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Ethereum (ETH): Tudo o que você precisa saber sobre ‘The Merge’, que chega nesta semana

04 set 2022, 16:00 - atualizado em 14 set 2022, 12:58
Ethereum
The Merge fará a fusão entre os blockchains PoW e PoS da Ethereum. (Imagem: Unsplash/Jievani Weerasinghe)

Após anos de planejamento, Ethereum (ETH) se aproxima de “The Merge” – a tão esperada atualização no blockchain da rede.

Presumindo que tudo ocorra conforme planejado, The Merge será o maior acontecimento histórico da Ethereum até agora, conforme a rede muda permanentemente o mecanismo de consenso subjacente, usado para garantir a segurança da rede.

O objetivo principal de The Merge é mudar o atual mecanismo de consenso usado – proof-of-work (PoW) – para proof-of-stake (PoS), a fim de ajudar na eficiência energética da Ethereum.

Tecnicamente, o blockchain PoS da Ethereum, chamado Beacon Chain, já está no ar, mas ainda não foi integrado ao blockchain principal, que permanece, por enquanto, em PoW.

Quando The Merge for ativada, ela fará a fusão do blockchain atual com Beacon Chain. Após esse evento, a Ethereum irá operar em proof-of-stake.

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Por que The Merge está acontecendo?

A razão pela qual a equipe da Ethereum quer fazer a transição para proof-of-stake é, principalmente, para tornar a rede mais eficiente em relação ao consumo de energia.

O mecanismo de consenso usado atualmente pela Ethereum depende da mineração, na qual chips de computação são usados para resolver quebra-cabeças criptográficos.

Embora PoW seja eficiente, esse mecanismo demanda muito consumo de energia elétrica, resultando em altas emissões de carbono na mineração da criptomoeda.

É estimado que Ethereum consuma, aproximadamente, 75 terawatt-hora (TWh) por ano – o equivalente ao consumo energético anual da Austrália.

Esse consumo é diferente em um sistema proof-of-stake, em que o blockchain é assegurado por validadores, selecionados pelo staking de tokens. Validadores da Ethereum devem bloquear 32 ETH (US$ 48 mil) para serem elegíveis.

Qualquer pessoa pode ser um nó validador, contanto que cumpra a exigência de staking. Usuários também podem reunir seus ativos e delegar esses tokens para um validador e dividir as recompensas.

Ao colocar os próprios ativos como garantia, usuários aceitam o risco de que, se agirem de má-fé, os tokens em staking poderão ser cortados e usuários podem perder os próprios fundos. Este é o incentivo para ser um agente positivo na rede.

Ele é semelhante a mineradores que precisam investir em equipamentos de mineração e pagar por eletricidade para minerar blocos. A ideia é que isso torna mais benéfico para operadores da rede se comportarem positivamente do que se tentarem atacá-la.

Porém, a remoção do processo de mineração e sua substituição pelo staking elimina custos elevados de aquisição de hardwares caros e muita eletricidade. Por isso, tem o potencial de tornar a Ethereum uma rede muito mais eficiente do ponto de vista energético e de reduzir a pegada de carbono.

A equipe da Ethereum previu que a troca do mecanismo PoW para PoS irá reduzir drasticamente os custos energéticos em 99,95%, resultando em um gasto energético anual de 0,01 TWh por ano.

Quando The Merge chegará à Ethereum?

Ethereum Foundation confirmou que The Merge será finalizado entre 10 e 20 de setembro de 2022.

Segundo a organização, o evento acontecerá em duas etapas: Bellatrix e Paris.

A primeira etapa – Bellatrix – acontecerá às 8h34min, no horário de Brasília, no dia 6 de setembro, e fará uma atualização no Beacon Chain para prepará-lo para The Merge.

Após Bellatrix, a segunda etapa – Paris – fará a mudança do blockchain proof-of-work para proof-of-stake. Ainda não se sabe o momento exato da transição, mas a fusão entre os dois blockchains será feita quando a rede alcançar uma “dificuldade total do terminal” pré-determinada.

Com base em estimativas do blockchain, Paris deverá acontecer em 15 de setembro – mas a data poderá flutuar alguns dias antes ou depois.

O que foi feito para preparar a Ethereum?

Desenvolvedores da Ethereum levaram anos planejando a mudança para proof-of-stake.

O desenvolvimento gradual em direção a The Merge se deu por meio de dois acontecimentos principais. O primeiro foi a criação do Beacon Chain, em dezembro de 2020, o qual deu início à primeira fase da transição para proof-of-stake.

Desde então, Beacon Chain funciona como um blockchain PoS que opera paralelamente à Ethereum e onde usuários podem fazer o staking de ETH.

O objetivo do lançamento do Beacon Chain antes da transição era garantir que haveria ETH em staking o suficiente na rede no momento da fusão dos mecanismos de consenso. Atualmente, Beacon Chain tem cerca de 13,2 milhões de ETH em staking, espalhados em 418 mil nós validadores.

