Euro digital irá complementar o sistema financeiro atual, e não substituí-lo
Caso os bancos centrais do mundo avancem planos de lançar suas próprias criptomoedas, declarações recentes afirmam que tais iniciativas irão complementar métodos existentes de pagamento em vez de substituí-los.
Essa dinâmica específica de design surgiu esta semana, principalmente no contexto de um euro digital, que o Banco Central Europeu (BCE) está desenvolvendo e possa vir à tona nos próximos meses.
Recentemente, Christine Lagarde, presidente do BCE, disse que funcionários do Eurosistema estão decidindo se irão apresentar um euro digital.
Em seu discurso, segundo uma transcrição publicada, Lagarde explicou a natureza pretendida e complementar de um euro digital:
O Eurosistema continuará a garantir que todos os cidadãos tenham acesso a cédulas a todo o momento. Um euro digital, em todo caso, seria um complemento, e não um substituto para o dinheiro em espécie.
Juntos, apoiariam a inclusão financeira e fornecer uma opção para consumidores. Isso, alinhado à nossa política de respeitar as preferências dos consumidores quando se fala em meios de pagamento.
Ela explicou que, em uma queda no uso do dinheiro em espécie, “um euro digital irá assegurar que o dinheiro soberano permaneça no centro dos sistemas de pagamentos europeus. E também apoiaria inovação ao fornecer uma alternativa às formas privadas de dinheiro para pagamentos mais rápidos e eficazes na Europa e além”.
Um relatório recente do Banco de Compensações Internacionais (BIS), que analisou inúmeras iniciativas de moedas digitais emitidas por bancos centrais (CBDCs), encontrou um tema em comum da complementaridade entre tais projetos.
Isso talvez não seja surpreendente, dado o desejo declarado de bancos centrais em evitar o abalo ao sistema financeiro.
Descobertas parecidas foram incluídas no estudo recente do The Block: “Análise global sobre moedas digitais emitidas por bancos centrais (CBDCs)”.
Um discurso desta sexta-feira (11) por François Villeroy de Galhau, presidente do Banque de France, foi mais aprofundado em relação à natureza complementar de um possível euro digital.
Seu discurso falou sobre uma possível CBDC, bem como a Iniciativa Europeia de Pagamentos (EPI), um projeto digital pancontinental com pagamentos baseados em cartões, lançado este ano.
Na verdade, ele falou sobre a esperança da integração entre sistemas públicos e privados — algo que Andrew Bailey, presidente do banco central do Reino Unido, havia falado sobre na semana passada.
Segundo de Galhau:
Deixe-me enfatizar que não existe contradição, algo que gera receio em bancos comerciais, entre considerar uma CBDC-euro e apoiar a EPI. Talvez precisemos de ambos e os desenvolvermos de forma complementar.
Minha preferência seria buscar por uma parceria renovada entre público/privado para a disseminação do dinheiro de banco central para o varejo.
Possíveis impactos no setor bancário poderiam ser reduzidos com ferramentas diferentes: por exemplo, limitar a quantidade de euro digital em circulação evitaria mudanças excessivas do dinheiro de bancos comerciais em euros digitais.
Para o Eurosistema, essa estratégia insinuaria o esclarecimento da interação que gostaríamos de aplicar entre a EPI e a CBDC, além de validar um modelo intermediário enquanto fornecemos proximidade o suficiente com consumidores e valor acrescentado aos intermediários (como soluções de front-end).
O discurso de Galhau foi revelador de outras formas.
Enquanto Lagarde não falou sobre a existência de stablecoins (discutida bastante por Bailey na semana passada), de Galhau disse que “stablecoins, de certa forma, podem competir tanto contra o dinheiro de bancos comerciais como de bancos centrais, apesar de não fornecerem as mesmas garantias em termos de risco de crédito, liquidez, continuidade de serviços e neutralidade”.
Em seguida, ele disse que o Eurosistema “não pode fazer com que nos atrasemos em relação a uma CBDC”.
Em relação à probabilidade de um euro digital estar disponível, nem de Galhau nem Lagarde forneceram muita possibilidade.
Ainda assim, de Galhau falou sobre a pressão em decidir sobre algum tipo de fronte de pagamentos, destacando que “a Europa não desenvolveu redes sociais globais assim como alguns países importantes”.
“Isso aumenta as apostas para autoridades financeiras, se quiserem um setor financeiro europeu mais forte, autônomo e inovador para ter sucesso em desenvolver uma estratégia coerente”, disse ele.
“Não temos muito tempo para decidir essa estratégia consistente de pagamentos europeus, incluindo EPI e uma possível CBDC: [temos] de um a dois anos.”