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Ethereum (ETH) enfrenta risco de censura após conclusão de ‘The Merge’

14 set 2022, 9:14 - atualizado em 14 set 2022, 9:14
Ethereum Merge
A conclusão da atualização da Ethereum está prevista para hoje (14) (Imagem: Pixabay/Dean Crosby)

No mês passado, a Agência de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) dos Estados Unidos sancionou Tornado Cash, um protocolo que embaralha transações em blockchain e dificulta o rastreamento de criptomoedas. A decisão marcou a primeira vez que o governo do país sanciona um contrato inteligente.

Os efeitos da decisão atingiram principalmente a Ethereum (ETH), com muitos participantes do mercado tomando ações para aderir às sanções. Circle, dYdX, GitHub, Infura, Oasis e Alchemy decidiram bloquear os endereços de carteiras sancionados – e os relacionados a estes – do acesso aos produtos e serviços.

A situação preocupou desenvolvedores e apoiadores da Ethereum de que essas decisões poderiam indicar um futuro mais problemático – em que a rede poderá se tornar vulnerável à censura.

Quando a Ethereum concluir “The Merge” – atualização que mudará o mecanismo de consenso usado, de proof-of-work (PoW) para proof-of-stake (PoS) – validadores passarão a validar blocos de transações, ao invés de mineradores, como é feito atualmente.

Após The Merge, é possível que validadores participem em determinadas transações para atender a atuais ou futuras sanções. Ao fazerem isso, validadores podem potencialmente prejudicar o status da Ethereum como uma tecnologia neutra.

Essa é uma questão que preocupa um dos maiores apoiadores da Ethereum, que abandonará todo o projeto, caso isso aconteça.

“Se a camada-base da Ethereum se envolver em censura permanente, então considerarei o experimento da Ethereum um fracasso e seguirei em frente”, disse no Twitter o cofundador do EthHUB, Anthony Sassano, um dos maiores apoiadores da Ethereum.

Migrando para proof-of-stake

Conforme mencionado anteriormente, após The Merge, Ethereum operará no mecanismo de consenso proof-of-stake.

Os maiores validadores do mercado incluem empresas cripto importantes, como Coinbase, Kraken, Binance, Staked.us, Bitcoin Suisse e Figment – as quais oferecem serviços de staking para usuários para permitir que recebam recompensas.

Essas empresas tornaram-se tão populares que são responsáveis, atualmente, por quase 40% de todo ETH depositado em staking por nós validadores no Beacon Chain.

Beacon Chain é a rede proof-of-stake da Ethereum que será fundida à rede principal, atualmente em proof-of-work, permitindo que Ethereum continue em PoS.

Há também Lido Finance, um protocolo de staking líquido responsável por mais de 30% dos depósitos de ether em staking no Beacon Chain e que permanece um potencial ponto de centralização.

Vale ressaltar que Lido Finance não serve como um único validador, mas usa uma ampla gama de validadores, como os mencionados acima.

Caso esses validadores decidam atender às sanções dos Estados Unidos, eles possuem poder o suficiente para realizar censura a nível do protocolo, com a comunidade da Ethereum sendo forçada a apoiar validadores com os quais talvez discordem.

Ou pior, devido ao design de Beacon Chain, usuários não podem remover ETH do staking até a atualização Shanghai, que deverá ser implementada de 6 a 12 meses após The Merge.

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Como a censura pode funcionar

Ethereum
Cofundador da Ethereum explicou as maneiras pelas quais a censura pode acontecer na rede. (Imagem: Unsplash/Kanchanara)

O cofundador da Ethereum, Vitalik Buterin, disse, em uma reunião com desenvolvedores em 18 de agosto, que a censura na camada-base pode acontecer de duas maneiras com diferentes probabilidades.

O primeiro tipo acontece quando determinados validadores escolhem excluir ou filtrar transações sancionadas dentro de blocos propostos por eles. Esse cenário, segundo Buterin, pode levar à censura temporária e transações podem sofrer atrasos, conforme aguardam ser finalizadas.

Contanto que alguns validadores não participem da censura, essas transações serão eventualmente escolhidas nos blocos subsequentes. O único problema será que levará mais tempo para que as transações sejam processadas nos blocos.

Após The Merge, validadores também precisarão assinar e transmitir uma comprovação durante cada epoch na rede. Isso leva ao segundo tipo de censura em potencial, no qual validadores – com participação acima de 51% – decidem não confirmar blocos que contenham transações sancionadas.

