EUA: Incerteza sobre tamanho do corte de juros do Fed abala perspectiva sobre balanço patrimonial
A incerteza sobre o tamanho do corte de juros a ser feito pelo Federal Reserve na quarta-feira (18) tem provocado um debate sobre a possibilidade de interrupção no processo de redução do balanço patrimonial do banco central dos Estados Unidos.
As perspectivas de um corte de 50 pontos-base logo no início do ciclo de afrouxamento têm ganhado espaço nos mercados futuros contra uma redução de 25 pontos e, se as autoridades optarem pelo movimento maior e sinalizarem preocupação com as perspectivas econômicas, o caminho para um aperto quantitativo maior pode ficar mais curto.
O aperto quantitativo é considerado uma ferramenta de gerenciamento de liquidez e é distinto da política monetária, que se concentra em reprimir a inflação sem causar impacto no mercado de trabalho. Porém, cortes agressivos nos juros podem ser considerados em desacordo com a liquidez mais apertada, dependendo dos motivos por trás das reduções.
Um encerramento iminente do aperto quantitativo representaria uma grande mudança na perspectiva do balanço patrimonial do banco central dos EUA. Uma pesquisa do Fed de Nova York com os principais bancos em julho revelou que as empresas preveem o fim do aperto quantitativo apenas em abril do próximo ano, uma vez que as autoridades do Fed têm sinalizado que veem amplo espaço para continuá-lo.
“Se eles reduzirem os juros em 50 pontos-base, acho que a decisão sobre o balanço patrimonial se tornará mais complexa”, disse Patricia Zobel, ex-gerente do grupo do Fed de Nova York que implementa a política monetária e agora chefe de pesquisa macroeconômica e estratégia de mercado da Guggenheim Investments.
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“Temos alguma chance” de um fim antecipado do aperto quantitativo se um corte maior for acompanhado de preocupações com a economia, disse Zobel. Por enquanto, a ex-funcionária do Fed está prevendo um corte de 25 pontos e a continuação do aperto quantitativo em sua trajetória atual.
A taxa de juros do Fed tem sido mantida na faixa de 5,25% a 5,50%.
Matthew Luzzetti, economista do Deutsche Bank, disse que um grande corte nos juros, junto de indícios de um afrouxamento mais agressivo nas projeções do Fed, significaria que “haveria um conflito entre a redução dos juros e a continuação da redução do balanço patrimonial, e eles talvez não queiram esse tipo de sinal misto sobre suas ferramentas nesse ambiente”.
A maior incerteza quanto ao corte se resume a avaliar se o Fed irá reduzir os custos dos empréstimos simplesmente para normalizá-los, dada a redução da inflação, e alguns acham que uma grande redução ou duas ainda poderiam se encaixar nessa trajetória.
Porém, o risco mais importante para a perspectiva do aperto quantitativo é se a política monetária for ajustada devido às preocupações crescentes com o fato de o mercado de trabalho estar em ritmo de estagnação.
A perspectiva nebulosa para o balanço patrimonial ocorre depois que o processo de aperto quantitativa acaba de completar dois anos. O Fed mais do que dobrou o tamanho de seus ativos até meados de 2022 por meio de compras de Treasuries e títulos lastreados em hipotecas, chegando a um total de US$ 9 trilhões. O objetivo da compra era moderar a instabilidade dos mercados e dar impulso à economia durante a pandemia da Covid-19.
A retirada de liquidez já cortou cerca de US$ 1,8 trilhão da carteira do Fed e, em maio, o banco central reduziu a retirada mensal de 95 bilhões de dólares para o limite atual de US$ 60 bilhões.
O Fed procura ter liquidez suficiente no sistema financeiro para permitir a volatilidade normal dos juros de curto prazo e um controle firme sobre sua taxa. A discussão sobre o fim do aperto quantitativo tem se concentrado principalmente em encontrar esse ponto ideal para a liquidez.