação, não consegue fazer uma campanha exitosa sem vacinas e sem comunicação. Para um programa de vacinação ter sucesso é simples: é necessário ter vacinas e campanha publicitária efetiva. Infelizmente, não tive nenhum dos dois — disse.

A enfermeira coordenou o PNI de maio de 2019 até o início desta semana. Francieli reconheceu que “existia um cenário de escassez mundial” de vacinas. Mas disse que o PNI organizou um plano para iniciar a campanha de vacinação mesmo com um número reduzido de doses, atendendo inicialmente a grupos prioritários.

— Em junho de 2020, a gente avaliou que inicialmente precisaria, para controlar a transmissão, de um quantitativo de 55% de cobertura vacinal, que poderia variar até 95%. A gente sabia naquele momento que poderia enfrentar um cenário de escassez. Então, a gente fez um segundo cenário trazendo grupos prioritários para iniciar pelas populações mais vulneráveis — afirmou.

Francieli disse que, desde julho de 2020, participou de reuniões técnicas com representantes das vacinas Pfizer, AstraZeneca e Covaxin. O PNI emitiu notas técnicas em que recomendava a compra dos imunizantes, desde que autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Todas as notas foram encaminhadas ao então secretário-executivo do Ministério da Saúde, o coronel Élcio Franco. No entanto, segundo ela, “as vacinas não chegaram”.

A ex-coordenadora do PNI assegurou não saber se as notas técnicas que recomendavam a compra dos imunizantes chegaram ao então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, ou ao presidente da República. Mas o relator da CPI da Pandemia, senador Renan Calheiros (MDB-AL), criticou a postura de Jair Bolsonaro no episódio.

— Nesse exato momento, o governo estava recusando as ofertas da Pfizer, da Organização Mundial da Saúde [OMS] e do Butantan. Desdenhava da eficácia das vacinas, sobretudo daquelas que tinham compliance, que tinham controle. Preferia priorizar as negociações de vacinas tipo essa Covaxin, que tinha inclusive um atravessador. Em janeiro deste ano, o presidente da República surpreendentemente manda uma mensagem ao primeiro ministro da Índia pedindo para comprar 20 milhões de doses [da Covaxin]. Ora, se tivessem andado as negociações a partir da Pfizer, da OMS e do Butantan, teríamos tidos ainda no ano que passou uma oferta de quase 170 milhões de doses — criticou.

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