EUA x China: Como as sanções americanas contra os chineses impactam o Brasil
Na última quarta-feira (09), o presidente Joe Biden proibiu investimentos dos Estados Unidos no setor de alta tecnologia da China.
Isso aumenta o risco institucional e regulatório de todas as empresas que dependam em parte, ou totalmente, de capital americano, uma vez que esses investimentos na área dos chips, inteligências artificiais (AI) e cálculos quânticos passam a ser monitorado pelo governo dos Estado Unidos.
Com essa restrição de capital, o cerco em relação à indústria de semicondutores está quase completa. Além da proibição de vender os chips avançados, que possibilitam o desenvolvimento de inteligência artificial, os Estados Unidos também já tinham proibido trabalhadores americanos de atuarem na indústria chinesas de chip.
Essa medida fortalece a lógica que o mercado já suspeitava: as sanções americanas servem para restringir, destruir e sufocar todas as indústrias que estejam mais avançadas que os Estados Unidos.
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Guerra econômica entre Estados Unidos e China
A história começou com a Huawei e a ZTE em 2018, as duas maiores empresas de telecomunicações chinesas de 5G na época. Agora, o filme se repete na indústria dos chips avançados.
Os analistas de mercado especulam que a próxima sanção seria contra montadoras de automóveis elétricos, uma vez que ela já satisfaz todas as condições a serem sancionadas pelos Estados Unidos: os carros elétricos chineses são de alta durabilidade. Além disso, contam com aplicação integrada de AI e eficiência energética, e custam menos de metade de preço em relação aos seus competidores americanos.
A medida que competição econômica e tecnológica contra a China intensificam, as sanções do governo americano podem ficar ainda mais severas. Conforme os próprios especialistas americanos, o governo poderá adotar mais medidas para fazer exclusão da China da cadeia de suprimento da indústria global.
Os Estados Unidos também podem querer eliminar por completo as cooperação e divisões de trabalho da China na produção e acesso de componentes e aparelhos tecnológicos no mercado global. Com isso, as empresas americanas ganhariam fôlego para voltar a liderar produto de alta tecnologia.
Essas restrições americanas podem atrasar a transição da China para uma economia verde sustentável de alta tecnologia. Embora o país asiático continue implementando sua reforma de abertura institucional, além de promover política industrial mais moderna de alto valor tecnológico, ele é interrompido por essas novas sanções americanas para fazer os ajustes necessários.
Diferentemente na indústria de baixo teor tecnológico, qualquer mudança de plano de investimento intensivo da indústria de alta tecnologia exige um tempo mais longo para analisar e executar. Há um complexo sistemas de integração no processo produtivo que precisa ser redesenhado para ter eficiência.
Por exemplo, agora a China é forçada a criar tecnologia própria para refazer toda cadeia produtiva de semicondutores. Ao não ter uma linha de produção dos chips usando máquinas e equipamentos estrangeiros, a China precisa dominar a tecnologia de litografia para produzir os equipamentos sem depender do seu maior fornecedor estrangeiro.
Esse desenvolvimento da tecnologia própria demandará tempo para concretizar e, uma vez concretizada, a tecnologia seria de ponta. A própria Huawei está demonstrando isso: após quatro anos de sanções, ela mesma criou novo HarmonyOS4.0 e NearLink que integram a internet das coisas e AI sob comando de um celular para usuário e desenvolvedores de aplicativos.
E o Brasil com isso?
A demora dessa transição pode afetar o Brasil? Sim, haverá impacto negativo para o Brasil. No entanto, esse impacto seria limitado, se considerasse apenas a transição, pois todo plano econômico da China estaria dentro do planejado.
Por exemplo, uma das causas da queda de preço médio de minério de ferro no período recente foi pela decisão da China de mudar seu modelo de crescimento. O país quer crescer com desenvolvimento de novas alta tecnologias digitais e energias renováveis, e não quer mais depender só de investimento no setor imobiliário ou de infraestrutura.
O que pode agravar esses impactos negativos para o Brasil é a demora dessa transição causada pela turbulência das sanções americanas. A commodities agrícolas que tem sido pouco afetado até recentemente deve ficar mais expostas. Por exemplo, um fenômeno que merece atenção dos exportadores brasileiros de agronegócios é a elevada competição de preços de “comer fora” na China.
Um copão de café Latte que custa 35 Yuan chinês na rede de cafeteria internacional numa cidade grande ,pode ser adquirido por 15 Yuan chinês nas redes de cafeteria local (e ainda vem com um “pão chines” de brinde!).
A concorrência para baixar o preço é ainda maior nas cidades menores. Como as cafeterias têm pouca margem de lucro, elas ficam expostas a qualquer aumento de preço de matéria-prima: o café. Os distribuidores nas cidades sofreriam menos, uma vez que existe contrato de fornecimento com preço fixo. Os tradings internacionais que não trabalham com distribuição local sofreriam mais com oscilação de preço.
Essa concorrência de preço está acontecendo não só com a cafeteria, mas também está com os pequenos restaurantes e cadeia de “fast foods”. Consequentemente, os exportadores de proteínas animais e proteínas vegetais do Brasil também seriam afetadas negativamente. Para piorar, como Brasil ainda participa pouca a rede de suprimentos da distribuição local, as empresas estão mais expostas aos preços internacionais.
Portanto, monitorar timing e detalhe dessa transição estrutural chinesa é essencial para exportadores brasileiros. O tempo de bonanças de exportação fácil para porto da China com margem elevada acabou.
Com a tendência de intensificação de sanção americana contra a China, a dinâmica de preço de commodities mudou no mercado interno chinês. Os exportadores brasileiros precisam reposicionar dentro do mercado chinês investindo nas redes de distribuições locais para garantir sua participação com uma margem de lucro adequada.