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A mudança estrutural nos EUA que contaminou o mercado brasileiro, segundo gestora de ex-BC

22 set 2023, 13:09 - atualizado em 22 set 2023, 17:03
Macro, EUA, Yellen Tesouro Brasil
Deterioração da relação PIB/dívida pressiona juros de longo-prazo nos Estados Unidos. (Imagem: REUTERS/Samuel Rajkumar)

A gestora Rio Bravo, do ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, alertou para uma importante mudança no comportamento dos juros dos EUA no último mês, respigando no mercado brasileiro.

Na carta obtida com exclusividade pelo Money Times, Luca Mercadante, economista da gestora, e Evandro Buccini, sócio e diretor de gestão de crédito e multimercado, avaliam que a deterioração da relação dívida/PIB nos EUA fazem economistas e investidores reavaliarem suas estimativas de juros de equilíbrio, agora mais altas.

“O juro de equilíbrio era estimado em 2,5%. Agora, algumas casas já estimam um novo valor para o juro de equilíbrio 1,5 ponto percentual mais alto”, consta o documento.   

O aumento do gasto público nos EUA, relembra a Rio Bravo, foi um dos motivos pelos quais a Fitch rebaixou a nota soberana de crédito do país do mais alto grau de investimento, AAA, para a nota AA+.

A maior economia do mundo conseguiu aprovar um novo teto para a dívida ao fim de maio, em um acordo que suspende o limite da dívida por dois anos, com a contrapartida de um corte de US$ 1.5 trilhão em gasto público ao longo da próxima década.

Mas o avanço da dívida federal para o astronômico nível dos US$ 33 trilhões e a possibilidade de uma nova paralisação do governo em razão da falta de recursos trazem o mal-estar fiscal de volta à mesa.

A situação se agrava, após a decisão desta semana do Fed. A autarquia pausou os juros por hora, mas deu indicações que decidirá por mais um novo aumento em 2023 e que manterá os juros elevados por mais tempo.

A gestora entende que este contexto teve uma repercussão clara para os ativos ao longo do mês: a abertura dos ramos de horizonte mais longo da curva de juros, em especial do vértice de 10 anos, que chegou a marcar 4,33% e fechou o mês de agosto a 4,28%.  

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Por que problema dos EUA também é do Brasil

Diante das incertezas sobre o juro de equilíbrio nos Estados Unidos, com abertura das taxas de 10 anos, quem também saiu perdendo foi o Brasil.

O avanço dos juros longos nos Estados Unidos é um problema também brasileiro, porque tais taxas são usadas para descontar os ativos negociados localmente.

Foi diante dessa influência externa (também pressionado pela China no período) que o Ibovespa conseguiu acumular 13 dias de variações negativas no mês. De janeiro a agosto, o índice acionário da B3 registrou baixa de 5% – a primeira queda mensal desde março. 

Além disso, a discussão fiscal voltou a centro de debate neste mês em virtude do prazo de apresentação da Lei Orçamentária para 2024, que exigiu que as medidas de consolidação das contas públicas também fossem divulgadas.

Assim, mesmo com o início do ciclo de cortes promovido pelo Banco Central, a curva de juros ganhou inclinação, com a abertura dos ramos mais longos.