Eternit: O que o pequeno investidor pode aprender?
Por Shin Lai e João P. Freitas, da Upside Investor
A Eternit (ETER3), tradicional empresa de produtos para construção civil, entrou com um pedido de recuperação judicial nesta terça-feira 20 de março.
Acreditamos que este evento trás importante lições para muitos investidores e para os próprios gestores da empresa.
Antes de mais nada, vamos entender o que é a recuperação judicial da Eternit.
Recuperação Judicial é uma reorganização econômico-financeira com a participação da Justiça,que surge quando a empresa está com dificuldades de pagar suas dívidas. Isto é, a empresa não gera resultados operacionais suficientes para pagar seus credores financeiros em dia.
É um passo anterior ao da falência, quando a empresa não é mais capaz de pagar suas dívidas. O objetivo da Recuperação Judicial é justamente evitar a falência da empresa.
O que você como investidor pode aprender com a história da Eternit?
Há muitas visões e lições sobre o que aconteceu com a empresa. Na minha opinião as principais são as seguintes.
Alguns enxergam que a interferência jurídica no dia a dia das empresas é bastante elevada no Brasil.
Decisões jurídicas que impactam o dia a dia da empresa são emitidas, sem considerar muitas vezes o momento e o contexto da empresa.
Há um pouco de razão nisso.
Quando um juiz determina que a empresa terá 120 dias para deixar de fabricar um produto, em um contexto em que a empresa ainda depende deste produto para tocar o seu dia a dia.
Por mais, que o objetivo da Justiça seja preservar a saúde coletiva, uma decisão assim pode ser avassaladora.
Não parece uma ideia factível que uma empresa possa se reinventar em ‘apenas’ 120 dias.
No final das contas, o resultado pode ser o oposto, no qual, governo deixa de arrecadar, empregados perdem seus empregos, credores e fornecedores deixam de receber, e investidores perdem o que investiram.
Isto sem falar, que as empresas estão inseridas em um contexto econômico ainda muito difícil, principalmente para o setor de construção civil.
Mais tempo talvez fosse necessário.
Além do aspecto jurídico mencionado.
Devemos lembrar que o capitalismo é dinâmico e as empresas precisam se reinventar de tempos em tempos.
É normal as empresas repousarem sobre os ‘louros da glória’ do passado, e desprezarem ‘os ouros do futuro’ que surgirão no caminho.
Acontece com empresas ora revolucionárias como IBM que precisou deixar o negócio de fabricação de grandes computadores para se tornar uma empresa de consultoria. A Nokia foi uma extraordinária fabricante de celulares que hoje se tornou uma fração do que foi no passado, quando foi engolida por competidores como Apple e Samsung.
Obviamente, que a Eternit já deveria estar em um estágio de dependência muito menor do negócio do amianto.
A lição do caso Eternit para o investidor
Para o investidor de ações, acredito que a principal lição do ‘caso’ Eternit é que, o pequeno investidor não pode copiar cegamente as carteiras de grandes investidores.
No caso da Eternit é sabido que a empresa possui como acionistas, nada mais nada menos que Lírio Parisotto e Luís Barsi Filho.
Ambos, reconhecidos como dois bem sucedidos investidores em Bolsa, que chegaram aos seus bilhões investindo em empresas como Eternit.
O pequeno investidor de Bolsa menos avisado que sai copiando os grandes investidores porque eles nunca ‘erram’. Pode justamente cometer o erro de comprar uma empresa como Eternit na hora errada.
Isto sem mencionar, que a posição destes dois grandes investidores não foram montadas recentemente, foram montadas há mais de décadas.
Quando a Eternit era uma empresa de crescimento nas décadas de 80 e 90, até se tornar a grande distribuidora de dividendos pela qual se tornou conhecida recentemente.
Outro caso, emblemático foi o de OGX vendido por todos como a oportunidade da ‘década’. Movidos por um efeito manada, poucos se atentaram para os elevados riscos que estão envolvidos na exploração de petróleo.
Em resumo, investir em ações nunca é fácil como parece, exige atenção a muitos fatores e monitoramento constante, como conhecer o setor da empresa e seus produtos. Avaliar possíveis riscos regulatórios e jurídicos. Sem falar nos aspectos políticos e macroeconômicos todos de difícil quantificação numérica.
Não basta copiar a estratégia, e as empresas investidas dos grandes investidores. É preciso saber se estas empresas fazem sentido no contexto atual, na cotação atual, ou se mesmo há outras oportunidades melhores no mercado.
O pequeno investidor ‘passivo’ acaba estando sujeito a enormes riscos na estratégia de simplesmente copiar os grandes investidores.