Etanol: Usinas acendem alerta e miram exportações em meio à incertezas e açúcar ‘salgado’
A produção de etanol nas usinas brasileiras tem caído de forma considerável nos últimos dias, e o principal fator para o recuo se deve a safra de cana-de-açúcar no Centro-Sul.
De acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), a moagem de cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil totalizou 43 milhões de toneladas na segunda quinzena de junho, alta de 2,2% na comparação com o volume processado em igual período do ciclo passado.
Assim, a produção de açúcar na segunda quinzena de junho totalizou 2,7 milhões de toneladas, crescimento de 7,5% quando comparado ao volume registrado na safra 22/23 de 2,51 milhões de toneladas.
Por outro lado, quando olhamos para o biocombustível, a entidade informou que o volume na segunda metade de junho foi de 1,9 bilhão de litros, queda de 5,6% em relação ao mesmo período de 2022.
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Preços do etanol e do açúcar
Desde 1º de janeiro de 2023, o preços do açúcar no mercado internacional acumulam altas acima de 21%, enquanto no acumulado anual, desde até 6 de janeiro até 7 de julho, o indicador do etanol hidratado do Cepea/Esalq conta com uma desvalorização na casa de 20,27%, passando de R$ 2,8092 por litro para R$ 2,2398 por litro.
Mesmo com um mix açucareiro acumulado em 47,7% na segunda quinta de junho, o maior volume de cana continua aumentando a oferta de etanol hidratado – que teve crescimento quinzenal de 3,6%.
Apenas na semana passada, o indicador semanal do hidratado do Cepea reportou queda de 11%, e nesta semana, o mercado tem visto novas quedas.
Análise do mercado para as Usinas
Para entender os fatores que impactam os usineiros, o Agro Times conversou com Marcelo Di Bonifácio, analista de açúcar e etanol na StoneX.
“As usinas que só produzem etanol não tiverem nenhum tipo de proteção, diversificação na produção, vão vender os em patamares mais baratos e perder margem de lucro. O cenário não é de preços abaixo dos custos de produção, mas a receita está mais próxima da margem. Esse é um fato consumado, se ela (usina) não tem proteção contra essas quedas, ela vai apresentar perdas no mercado interno”, explica.
Na visão de Di Bonifácio, a exportação pode ser um caminho para uma melhor rentabilidade, “já que em alguns momentos esse preço pode estar muito baixo no mercado interno e mais atrativo para exportação, o que foi uma alternativa na safra passada e pode ser uma alternativa no atual ciclo, ainda que seja algo incerto”.
De acordo com o analista da StoneX, essa incerteza parte por conta da entrada da nova safra no mercado, o que resulta nessa tendência de queda nos preços.
No entanto, o grande ponto de atenção fica para as usinas que produzem açúcar e etanol, já que o açúcar “paga a conta” dessa baixa do etanol, com essas indústrias optando por um maior mix de produção voltado ao açúcar.
“Em resumo, a usina produtora de etanol está perdendo lucro. Assim, as destilarias terão de ceder e optar por exportar esse etanol ou estocar esse volume para buscar melhores preços à frente. Com a entrada de uma maior oferta pela nova safra, dos dois derivados da cana, a tendência é de que os preços se mantenham em tom mais baixista no curto prazo, o que deve manter o cenário descrito”, analisa.