Outro propósito de Beacon Chain era testar o mecanismo de consenso PoS em produção por um tempo significativo e sem afetar a rede principal, a qual hospeda bilhões de dólares em ativos.

Durante 2022, em preparação para The Merge, desenvolvedores da Ethereum realizaram diversos ensaios em redes de teste (“testnets”) – clones exclusivos da Ethereum usados para propósitos experimentais.

Diversas testnets, incluindo Kiln, Ropsten, Sepolia e Goerli, já passaram por The Merge e estão operando no código PoS.

Esses testes ajudaram desenvolvedores a descobrir problemas e melhorar softwares de clientes, usados para operar nós da Ethereum, como Nethermind, Geth e Erigon. Isso foi feito para que a transição de The Merge aconteça de forma suave.

The Merge tornará a rede mais escalável?

Um erro comum entre usuários da Ethereum é que The Merge aumentará a capacidade total da rede, o que tornaria o blockchain mais rápido e barato de usar. Na realidade, este não é o caso.

Visto que a atualização altera somente o mecanismo de consenso da Ethereum – ou seja, como a rede concorda sobre quem irá criar blocos de transações – isso não afetará, particularmente, as regras que governam taxas e transações.

De modo semelhante, o tempo para processar novos blocos mudará levemente, reduzindo de 13 para 12 segundos.

Então, mesmo após The Merge, a Ethereum ainda estará sujeita a congestionamento e picos nas taxas de transação durante momentos de alta demanda. Para isso, existem outros planos para escalabilidade por meio de um sistema com múltiplas camadas – incluindo rollups de múltiplas variedades.

Ao mesmo tempo, The Merge prepara a Ethereum para futuras atualizações de escalabilidade na camada de base, como sharding, que possibilita a divisão do blockchain em shards e permite o processamento paralelo de transações entre elas.

Como ficará a tokeconomia da Ethereum?

Existe um potencial para que o fornecimento do token da Ethereum se torne deflacionário. (Imagem: Unsplash/Yiğit Ali Atasoy)

A chegada de The Merge à Ethereum também tem ramificações econômicas. O blockchain da Ethereum enfrentará uma enorme redução na emissão logo após a atualização para PoS. Portanto, existe um potencial para que o fornecimento de ETH se torne deflacionário.

Segundo estimativas atuais, a taxa de criação de novos ethers cairá 90% após The Merge, devido ao fato de que as recompensas de validadores serão significativamente menores que as recompensas de mineração emitidas em PoW.

Uma publicação recente no site da principal comunidade da Ethereum afirma que o blockchain PoW paga 13 mil ETH diariamente para mineradores. Após The Merge, o site estima que cerca de 1.600 ETH serão pagos em recompensas de validadores – uma redução de 88%.

A queda nas recompensas acontece não muito tempo depois de a Ethereum ter introduzido uma taxa de queima.

Esta é uma taxa, presente em todas as transações no blockchain, que não é destinada ao minerador ou validador, mas é queimada e tornada inacessível. A ideia da taxa de queima é reduzir lentamente o fornecimento de ether ao longo do tempo.

Desde que a taxa de queima foi introduzida, mais de 2,6 milhões de ETH foram queimados – avaliados em, aproximadamente, US$ 3,76 bilhões com a cotação atual do ether.

Como resultado, a rede da Ethereum emitirá muito menos ETH anualmente, mas continuará queimando uma grande quantidade da criptomoeda no mesmo período. Se a rede queima mais do que emite, então ela será deflacionária – com o fornecimento reduzindo a cada ano, ao invés de aumentar.

Isso provavelmente acontecerá se o preço da taxa de gás – uma parte essencial das taxas de transação – ficar acima de 16 gwei.

O que acontecerá na Ethereum após The Merge?

Assumindo que The Merge seja bem-sucedido, a atualização removerá um dos maiores problemas da Ethereum – o impacto ambiental – e permitirá que a rede foque em outros problemas relevantes, principalmente na escalabilidade, para permitir mais transações a custos menores.

A remoção do problema ambiental causado pelo PoW poderá ter um grande impacto no futuro dos tokens não fungíveis (NFTs), a maioria dos quais é desenvolvida na Ethereum. NFTs também são alvo de muitas críticas, as quais apontam tanto problemas tecnológicos quanto ambientais.

Após The Merge, poderá haver problemas de segurança. A atualização não terá impacto nos contratos implementados na Ethereum e, portanto, aplicativos deverão continuar funcionando normalmente.

Porém, isso não impedirá pessoas de buscarem problemas possíveis para tentar consertá-los ou explorá-los em um ataque.

Depois que a atualização for concluída, a quantidade em ether em staking na Ethereum permanecerá bloqueada. Saques serão permitidos após a atualização Shanghai, estimada para acontecer entre 6 e 12 meses após The Merge.