Esse tipo de censura, que viria da maioria de validadores, criaria uma bifurcação moderada (“soft fork”, em inglês) na Ethereum ou em uma versão alternativa do blockchain da Ethereum que não inclui transações sancionadas.

O segundo cenário nessa hipótese é classificado como “censura permanente”, que pode resultar em transações sancionadas nunca serem finalizadas na rede Ethereum, segundo Buterin.

Embora o cofundador da rede tenha dito que a probabilidade desse segundo cenário seja pequena, desenvolvedores centrais da Ethereum ainda estão discutindo meios para resistir às chances de censura temporária ou permanente.

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Indecisão reina entre validadores

Neste estágio, a censura por validadores centralizados é algo hipotético, visto que validadores da Ethereum ainda não esclareceram se atenderão ou não às sanções.

Qualquer que seja o resultado, validadores da Ethereum enfrentarão um período difícil para mantê-la uma rede apermissionada, ao mesmo tempo em que cumprem com regulações da OFAC. Esse seria o caso, se reguladores dos Estados Unidos instruíssem validadores a não processar transações que viessem de protocolos misturadores, como Tornado Cash.

O CEO da Coinbase, Brian Armstrong, afirmou que o serviço de staking da companhia, que tem mais de 14% do controle sobre validadores do Beacon Chain, não irá censurar transações. Armstrong disse que preferiria encerrar o serviço de staking ao invés de envolver-se na censura à Ethereum.

Quaisquer validadores existentes no Beacon Chain podem interromper seus deveres ao acionar uma função, chamada processo voluntário de saída. Isso significa que poderiam parar o staking dos próprios tokens sem serem punidos por isso.

Enquanto isso, outros fornecedores de staking, como Kraken e Bitcoin Suisse, querem preservar a resistência à censura. Mas, esses fornecedores ainda não têm respostas de como lidariam com sanções.

“Kraken acredita na importância de cripto ser resistente à censura e apermissionado. Como um dos validadores-líder de ETH, estamos cautelosamente monitorando a discussão sobre as potenciais consequências para validadores das sanções de Tornado Cash”, disse diretor jurídico da Kraken, Marco Santori.

Bitcoin Suisse deu uma resposta semelhante, em que o porta-voz da companhia disse: “Em relação à questão de como lidar com transações envolvendo endereços sancionados, Bitcoin Suisse está, atualmente, revendo a situação, visto que envolve questões jurídicas complexas, regulatórias e técnicas para as quais ainda não há respostas claras”.

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O que pode ser feito contra censura à Ethereum?

Ethereum
Desenvolvedores da Ethereum podem atingir manualmente validadores envolvidos em censura. (Imagem: Pexels/Jievani)

Desde que o problema veio à tona, desenvolvedores centrais da Ethereum discutiram estratégias para lutar contra a censura. Em resposta a uma discussão no Twitter sobre o assunto, Buterin comentou que apoiava a ideia de punir validadores que participassem na censura.

Nesse caso, desenvolvedores da Ethereum podem atingir manualmente validadores que se envolverem em censura. Isso pode resultar em validadores que censuram transações perdendo uma parte do ETH em staking, e essa estratégia está sendo analisada como uma primeira defesa contra censura feita por grandes fornecedores de staking.

Desenvolvedores da rede estão se preparando para organizar o cumprimento social e corte democrático das garantias, caso essas empresas tentem censurar transações.

Existem também passos mais rigorosos. Por exemplo, para conter uma potencial censura de 51% que leve a uma versão alternativa do blockchain da Ethereum, desenvolvedores podem considerar implementar o que chamam de “user activated soft-fork (UASF)” – “soft fork ativado por usuário”, em tradução livre.

Segundo o desenvolvedor da Ethereum e fundador da Rotki, Lefteris Karapetsas, a participação de validadores envolvidos na censura pode ser removida com UASF.

“Se uma maioria desonesta tentar atacar o protocolo com algo, como censura, a abordagem é uma UASF da comunidade para jogá-los fora da rede e queimar o ETH em staking deles”, disse Karapetsas ao The Block.

Outra técnica sugerida anteriormente por Vitalik Buterin como uma ferramenta anti-censura é a “proposer/builder separation (PBS) – “separação proponente/construtor”, em tradução livre.

Essa é uma estrutura organizacional proof-of-stake, em que a produção de blocos da Ethereum é dividida entre dois tipos de entidades: proponentes e construtores, criando uma verificação no blockchain contra censura de transações.

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