Política

Ex-chefe de gabinete de Beto Richa é preso por suspeita de corrupção

11 set 2018, 14:13 - atualizado em 11 set 2018, 14:13
(Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O ex-chefe de gabinete do ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB), Deonilson Roldo, foi preso hoje (11), em caráter preventivo, na Operação Piloto – 53ª fase da Lava Jato, que investiga o envolvimento de funcionários públicos e empresários com a empreiteira Odebrecht no favorecimento de licitação para obras na rodovia estadual PR-323, em 2014. A obra foi contratada por R$ 7,2 bilhões.

Segundo o procurador da República Diogo Castor de Mattos, Deonilson Roldo foi apontado por outros investigados como o arrecadador de dinheiro ilícito pago a agentes públicos em contrapartida ao favorecimento em contratos para a realização de obras públicas. Ainda de acordo com o procurador, as investigações apontam que Roldo continua colaborando com Richa, coordenando informalmente a campanha do ex-governador ao Senado.

Além de Roldo, também foram detidos, hoje, o empresário Jorge Theodócio Atherino e Tiago Correia Rocha. Preso preventivamente, Atherino é apontado como o “operador financeiro”, ou seja, o intermediário que gerenciava as propinas do esquema de corrupção desenvolvido durante a gestão de Richa à frente do governo paranaense. Já Rocha, detido em caráter temporário, é suspeito de atuar como “braço-direito” de Atherino.

Roldo e Atherino estão entre as 11 pessoas que a força-tarefa da Lava Jato do MPF no Paraná denunciou no último dia 5 pelos crimes de corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro. As provas que embasam a acusação revelaram o pagamento de propinas pela Odebrecht para obter favores ilegais relacionados à Parceria Público Privada (PPP) para exploração e duplicação da rodovia PR-323.

Hoje, o procurador da República afirmou que, apesar de o MPF já ter denunciado Roldo e Atherino, “novas evidências demonstraram que os dois continuavam atuando em atividades suspeitas. Um deles trabalhando de forma oculta na coordenação da campanha para o Senado do ex-governador Beto Richa, e o outro continuando a movimentar valores expressivos em nome de diversas pessoas jurídicas.”

As prisões de Roldo, Atherino e Rocha ocorrem no mesmo dia em que Richa e outras 14 pessoas, incluindo a mulher e um irmão do ex-governador, foram presos pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), deflagrada pelo Ministério Público do Paraná. Apelidada de Operação Radiopatrulha, a ação do Gaeco investiga irregularidades no programa Patrulha do Campo, lançado pelo então governador do Paraná Beto Richa, no período 2012-2014, para asfaltar estradas de áreas rurais.

De acordo com o delegado federal regional de Combate ao Crime Organizado, Igor Mário de Paula, a deflagração das operações federal e estadual em um mesmo dia foi “uma coincidência e uma consequência natural das investigações que vêm sendo realizadas há tempos”.

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Denúncia

De acordo com a denúncia apresentada pelo MPF na semana passada, em janeiro de 2014 executivos da Odebrecht procuraram o então chefe de gabinete do governador Beto Richa e pediram apoio para afastar eventuais concorrentes interessados na licitação da obra de duplicação e exploração e duplicação da PR-323. Após uma primeira reunião, Roldo voltou a se encontrar com executivos da empreiteira, informando que daria a ajuda ilegal solicitada pela companhia na licitação, mas para isso contava com a ajuda da empresa na campanha do governador daquele ano de 2014.

Em seguida, em 14 de fevereiro de 2014, Roldo teve uma terceira reunião com os executivos da Odebrecht. Nesse encontro, o então chefe de gabinete do ex-governador afirmou que tinha procurado as empresas CCR e Viapar, que indicaram que não participariam da licitação. Informou, ainda, que o Grupo Bertin tinha interesse na concorrência por intermédio da empresa Contern.

Ainda de acordo com o MPF, em 24 de fevereiro de 2014, Roldo se reuniu com o executivo da Contern, Pedro Rache, no Palácio Iguaçu. No encontro, gravado pelo executivo e incluído à denúncia, Roldo afirma que tinha “compromissos” com a Odebrecht e pede que a empresa Contern desista de participar da licitação.

O MPF também aponta, na denúncia, que, após diversos adiamentos dos prazos de entrega das propostas, em 25 de março de 2014, o Consórcio Rota das Fronteiras, composto pela Odebrecht, Tucumann, Gel e America, foi o único a apresentar sua proposta, sagrando-se vencedor da concorrência pública. O contrato foi assinado em 5 de setembro de 2014.

Por fim, o MPF relata que, depois de a Odebrecht vencer a licitação, o empresário Jorge Atherino compareceu ao escritório da construtora, em Curitiba, a fim de cobrar as propinas supostamente combinadas com Roldo. O que foi feito pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, setor criado pela construtora para organizar os pagamentos ilícitos e que, segundo os procuradores da República, autorizou o pagamento de R$ 4 milhões a Jorge Atherino, quantia entregue em endereço informado pelo mesmo. A PF disse que dessa quantia, R$ 3,5 milhões foram entregues em espécie.

As informações que constam da denúncia do MPF foram ratificadas, hoje, pelo delegado federal Felipe Eduardo Hideo Hayashi. “Uma série de elementos indicam que houve um toma-lá-dá-cá na licitação da PR-323. Há, inclusive, um áudio em que o então chefe de gabinete do governador indica a fraude e o direcionamento da licitação para favorecer a Odebrecht. São indicativos de uma combinação entre a Odebrecht e agentes públicos que, a partir da assinatura do contrato em favor da construtora, passaram a solicitar vantagens indevidas, como supostas doações eleitorais para a campanha de 2014”, afirmou Hayashi.

Procurada, a assessoria de Beto Richa confirmou que Deonilson Roldo atuou como chefe de gabinete até o ex-governador se afastar do cargo para concorrer ao Senado. A assessoria, no entanto, não comentou se o assessor atua na atual campanha do tucano, se limitando a informar que aguarda a orientação dos advogados de Richa para se manifestar. A defesa, por sua vez, afirmou estar se inteirando das razões para a detenção do ex-governador.

A Agência Brasil ainda não localizou a defesa de Deonilson Roldo.